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quarta-feira, 1 de outubro de 2014



Uniforme de enfermeira (?)/médica (?) ao serviço dos hospitais e enfermarias da marinha dos USA na Grande Guerra
Acervo do Metropolitan Museum (Nova York), conjunto feminino em lã, 1918
Conjunto de inverno, constituído por sobretudo preto comprido, saia talar e capote forrado de tecido bordeaux, possivelmente de enfermeira ou auxiliar idosa, mantendo ainda as bainhas com o comprimento anterior ao início da Grande Guerra.

Tripulação de submarino francês, inícios do século XX, sendo visível o uniforme de fuzileiro com as calças, blusa e boina. Imagem extraída de "Les sous-marins", http://historic-marine-france.com/cartepostales/sous-marins.htm


Boinas de trabalho de marujo/fusileiro da marinha francesa, sendo a mais antiga da década de 1850 (1858)
Calote em pano de lã azul ferrete assente em corpo cilíndrico ornado de galão vermelho. Borla de fios de lã azuis e vermelhos. Nas versões ulteriores, a borla passou a ser unicamente vermelha.  

Gorra das estudantes da Universidade de Oxford
tecido preto de lã, semimole, com quatro cantos e rebuço levantado. Morfologia revivalista neo-renascentista (criada nos inícios do século XX), tomando como modelo a gorra ou boné dos humanistas europeus do Renascimento (1.ª metade do século XVI), presente com ligeiras variantes nos retratos de Damião de Goes, Erasmo de Roterdão, Martinho Lutero, entre outros. Dieter Philippi comprou em Oxford um exemplar em seda rosa que consta do seu catálogo de chapelaria religiosa e académica. Uma variante deste mesmo modelo ainda continua a ser usada pelos prelados da Cantuária (Canterbury Cap).

domingo, 28 de setembro de 2014

Um projeto de traje para os estudantes de Lisboa e do Porto (1895)

Os sucessivos governos da monarquia constitucional procederam à criação de escolas públicas laicas para a formação de estudantes do ensino primário, médio e superior, de que foram exemplo as escolas normais, os liceus, os institutos de comércio, indústria, agronomia e veterinária, as escolas politécnicas (matemática, engenharia, química), as escolas de medicina e ainda o curso superior de letras.
No início, e durante décadas, estas escolas foram exclusivamente masculinas em matéria de alunos matriculados e de membros do corpo docente. Todas elas emitiam diplomas e certificados, mas não conferiam graus académicos. Excluindo as escolas politécnicas, onde os alunos militares usavam os uniformes da sua classe, sendo para todos os efeitos equiparados à categoria de traje académico, em todas as demais situações conhecidas os alunos e os docentes não usavam qualquer uniforme oficialmente aprovado pelo governo ou pelos órgãos de administração escolar. Era excepção à regra o estatuto conferido às escolas portuguesas de agricultura, estabelecimentos de ensino médio, dotados de internato, cujos alunos eram obrigados a ter enxoval constituído pelo menos por duas fardas, a farda n.º 1 e a farda n.º 2, sendo a primeira de gala e a segunda de trabalho nos campos agrícolas, estábulos, oficinas e máquinas.
As escolas públicas portuguesas de ensino primário, médio e superior distinguiam-se assim de estabelecimentos de ensino de natureza e missão semelhante em funcionamento no Brasil, Argentina, USA, Grã-Bretanha e França, onde existiam uniformes escolares aprovados. Estes uniformes traduziam com frequência influências da uniformologia militar masculina, com figurinos à marujo e à cadete, que também eram replicados nas casas de correção e detenção, nas librés dos funcionários dos hotéis, comboios e transatlânticos de luxo.
Na segunda metade do século XIX assiste-se em Portugal a um movimento apostado na procura de uniformes académicos destinados a suportar processos de construção de identidade e a reforçar uma imagem pública de credibilidade. Diretores de escolas, reitores de liceus, grupos de estudantes, representantes dos pais, namoram a indumentária dos estudantes da Universidade de Coimbra, conhecida por capa e batina. Um processo de procura no mínimo curioso, se atendermos a que no mesmo ciclo político os estudantes da Universidade de Coimbra não estimavam o seu traje de porte obrigatório e travavam ferozes campanhas em prol da sua abolição.
O governo central, por intermédio do Ministério do Reino, que então tutelava a pasta do ensino público, foi respondendo caso a caso aos pedidos escritos assinados por comissões de alunos dos liceus metropolitanos e insulares. Na maioria das situações conhecidas, o titular da pasta despachou favoravelmente os pedidos de autorização da capa e batina de modelo conimbricense, atitude que confirma que o governo central não tinha a menor intenção de abolir o porte obrigatório da capa e batina na Universidade de Coimbra. 
Mas quando chegou a vez de analisar e despachar os pedidos das escolas médias e superiores de Lisboa e do Porto, o Ministério do Reino parece ter hesitado. É pelo menos o que se infere da leitura de uma curta notícia publicada em tom sarcástico pelo jornal republicano O Defensor do Povo n.º 3, de 9 de maio de 1895. Nesse ano, ou talvez ainda em 1894, alunos dos liceus e das politécnicas de Lisboa e do Porto enviaram requerimentos ao ministro a solicitar autorização para o uso da capa e batina, numa altura em que se assistia um pouco por todas as capitais de distrito à febre de constituição de tunas estudantis.
O ministro encarregou Luciano Cordeiro de estudar a questão. A resposta de Luciano Cordeiro foi no sentido da criação de uma farda escolar conforme com os regulamentos dos colégios e escolas de ensino médio dos países ocidentais:

-calças compridas azuis (não se indica o tecido, possivelmente lã);
-"blusa" masculina azul, não se precisando se seria a camisa de ganga já em uso nas escolas de agricultura, se a blusa de marujo com cabeção e lenço ao pescoço (se atendermos à enunciação das restantes peças, verificarmos que se tratava de um traje à marujinho/costume marin, pelo que a "blusa" seria uma replicação das blusas dos fusileiros);
-capote azul, cortado um pouco abaixo da cintura;
-boina azul com borla (tipo pompom) na cor a aprovar para cada escola ou curso;
-cinto de couro com as armas nacionais gravadas na fivela.
Não consta que esta farda tenha chegado a ser aprovada oficialmente e não era este seguramente o traje que os estudantes de Lisboa e do Porto pediam ao ministro.