terça-feira, 8 de abril de 2014

Falsificações da história em "Conheça a cidade de Coimbra" (2013)
https://www.youtube.com/watch?v=-gBqFWAjMJ0, neste vídeo Cláudia Tenório conduz uma reportagem sobre os patrimónios em uso na cidade de Coimbra (monumentos, gastronomia) e tradições académicas refuncionalizadas após a revolução de 1974.
Concretamente sobre a indumentária dos estudantes, Cláudia Tenório regista o depoimento de um estudante que tagarela alegremente disparates sobre a chamada "capa e batina". Confesso que fiquei na dúvida, será que se trata de um daqueles discursos rocambolescos que se davam a fazer aos caloiros em cima de um banco? Vamos anotar apenas os erros mais grosseiros:
-que a "batina" masculina vem do «jaquetão». Vem da vestia masculina finiseiscentista, cuja evolução morfológica passou pela sobrecasaca;
-que os caloiros só começam a trajar esta indumentária na serenata das festas dos estudantes de início do ano letivo (Festa das Latas e Imposição de Insígnias) e que a capa é traçada por um padrinho/madrinha. Olhe que não, olhe que não!
1) o traje académico é permitido por lei aos alunos dos estabelecimentos de ensino secundário, nível que antecede o ensino superior, diploma de 1924 que não está revogado; 2) o direito ao uso do traje académico na UC produz efeitos desde o momento em que se efetua a primeira matrícula, ficando ao critério do matriculado a decisão do uso ou não uso; 3) existem várias formas de se traçar uma capa [incluindo algumas que este jovem não conhece e que eu também não vou explicar] e todas elas dependem de única e exclusiva opção pessoal do proprietário do traje, que traça como gosta e quer e sem qualquer sujeição a prazos controlados por "padrinhos/madrinhas", estando apenas limitado pela observância das normas protocolares em eventos civis, militares e religiosos (ou seja, nas cerimónias não se traçam capas). O disparate não paga imposto mas mesmo em democracia tem limites!

2 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Boa tarde,

Por acaso traço a capa de uma maneira muito própria inspirado num antigo estudante. Pego na ponta direita e coloco-a simplesmente sobre o ombro esquerdo e pronto..é rápido, não cai e nem sequer dá trabalho de a traçar. Vejo colegas meus que colocam primeiro a ponta esquerda sobre o ombro direito e depois a ponta direita sobre o ombro esquerdo.. eu também fazia assim, mas dá imenso trabalho, e por vezes é necessário alguém ajudar. Vi uma foto julgo de 1930, um estudante com a capa traçada dessa forma e agora quando está frio, ou estou na Serenata Monumental só a traço dessa forma.. Mas pronto, por vezes recebo críticas por a usar dessa forma.. Agora a questão é: eu estou a fazer algum crime à tradição académica? Visto que estou a usar uma capa da mesma forma que um estudante de à 80 anos atrás?

5 de junho de 2014 às 07:19  
Blogger Virtual Memories disse...

O meu texto supra já responde à sua questão. Fora dos momentos protocolares [para os quais há procedimentos estritos] assiste inteira liberdade de lançar/traçar/terciar a capa. Evidentemente que o resultado estético depende do gosto do portador, do tipo de corpo e do padrão textil. Para mim as melhores capas são as de tecido de verão. Já se sabe que quanto mais a casa de confecção rouba ao pano ou corta mal as costuras, pior será o vestir. Quanto aos rumores sociais, até o António Nobre foi criticado porque usava gorro muito comprido, porque metia lenço ao pescoço. Ou se tem estofo ou não se tem estofo para estas coisas. Há quem se faça se esquecido ou de desentendido, mas eu lembro que as tradições académicas também tinham a sua faceta burlesca, subversiva e de crítica social.
AMN

5 de junho de 2014 às 09:13  

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