Virtual Memories

sábado, 1 de junho de 2013

A cada canto, seu Espírito Santo: viagem por onde tudo começou

Ornamentação no largo do Espírito Santo
Registo fotográfico da função do Espírito Santo de Alenquer (19.5.2013) retomada em 2007 após décadas de interregno. A festa, dinamizada pela Santa Casa da Misericórdia, enuncia sinais de pública radicação expressiva na comunidade local.

A capela e casa

Serviço de distribuição de sopa de cozido pelos irmãos da Santa Casa. Entre os ingredientes, carne, couve, chouriço, macarrão, cenoura. Acompanha com pão de trigo e vinho tinto. Paladar magnífico.

Carrinha da Santa Casa com os panelões do bodo

Estandarte

Estoque

Coroa

À porta da capela do Espírito Santo após a entrada do séquito imperial

Prédica e benção episcopal no largo do Espírito Santo

Saída do pálio, seguindo-se as autoridades convidadas e a banda filarmónica

Santa Casa da Misericórdia, seguindo-se os dignitários da coroa com as insígnias: imperatriz com coroa, condestável do estoque e alferes da bandeira

Irmandade dos Passos

A cabeça da procissão

Grupo de gaiteiros na abertura do cortejo imperial

Escuteiros com sacos de peditório. Reconstituição. No império de Colares/Sintra ainda existem exemplares dos antigos sacos de esmolar que eram parte integrante do enxoval do imperador em exercício.

Banda filarmónica no adro de S. Francisco aguarda a saída da procissão, incorporando-se atrás do pálio.

Pendão processional agaloado a ouro, com a coroa imperial pintada, disposto no coro baixo da igreja de S. Francisco, por junto com a cruz, o pálio e as lanternas.

Fachadas da Junta de Freguesia de St. Estevão e da Santa Casa da Misericórdia. Múltiplos sinais de adesão à festa e da sua progressiva incorporação no imaginário expressivo.

Domingo, 19 de maio de 2013: no íngreme lanço entre a casa do Espírito Santo e a velha calçada, vista do edifício dos paços do concelho engalanado com colchas de damasco vermelho.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Estudantes finalistas da Escola do Magistério Primário de Benguela Luís Gomes Sambo (Angola), ano letivo de 1972-1973
Esta fotografia foi publicada pela Prof. Conceição Coelho no blogue Coruja Vidas e Recordações, http://corujavidas.blogspot.pt/, que nos ajudou a contextualizar a informação visual e autorizou a respetiva republicação.
À semelhança da maior parte das escolas de formação de professores do ensino primário, a Escola Luís Sambo também promovia a sua festa de encerramento do ano letivo. Um dos números do programa era o baile das finalistas que compareciam em vestido de cerimónia e ostentavam uma pasta de couro preto ornamentada com longas fitas de seda em verde e branco. Estas fitas tinham diferentes larguras, sendo as de maior dimensão reservadas às madrinhas das finalistas. Nas restantes autografavam dedicatórias os familiares, os colegas, os amigos e os noivos. Nelas se pintavam-se símbolos alusivos ao ensino/educação. Desde a Semana de Receção ao Caloiro até à Festa das Finalistas as alunas usavam ao peito um grelo verde e branco oferecido e imposto cerimoniaticamente por uma madrinha. Este grelo era usado com bata branca. Em algumas escolas de magistério primário, o baile de gala era ajantarado.
Contamos proximamente recolher e divulgar mais informação e documentos sobre as tradições das antigas escolas de magistério primário.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Imagem e identidade das escolas do magistério primário (1962-1963)

EMPAveiro (1): atuação do Orfeão [feminino?] da Escola do Magistério Primário de Aveiro/Portugal, 1962
Bata branca e grelo bicolor ao peito (verde e branco).
A ostentação de fitas multicolores na cabeça, nos ombros, peito, braços, varas e bastões, é comum aos povos de diversos continentes, culturas, credos e orientações políticas. Cores postas em janelas, varandas, arcos, penteados, significam festa e alegria. A cor está umbilicalmente associada a cortejos, procissões, danças e ritos de vida e de morte. Os estudantes dos diferentes graus de ensino médio e superior de Portugal, Espanha, Itália, França, Suécia, Finlândia, Noruega, Alemanha, Áustria, costumam exibir fitas de seda e de cetim em bonés, cartolas, gorras, capas e pastas. Os tunos ibéricos e os goliardos italianos enchem de fitas as suas capas, mantos, gorras e instrumentos musicais. Até ao século XVIII era muito frequente prender longas fitas em capelas florais, mitras e ornamentos de cabeça destinados a exibição em cortejos burlescos, procissões religiosas e danças rituais. Tenha-se presente, a tiara papal e a mitra episcopal tinham duas fitas pendentes pelas costas. Nas festas populares do Espírito Santo realizadas nos Açores e no Brasil os dignitários colocavam fitas em varas e ao peito. Em França, os membros das guildas de artes e ofícios usavam bastão (cana) e fitas presas nos chapéus e nas abas dos casacos. Olha-se para gravuras de compagons das guildas francesas de artes manuais e a primeira sensação que se experimenta é que fazem lembrar os estudantes da Universidade de Coimbra com os seus grelos, fitas, cartolas e bengalas.
Lá terão as suas razões os antropólogos quando escrevem que todas as festas são parecidas e todas as festas são diferentes.

EMPAveiro (2): alunas da Escola do Magistério Primário de Aveiro/Portugal numa récita, 1963
As estudantes vestem bata branca e ostentam ao peito uma fita presa com um alfinete conhecida por grelo (nalgumas escolas, "grelinho").
O uso do grelo generalizou-se em escolas do magistério primário de Portugal e de Angola na década de 1950. O grelo era oferecido por uma madrinha que no primeiro dia de aulas o fixava na bata da sua afilhada com um alfinete. Este distintivo, que tanto aparece preso no lado esquerdo como no lado direito, era usado diariamente ao longo dos três anos do curso. Tirava-se na festa dos finalistas, sendo então substituído pelas fitas.
Observações:
-até ao momento ainda não sinalizamos vestígios de património simbólico académico nas escolas normais que antecederam as escolas do magistério;
-os diretores destas escolas aprovaram a realização de festas e de rituais cuidadosamente supervisionados e enquadrados pela moral vigente;
-as tradições das escolas de magistério primário continuaram a realizar-se até 1989 em alguns estabelecimentos. Com a transformação destas instituições em escolas superiores de educação ocorreu um corte interno com o património herdado, tendo os novos matriculados intentado uma aproximação às tradições dos estudantes das universidades de Coimbra e do Porto. A falta de visibilidade mediática deste património e a ausência de estudos no campo das ciências da educação fizeram crer erradamente que estaríamos perante um campo desinteressante ou vazio de referentes.

EMPAveiro  (3): fotografia de curso, finalistas da Escola do Magistério Primário de Aveiro com o bispo D. Manuel Trindade no final da missa de benção das pastas, Aveiro, maio de 1963.
Finalistas com traje civil de cerimónia e pastas com longas fitas de seda. Não é percetível a cor das fitas (verde e branco, mesma cor usada pelos estudantes da Escola Agrária de Coimbra). As fitas apresentam nas extremidades distintivos pintados (?) com motivos alusivos ao ensino. Sabe-se que estas fitas eram dadas a assinar a familiares, amigos e noivos.
Os processos simbólicos de construção da identidade nas escolas de formação de professores do ensino primário/1.º ciclo só recentemente começaram a ser abordados pelas Ciências da Educação. Foi o caso da Prof. Maria José Mogarro que desenvolveu um amplo estudo sobre a Escola do Magistério Primário de Portalegre/Portugal (A formação de professores no Portugal contemporâneo. A Escola do Magistério Primário de Portalegre). Veja-se um resumo no artigo «Comemorações, rituais e quotidianos na formação de professores» (1959-1989)», in Revista Lusófona de Educação, n.º 12, 2008, pp. 139-154, http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/. De acordo com o levantamento feito por esta investigadora, nos finais da década de 1950 a EMPortalegre aprovou oficialmente um programa bastante completo de gestão do calendário escolar que incluía Receção aos Caloiros e Festa dos Finalistas. A Festa dos Finalistas integrava récita cultural, jantar, baile, livro de curso e benção das pastas. Percebe-se ao primeiro olhar que o modelo festivo configura uma replicação da Queima das Fitas dos estudantes da Universidade de Coimbra.
De acordo com a escassa informação obtida:

-as festas e rituais realizados nas escolas do Magistério Primário generalizaram-se em Portugal continental e em Angola na década de 1950;
-os programas celebrativos de abertura e de encerramento do ano escolar integravam elementos originais e elementos transformados a partir das tradições dos estudantes da Universidade de Coimbra;
-os eventos festivos e os rituais não eram espontaneamente promovidos pelos estudantes, dependendo de apreciação e aprovação do diretor de cada escola;
-as tradições académicas das escolas de magistério primário subsistem hoje em dia em práticas adoptadas por estudantes do ensino superior de Lisboa, nomeadamente proliferação de cores, número de fitas com diferentes significados/proveniências e distintivos pintados ou gravados.

Fonte: fotografias disponíveis no sítio MEMÓRIA DE AVEIRO, http://www.prof2000.pt/