Nesta rememoração catam-se memórias pessoais e familiares
sobre o culto do Divino Espírito Santo. Não se diz tudo. Apenas o que a memória reteve e alguns aportamentos familiares trouxeram.
Modo de escolha do novo imperador: estando à mesa do banquete todos
os irmãos que davam pão doce, e que estavam apurados em lista, metiam-se uns
pelouros de papel num saco de peditório ou num chapéu. O pelouro imperial cabia ao irmão que tirasse
o bilhete com a coroa carimbada. As despesas do império para o ano seguinte eram
por conta da tesouraria da irmandade, ao contrário de outras comunidades onde
assumiam os encargos as câmaras municipais (império de Eiras, nos arredores de
Coimbra, império dos nobres na cidade da Horta) e as santas casas de
misericórdia (Alenquer e outras). Todos os demais pelouros estavam em branco. Este era o
processo tradicional, conhecido e relatado oralmente. Na ilha Terceira estiveram em uso urnas de sorteios idênticas às utilizadas nos tribunais de Portugal e do Brasil para sortear os processos judiciais pelos magistrados. Não me lembro de ter visto este tipo de urnas. No século XX, os
emigrantes devotos começaram a cumprir promessas, situação que veio tirar as
irmandades açorianas de aflições financeiras. Quando o imperador é de promessa
devota, cabe-lhe assumir a totalidade das despesas com a função.
Hoje em dia há duas
formas de se levantar um imperador, por sorteio e por promessa. Anteriormente ao século XVIII empregou-se ainda um outro modo de apurar o imperador, por arrematação pública. Esta variante, promovida por certas câmaras municipais e santas casas de misericórdia consistia em fazer juntar os irmãos e devotos e arrematar a coroa em leilão público. A arrematação era feita por um pregoeiro de vara alta que depois apregoava o nome do imperador novo à porta da santa casa/câmara municipal, de tudo se lavrando competente auto. Não é imperatriz a
mulher convidada pela casa do imperador em exercício que no cortejo se veste de
rainha, à americana, e leva a coroa. A sua categoria é a de figurante, embora
se lhe confira uma posição de destaque que, bem vistas as coisas, ofusca o
verdadeiro imperador e suplanta em tudo a função dos pajens dos antigos
impérios de Eiras, de Alenquer e do Penedo (Colares/Sintra).
Quando se fazia a mudança da coroa: habitualmente no domingo que
precedia o dia da coroação, caindo esta em algumas terras ao domingo e noutras
às terças. Por volta das 18.00h lançava-se um foguete para chamar os irmãos e
devotos à casa do Espírito Santo. As casas do Espírito Santo variavam muito de
terra para terra. Havia-as em pedra, de boa alvenaria, telhadas, com alpendre e
ucharia anexas, caso de Alenquer e seu termo. Até ao século XIX a maior parte das povoações
açorianas não tinha ermida/capela, pelo que as insígnias ficavam de ano para
ano na casa de um dos irmãos. No dia da festa eram levadas à igreja e expostas
numa ramada, uma espécie de quiosque de madeira engalanado onde se armavam a
credência para as insígnias e o baldaquino do imperador. As ripas e vigas da ramada
guardavam-se em casas de particulares e o irmão a quem competia montar e
desmontar a ramada era o armador, que podia ser ajudado por um tapeceiro e por
um reposteiro.
Voltemos à mudança. O novo
imperador e o seu séquito faziam o saimento, com as insígnias, pela ordem
prescrita, indo na frente o fogueiro e os foliões, depois o alferes do
estandarte, até se chegar ao imperador. Este cortejo não metia padre nem sinos.
Chegados à casa do imperador eleito eram solemente recebidos na porta principal, entravam todos para a sala de fora que
estava de portas abertas, pátios engalanados, com um trono de degraus armado numa
das paredes, nele se entronizando as insígnias. Ao lado do trono, as cadeiras
próprias para o imperador, sua esposa e convidados ilustres. Sentavam-se sempre as senhoras nas cadeiras disponíveis, ficando os homens de pé ou acocorados, excepto o imperador. Em torno da sala, cadeiras e mochos de quatro pernas. Acendiam-se as velas e iniciava-se a
primeira novena de terço cantado à capela. Havia cânticos em latim enrolado,
como a Gloria Patria, outros polvilhados de glissandos, e outros de invocação
de protecção contra os tremores de terra. Em Alenquer, em Eiras e em Guimarães
as preces visavam suster a peste, nomeadamente através da procissão das
madeixas de cera que cercava as localidades com um cordão sanitário de fé. Na
última novena, a esposa do imperador mandava distribuir biscoitos caseiros, figos secos e licores aos
presentes.
Apuramento dos irmãos que davam pão: no último domingo do ciclo
pascal a irmandade mandava os irmãos vereadores correr todas as casas com o tesoureiro. Chamava-se à porta,
perguntava-se quem daria pão para o bodo. Fazia-se o registo dos doadores numa lista. Cada uma
das casas que dava pão tinha direito a enviar um comensal ao banquete do
imperador no dia da função.
Do pão que se dava: cozia-se em casa e ofertava-se pão doce para o
bodo. Este podia ter a forma de um grande pão, ovalado, de uma rosquilha ou de
uma bola/fogaça. O número de pães/rosquilhas variava conforme o número de fogos
ofertantes e chamava-se conta. Numa povoação com cerca de 400 habitantes seriam necessárias duas
dúzias por fogo. Num lugar com cerca de 300 habitantes, o número podia aumentar
para três dúzias e meia. Três dúzias e meia por casa obrigava a armar um
açafate de vimes muito alto e pesado. Eram levados à cabeça por mulheres e
segundo consta todos chegavam ao arraial sem incidentes.
Armar um açafate: para se armar um açafate de três dúzias e meia de
rosquilhas doces, era necessário começar a guardar ovos, limões, farinha de
trigo e açúcar com meses de antecedência. Um açafate levava quatro alguidares
grandes de massa. Fazia-se um alguidar grande de barro com uma dúzia a uma
dúzia e meia de ovos. Abriam-se os ovos, batiam-se com as mãos no fundo do
alguidar, juntava-se açúcar, raspa de limão, as rações de farinha (já pesada
para cada um dos quatro alguidares), o fermento e a manteiga derretida.
Besuntavam-se as mãos em manteiga para a massa não agarrar. Amassava-se
demoradamente com os punhos fechados. Depois de massa estar bem empolada,
estado que se podia verificar através de um corte de faca, puxavam-se folhas
quatro vezes. Fechavam-se então as folhas, fazia-se uma cruz com o bordo da mão
direita e deitava-se a reza “São Mamede te levede, São Vicente te acrescente”.
Ficavam os alguidares a levedar, abafados com panos brancos, pelo tempo
necessário. O amasso e a cozedura levavam dias. Começava-se na semana anterior
e terminava-se na véspera da função. Por conveniência e economia de meios, as
famílias e os vizinhos partilhavam a mesma cozinha e o mesmo forno, dando uns a
lenha, outros ajudando na violenta tarefa de amassar, outros ajudando a tomar
conta das crianças. Amassar, não era tarefa nem masculina nem feminina. Era de quem
tinha músculos e punhos. Quem apalavrava um amassador tinha que lhe dar vinho,
licores, comida e cadeira.
Pronto o primeiro alguidar de massa, e
estando o forno preparado, começavam a talhar-se os piões ou bolas de massa. Os
piões destinados a rosquilhas eram perfurados com o indicador ("fincar o pião"), virando-se a
bola em sentido contrário sobre uma mesa ou sobre um tabuleiro polvilhado de
farinha. Alargavam-se os buracos até atingirem o tamanho convencional e
metia-se a massa a crescer abafada com um lençol alvo que deveria estar
polvilhado com farinha fina. Começava então o enfornamento. Cada rosquilha era tendida
sobre a pá e com uma tesoura bem afiada cortava-se um círculo a toda a volta. O
pão cozia em forno tapado. A forneira ia abrindo a porta e espreitava para
verificar o andamento da cozedura. As rosquilhas/pão estavam prontas quando
apresentavam cara rosada. Tiravam-se do forno, untavam-se logo com manteiga
mole embebida num paninho e eram metidas a arrefecer num estendal. O estendal armava-se no chão de um
dos quartos da casa, com lençóis e toalhões estendidos sobre o sobrado. Enquanto
quentes, as rosquilhas não se podiam empilhar. Cheiravam bem e sabiam ainda
melhor.
O desenfornamento era sempre um
momento comunitário de celebração e prova do pão doce. Terminada a cozedura e
arrefecido o pão, verificava-se o estado de limpeza e robustez dos açafates de
vime. Estes eram armados por camadas, dispondo-se os pães em círculos, na
vertical. Os círculos estreitavam da base para o topo, ganhando o aspeto de uma
mastaba. Cada círculo era cintado com arreatas de algodão branco. Por último,
enfeitavam-se os pães com cravos e botões de rosa. Em Tomar, a armação do
tabuleiro parece mais fácil pois usam-se varas verticais de sustentação (apesar dos antigos serem torsos ou salomónicos).
O processo de cozedura descrito
dizia respeito apenas ao pão que cada família ofertava ao bodo. Competia ao
imperador mandar cozer todo o pão de trigo e doce necessário ao provimento da
copa, serviço de mesa e distribuição de certas pensões. Os pães brancos
usavam-se na confecção das sopas, para alimento dos copeiros e serviço de mesa
do matador do gado e seus ajudantes. Os pães doces, de variados tamanhos, também
conhecidos por massa sovada, eram servidos à mesa do banquete imperial, nos
brindes aos foliões, no pagamento de algumas pensões ou soldadas mortas a que
estava obrigado o imperador (padre, foliões, fogueiro, armador, copeiro, mestre
capela que cantava o terço, pregoeiro, trinchante, mestre-sala, banda) e nas arrematações do arraial.
Tinha mais porções de açúcar e de ovos.
Matança do gado: nas comunidades rurais a própria irmandade tratava
com criadores o negócio da engorda de bezerros e bois para o banquete e para as
pensões. Na antevéspera ou na véspera da festa, a folia ia buscar o matador e
seus ajudantes e dirigiam-se todos aos terrenos onde pastavam os bois do
Espírito Santo. Na crença popular estes eram rezes sagradas, não podendo ser
molestadas nem roubadas. Acreditava-se que conseguiam resistir ao fogo dos
vulcões. Na ilha Terceira enfeitava-se o gado com flores e fitas garridas. No
trajeto até ao local do abate cantavam os foliões. Na ilha Terceira havia mesmo
uma moda apropriada, o Pezinho dos Bezerros, que se entoava no meio do
chocalhar do gado. Caso os transeuntes passassem junto da casa dos criadores
eram obrigatório deitar cantigas e brindar com comes e bebes.
O abate eram conduzido segundo determinado ritual. Levam-se a coroa e o cetro para o local, entronizando-os em peanha, pedra lisa ou nicho. O matador tocava o lombo dos animais com o cetro. Os foliões não cantavam, limitando-se a rufar o tambor, talqualmente se fazia na execução da sentença de morte. Logo após o abate do primeiro touro, ou no fim de tudo, as insígnias voltavam à casa do Espírito Santo. As carnes eram
suspensas e postas a arrefecer num açougue improvisado. Fazia-se o jantar dos matadores com molha de
carne na caçarola (caçoila), fígados e vinho, fatias de massa sovada. Desmanchavam-se as carnes, salgando o que
era de salgar e repartindo as rações destinadas a pensões a pobres, soldadas e
banquete.
Na copa: a copa era o edifício, pátio ou alpendre onde a equipa
liderada pelo copeiro-mor preparava, confeccionava, provava e mandava seguir
para a mesa do imperador as iguarias do banquete. Podia ser integralmente
masculina, ou liderada por mulheres experientes. O serviço de cozinha
dividia-se em copa e ucharia. A ucharia era a despensa onde eram previamente
colocadas as guarnições de sal, banha, azeite, alhos, cebolas, couves, frutas,
pão, vinho, água potável, malagueta, pimenta da Jamaica, louro fino, hortelã,
canela, calda de tomate, arroz doce, pão doce, frutas da época. Na copa estavam
as trempes, os caldeirões de ferro e cobre, colheres, escoadouros, achas de
lenha bem seca, alguidares e todo o trem de servir à mesa. Nas antigas copas a céu aberto os caldeirões eram colocados sobre dois blocos de pedra que serviam de trempes.
A distribuição das tarefas seguia
de perto os cargos existentes na casa real. Pelas quatro horas da madrugada era
lançado o foguete de convocação à copa. Acendia-se o fogo, verificava-se a
limpeza do potedo, despejavam-se as porções de água por igual. Começava a
descasca das cebolas e dos alhos, metendo-se em cima da mesa de trabalho os
restantes temperos. Faziam-se bonecas de pano de linho com a malagueta, a Jamaica,
o louro e o alho, que eram mergulhadas nos potes. Metiam-se as folhas de couve
em enorme quantidade e ficavam os potes a ferver durante horas para apurar o
caldo. Juntavam-se as carnes, muito bem lavadas e o tomate. O imperador saia com o séquito
para a missa da coroação por volta das onze horas da manhã, sabendo o
copeiro-mor do saimento pelo lançamento do foguete. Se a coroa saía às onze,
voltaria ao império às treze. Iam-se provando as carnes e os caldos de cada
pote e rectificando os temperos. Se necessário acrescentavam-se mais couves que
estavam na ucharia em enorme quantidade de feixes.
No levantar a Deus, durante a
missa da coroação, repicavam os sinos e lançavam-se foguetes. O copeiro-mor ou
a copeira, conforme os casos, acabavam de ser avisados por este processo que
era tempo de começar a preparar as terrinas e alguidares de ir à mesa. Primeiro
metiam-se os quartos de pão de trigo nos alguidares e nas terrinas, com o lado
do corte voltado para cima. A disposição era feita por camadas, cada fatia levava por cima uma folha de hortelã. Tinha que ser pão de trigo alvo de boa consistência para não se desfazer no caldo. Por último lançava-se o caldo filtrado sobre as sopas com a ajuda de um passador. Ajeitava-se o recipiente e abafava-se com mantas. Voltava-se ao
panelão e baldeavam-se as carnes para cima de um estrado de madeira, que podia ser uma francela de queijo. A carne ficava a escorrer. Depois era partida com
facas bem afiadas e armavam-se os alguidares e terrinas de ir à mesa. As terrinas da carne não se misturavam com as das sopas. À medida que ficavam prontos os alguidarinhos e terrinas iam sendo
abafados com papel e mantas. Finalmente estava a copa pronta para servir. Nos
tempos em que a copa era separada da casa de jantar, os pratos, os vinhos e os
pães de massa sovada eram levados à mesa sempre com a folia a tocar e a dançar. Os próprios
servidores da mesa acabavam por imitar a folia e faziam gingagojas e passos de
dança, parecendo que por vezes carnes e sopas iam de rojo ao chão. Uma euforia de abundância. Depois que
se criaram os salões de festas, o antigo estilo de serviço de mesa desapareceu.
O imperador entrava na casa do banquete com certos estilos, acompanhado pela esposa imperatriz e pelos altos dignitários (irmãos de vara vermelha e branca, alferes, condestável, mestre-sala, trinchante, padre, mestre-capela, câmara municipal, santa casa, etc.) e os assentos eram
ocupados segundo determinadas precedências. Na mesa principal, a presidência cabia ao
imperador, que sentava à sua mão direita e à sua mão esquerda os dignitários e convidados. Na extremidade oposta da mesa imperial ficavam obrigatoriamente os foliões, sendo esta cabeceira a mais próxima da porta para facilitar as idas e vindas à copa e os momentos de canto e de dança feitos em pé entre os pratos. Havia oficiais da casa imperial que ficavam de pé, ladeando o imperador, para garantir a lavagem das mãos, o trinchar das iguarias e os abastecimentos. Pelo estilo tradicional armavam-se duas mesas compridas, uma para o imperador, seu séquito e convidados ilustres, a segunda para os irmãos ofertantes. Ainda conheci pelo menos duas irmandades que comiam dentro das respetivas capelas, tradição que estava em vias de extinção na passagem da década de 1960 para a de 1970. O provimento da mesa era feito com cortejo de entrada e música da
folia, cantando esta trechos apropriados a cada momento e prato. Antes de se
iniciar o repasto fazia-se uma reza colectiva. O padre fechava com um
Padre-Nosso e uma Avé-Maria. A forma de servir à mesa seguia os estilos da
corte portuguesa.
Juntar e benzer o pão do bodo: terminado o banquete imperial, por
volta das quinze horas, o imperador mandava o fogueiro lançar foguete para o
saimento do cortejo de recolha dos açafates/tabuleiros (Tomar). caminhavam na frente o
fogueiro e seus ajudantes, a folia, o alferes do estandarte, os irmãos das
varas e o imperador com o seu séquito e insígnias, indo o padre no fim.
Fora de cada casa atirava-se um foguete de saudação e agradecimento por cada
açafate de pão ofertado. Nos caminhos íngremes subia apenas o alferes com um irmão de
vara alçada, ficando o imperador em baixo a aguardar. Levantar um açafate a braços e metê-lo à cabeça de uma mulher era obra ("estás pronta, puseste a rodilha, endireita bem o pescoço, olha para a frente sem baixar a cabeça, se tiveres dores chama"). Em tempos mais recuados,
a folia deitava cantigas de agradecimento junto de cada casa ofertante, ritual
que fazia atrasar muito o cortejo da recolha. A partir de finais do século XIX
começaram a integrar os cortejos as bandas filarmónicas, sempre atrás do padre,
sendo interdito usurpar o lugar da folia ou estorvar a sua
performance.
As mulheres caminhavam em duas
alas, com os açafates de pães à cabeça. Nos casos de excesso de peso, dores ou
tonturas, eram prontamente assistidas pelos irmãos de vara. Chegado o cortejo
ao império, arriavam-se os açafates, dispondo-os em filas. Junto de cada um fica
sentada a transportadora. Vinha o padre com os ajudantes, folia na frente,
benzer o pão. Terminado o descanso, os irmãos de vara começavam a desarmar os
açafates. Desatavam as arreatas e de cada açafate tiravam um número certo que
ia sendo depositado em cestos largos e em carrinhas. Antes da década de 1970
usavam-se carros de bois engalanados para servir na distribuição dos pães e demais pensões. Se
ainda assim faltasse pão para as soldadas mortas, que são as que o imperador e
a irmandade devem aos foliões, à banda filarmónica e a outros dignitários, voltava
a tirar-se mais pares de rosquilhas aos açafates. Nenhuma mulher podia proibir
que os irmãos de vara viesse tirar mais pães nem levantar o açafate e sair do
império. Fazer tal coisa seria considerado afronta gravíssima à irmandade e
falta de respeito ao Divino Espírito Santo. Consta que em épocas mais recuadas o próprio imperador vinha de coroa na cabeça e vara alçada presidir a estes atos.
Cortejo da distribuição do bodo: cheios os carros do bodo, o imperador voltava a sair do
arraial com a sua casa civil e militar pela ordem e estilos habituais. Neste
cortejo seguiam diversos carros de bois enfeitados, repletos de pão, que
levavam adiante irmãos com cestos largos e varas. O pão era colocado nos cestos
de distribuição e empilhado nas varas, seguindo-se a distribuição por todas as
pessoas presentes no arraial e ao longo dos caminhos e terreiros. O pão partido
era entregue às crianças. Havia famílias que iam em dias diferentes a vários
impérios e recolhiam enormes quantidades de pão doce que era torrado no forno e
comido ao longo do ano.
Fechamento do império: O império podia ter arraial e arrematação de
oferendas pelo pregoeiro: pães de grandes dimensões ofertados por devotos no
âmbito do pagamento de promessas, ramos de laranjas, galos, bezerros, coelhos. Em diferentes
momentos da tarde iam à mesa comer os foliões, a banda filarmónica e visitantes
de última hora. O copeiro e seus ajudantes comiam sempre na copa, que nalguns
casos era um simples pátio em cujo recanto se armavam as trempes para o potedo
(caso do Penedo, Sintra).
Para fechar o império mandava o
imperador ao fogueiro lançar uma roca ou folia de foguetes.
AMNunes