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sexta-feira, 19 de abril de 2013

«Andador" ou homem de peditório para fins religiosos e caritativos, Lisboa. Figura masculina com opa vermelha e verde própria das irmandades e confrarias. Litografia da coleção Palhares, décadas de 1850-1860, estando as calças compridas definitivamente generalizadas nas cidades.

«Mulher da Murtosa», Portugal, litografia da casa Palhares, Lisboa, década de 1860 (?). Traje de mulher do povo comum a diversos povoados da Beira Litoral, incluindo Coimbra, Ílhavo, Aveiro, Ovar e Murtosa. Nos elementos herdados do século XVIII, destaque para o gigantesco chapéu de pompons e para o mantéu preto de pano de lã. Mantido em certas povoações rurais da Beira Litoral e do Minho até às décadas de 1870-1880, nas mulheres das vilas e cidades o mantéu foi progressivamente substituído desde meados do século XIX por capoteiras, capas e xailes. Tradicionalizados a partir da moda feminina em voga na corte de Napoleão Bonaparte, fabricaram-se xailes para todos os gostos, em cores, tecidos, estampados, bordados, de cadilhos, com enramados de seda e até uns que lembravam singelas toalhas de mesa. Xailes de merino, avistámos os últimos numa romaria em 1990.

Perguntando
«mantel ou mantéu»?, 1.4.2013

Respondendo
Em inglês mantel e até mantele. Em italiano mantello para ampla capa talar rematada na linha do pescoço por generoso capuz de pano. Em francês manteau para abafo, agasalho ou sobretudo, quer dizer, ampla veste de trazer por fora ou por cima da indumentária, pelo que pode ser capa e casacão. Em castelhano mantéu, como no português antigo, para significar a longa, ampla e trapezoidal capa que os jesuítas popularizaram, e que ainda hoje é usada pelos estudantes e lentes da Universidade de Coimbra e por alguns membros do clero católico espanhol. Os espanhóis pretendem que este tipo de mantéu seja chamado mantéu espanhol, pretensão que não se pode subscrever pois o mantéu nunca foi peça de indumentária circunscrita às fronteiras de Espanha.
Além de abafo eclesiástico, o mantéu foi também:
a) capa de grande gala usada em contextos palacianos como audiências. O modelo de maior aparato conhecido era o exibido na corte papal, em seda, nas cores das diferentes dignidades, sendo conhecido por ferraiolo. A diferença morfológica de fundo entre o ferraiolo e o mantéu que prevaleceu na Península Ibérica é que o primeiro tem amplas bandas dianteiras dobradas para fora e uma gola comprida (cabeção), enquanto que o segundo não tem bandas e apresenta em cima simples colarinho;
b) capa feminina de grande gala, de honra ou de ver-a-Deus, que as mulheres portuguesas usaram abundantemente entre finais do século XVIII e meados do século XIX, em lã preta, castanha e até azul escura. O feitio segue no essencial o do ferraiolo, com o típico corte em trapézio, as bandas dianteiras com e sem bordados e o cabeção a escorregar pelas omoplatas.
Palavras da família serão manto, abrangendo os mantos régios de aparato, vestes femininas que rematavam sobre a cabeça com bioco armado (caso do manto das mulheres da ilha Terceira, Açores) e a sobreveste de mangas falsas que se usava sobre a sotaina, quando não tinha feitio de garnacha, pelo que tinha como sinónimo chamarra.
Para confundir: na verdade existiram na Península Ibérica dois tipos de mantéus, o grande e o meio. A diferença estava na quantidade de pano que se empregava na confeção e no esquema de ligação dos panos. O meio mantéu é o agora usam os professores da Universidade de Coimbra, a que os alfaiates locais deram em subir a bainha e em roubar os panos da frente, parecendo que foi metido na máquina de secar e que encolheu.

Perguntando
«ola gostaria de saber o nome do casaco o qual os franceses usavam que possuia um corte atras situado bem no meio e cada lado terminava com pontas !! obrigada em», Vandressa dos Santos

Respondendo
Sentido 1-peça de indumentária masculina civil preta, de grande gala, usada por diplomatas, ministros de estado, prefeitos, vereadores municipais, deputados da câmara baixa. Desegnada por casaca, grande casaca, casaca de rigor. Surge após a Revolução Francesa de 1789. Apresenta corte rigidamente geometrizado, de tipo militar, os panos são lisos e não admitem bordados nem relevos. Inicialmente tinha lapelas forradas de cetim e botões forrados. É cortada pelo baixo ventre e entre o fundo da cintura e a linha posterior dos joelhos apresenta duas longas abas de pano separadas por racha central. Estas abas têm nomes engraçados: asas, abas de grilo, rabetas. Quando a casaca era usada com calções, o portador parecia mesmo um grilo ou gafanhoto pernilongo. O uso da casaca obedece a um protocolo muito rígido.
Sentido 2-farda direita ou grande uniforme, em pano de lã azul escuro ou vermelho, com um feitio quase igual ao da casaca, mas podendo comportar elementos bordados a ouro, botões metálicos armoriados e guarnições de ouro ou de prata nos colarinhos e nas bocas das mangas. É o chamado fardão (Brasil), que foi abundantemente usado por diplomatas de carreira, membros de academias de belas letras, ministros de estado e conselheiros de estado;
Sentido 3-libré, quando a casaca era confeccionada em pano de menor qualidade e vestida pelos empregados de um navio-cruzeiro, de um hotel, de um palácio ou de um restaurante chic.