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terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O Imaginário da Formatura (2007)

O imaginário da formatura. Um estudo sobre o pensamento dos formandos do curso de Direito pertencentes à classe média. Petrópolis/Rio de Janeiro: Universidade Católica de Petrópolis, 2007, constitui o texto da dissertação apresentada por Ediana Abreu Avelar para obtenção do grau de mestre em Educação sob orientação da Prof. Dra. Vera Rudge Werneck.
O trabalho académico é constituído por 108 páginas e distribui-se por 6 capítulos. No 2.º capítulo abordam-se os aspetos das formaturas contemporâneas e a sua relação com a tradição europeia de colação dos graus. No 3.º capítulo problematizam-se o imaginário humano, o conhecimento, o simbólico e a importância dos rituais. No 4.º capítulo estuda-se o formalismo brasileiro, pormenorizado e exemplificado através da cultura bacharelesca, da incorporação do mito do doutor, do seu contributo para a construção do imaginário burguês e a ascensão social. Na seção 5.ª desenvolvem-se os múltiplos sentidos da formatura na sua correlação com status social, condição de acesso a determinadas profissões e rito de passagem. Na parte final, a autora discorre sobre o valor cultural, simbólico e político atribuído às formaturas no Brasil contemporâneo. Dos autores de referência, Ediana Avelar cita Durand, Castoriadis, Bourdieu, Nóvoa e Debord para efetuar o enquadramento teórico dos sistemas simbólicos, os ritos e a apropriação de bens por determinados grupos sociais em processo de afirmação e a cultura de espetacularização.
Esta obra confirma o funcionamento de uma importante indústria de bens produzidos para consumo das escolas superiores brasileiras e a existência de empresas de organização de eventos massificados (grande auditório, estádio desportivo).
De acordo com os dados recolhidos e tratados, a formatura brasileira marca a sua distância face ao modelo abolicionista francês, aproximando-se do paradigma norte-americano. A formatura, concebida como mega-espetáculo universitário, reflete a explosão do acesso ao ensino superior após a década de 1970 e dá-se a conhecer como "produto comercial" controlado por empresas especializadas em eventos que fornecem kits de formatura e formatos inspirados nas galas cinematográficas de Hollywood. Na bibliografia, Ediana Avelar insere diversos manuais de formatura publicados pelas universidades brasileiras, os quais funcionam como autênticos códigos cerimonialísticos e confirmam a importância cultural e económica atribuída a este tipo de atos. Em Portugal, a formatura deixou de praticar-se na Universidade de Coimbra em 1910. O que existe em algumas universidades e institutos superiores politécnicos é uma cerimónia de entrega de diplomas, a que os espanhóis chamam, e bem, diplomatura pois não integra qualquer rito de colação de grau (ex: Universidade Católica Portuguesa, Universidade Nova de Lisboa, Universidade de Aveiro, Universidade Técnica de Lisboa).
Não conhecemos trabalhos académicos portugueses sobre esta temática, que tem sido considerada pelas equipas de gestores e docentes dos estabelecimentos de ensino superior português como assunto menor ou mesmo reacionário. Num ciclo de retração profunda do ensino superior público e privado, e já com a Sorbonne convertida à formatura norteamericana (quem diria?!), tudo indica que a formatura venha a ser reciclada pelas instituições mais dinâmicas como ferramenta de gestão estratégica (captação e fidelização de clientes, vantagem competitiva, afirmação da imagem corporativa e identidade).
Disponível em http://www.ucp.br/html/joomlaBR/images/mestrado/ediana%20abreu%20avelar.pdf.

Traje institucional de Ministro da Venerável Ordem Terceira de S. Francisco, da cidade do Porto, retrato a óleo exposto na sala das sessões da casa do despacho. O benfeitor e Ministro Manoel Francisco Duarte Cidade, falecido em 1875. Ausente a descrição textual e estatutária, diríamos que enverga capa talar, prescrita para as irmandades e confrarias no seguimento do Concílio de Trento, e longa sobrecasaca preta, senda esta apertada com o cordão dos franciscanos. Esta solução coloca-me algumas dúvidas para as quais não tenho explicação, dado que noutras ordens terceiras conhecidas, como é o caso da de Ovar, a capa sobrepunha-se à túnica franciscana castanha (hoje em dia caída em desuso).

Um trecho da cripta da Venerável Ordem Terceira de S. Francisco, da cidade do Porto, onde se realizaram inumações até ao século XIX, sendo apercebíveis o altar, o catafalco de madeira (serão cada vez mais raros hoje em dia os que ainda se lembram como se armava e desarmava um catafalco para as cerimónias fúnebres) e as grelhas no lajido correspondentes a sepulturas rasas. Há evidentes semelhanças entre esta cripta e a da Venerável Ordem Terceira do Carmo de Cachoeira, Brasil, a última referenciada em Maria Helena Flexor/Ana Maria Lacerda/Maria da Conceição da Costa e Silva/Maria Vidal de Negreiros Camargo na excelente obra O conjunto do Carmo de Cachoeira (Monumenta/IPHAN/Ministério da Cultura, 2007), disponível em http://portal.iphan.gov.br/files/carmocachoeira.pdf.

domingo, 13 de janeiro de 2013

O colecionador Dieter Philippi teve a amabilidade de ofertar-me o indispensável catálogo de chapelaria religiosa editado em 2009 pela casa Benno (Kopfbedeckung in Glaube). Obra monumental, com 711 páginas, dezenas de fotografias coloridas e um inventário das existências. Trata-se do primeiro acervo a reunir coberturas de cabeça de diversas manifestações religiosas à escala planetária. Nos últimos anos a coleção foi ainda enriquecida com calçado, meias, cruzes peitorais, cordões peitorais, luvas, pálios, pastas e outros adereços de enxoval. Para minha boa surpresa, Dieter Philippi juntou na mesma encomenda um filme de Nati Adler sobre «Hats of Jerusalem» e um dvd celebrativo do 50.º aniversário do colecionador (2012) onde são narradas peripécias ligadas à aquisição do primeiro espécime na Gamarelli e os esforços desenvolvidos em todos os continentes para aceder a peças destinadas à coleção.