Virtual Memories

sábado, 12 de janeiro de 2013

Uma das últimas fotografias conhecidas do antigo traje dos estudantes das universidades ibéricas, a loba fechada (com beca) que também se usou nos seminários da América Latina e de Espanha. Estudantes do Colégio de Infantes, Toledo, Espanha, 1932 (fonte: flicker; dados adicionais no link Toledo Olvidado/El Colegio de Infantes). Versão simplificada, tecido de sarja (?), a loba com a bainha ligeiramente subida.

Retrato do Dr. José Guadalupe Romero (1814-1866), geógrafo de nomeada e cónego da catedral de Morela. Hábito coral com o antigo barrete rocaille hispano-americano, com franja laureada e grande capela disposta sobre a copa conforme se usou até meados do século XIX nas universidades reais e pontifícias do México e de Lima. Existem alguns exemplares destes barretes em museus do México mas infelizmente ainda não conseguimos localizar qualquer deles.

Cortejo fúnebre do rei Filipe II de Espanha e Portugal. Exemplificação dos antigos trajes solenes de grande luto compostos por capa de cauda e capuz, de que ficou herança nas vestes dos irmãos das santas casas de misericórdia.

"Novo" traje institucional dos estudantes da Escola Superior Agrária de Coimbra

Novo traje da ES Agrária de Coimbra (1): como se dão a ver, vestidos, os modelos masculino e feminino com o chapéu e o capote (fonte: http://www.maissuperior.com/). Conforme se dá a entender na imagem n.º 2, este traje embora tenha sido aprovado recentemente é na verdade uma retoma do antigo traje de cerimónia dos estudantes da antiga Escola Agrária de Coimbra, que apenas difere no modelo de cobertura de cabeça. A cobertura atualmente adotada é o chapéu de equitação à portuguesa, enquanto que a antigo (a meu ver bem mais interessante) era um chapeirão de feltro de lavrador abastado de que existem fotografias de época.

ES Agrária de Coimbra (2): novo traje institucional dos estudantes do sexo masculino e feminino, aprovado pela associação de estudantes (?) em 2006: fato masculino de modelo fini-oitocentista constituído por 3 peças de indumentária (calças tubulares, jaleca, colete) e chapéu; modelo feminino fini-oitocentista constituído por saia comprida, jaleca e chapéu. Capote azul escuro comum aos dois modelos. Trata-se do chamado traje de equitação, traje de monta, traje de montar e, nalgumas localidades de Espanha/Portugal/México, traje de lavrador abastado. Esta proposta veio substituir um traje aprovado pelos estudantes da ESAC que esteve em uso na década de 1990, de figurino bastante simples e com escassa capacidade estética e emocional para mobilizar aderentes. Era um conjunto constituído por calças de montar, botas altas de couro e jaqueta esverdeada, jaqueta essa muito parecida com a que se usou entre as décadas de 1930-1970 nas escolas de regentes agrícolas de Santarém de Évora [ver abundantes e esclarecedoras fotos no blogue Os Amigos da Escola Agrícola de Santarém, http://os-amigos-da-escola-agricola.blogspot.pt/], sem que se tenham considerado os expressivos patrimónios vestimentários que tinham sido usado na Escola de Regentes Agrícolas de Coimbra. Nesta última escolha (2006 e ss.), a solução adotada parece reunir espessura estética, emocional e histórica suficiente para garantir um amplo espetro de aderentes.

Retrato do Reverendo Randall Burroughs e de seu filho num momento de leitura (pintado por Johan Zoffany, 1769). Boa figuração da toga presbiteriana que teve importantes radicações na Suiça, Escócia e USA. como se pode observar, era uma veste de dois corpos, com cinto de tecido e plastron, com a convencional manga de saco. Nos USA viria a dar (século XIX), nas suas versões simplificadas, as vestes dos juizes e dos professores universitários.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Grupo de cinco advogados franceses com toga, epitógio, plastron e barrete, década de 1880 (foto da Bibliothèque Nationale de France, identificando erradamente juízes).
O barrete de copa poligonal (8 faces), cristas e pompom preto é o mesmo usado em França pelos pastores protestantes e pelos mestres de cerimónias de algumas igrejas. Corresponde também ao modelo dito Cantor (Chazanut, Chazzan, Hazanim) usado por rabinos. Em Portugal tem (teve) a sua correspondência no barrete oficialmente aprovado pela Ordem dos Advogados, no barrete dos professores da Escola Médico-Cirúrgica do Porto/Universidade do Porto (pompom ao centro da copa, sem cristas) e no barrete judiciário espanhol (também sem cristas).
Existem exemplares (francês e Cantor) na coleção de chapéus religiosos de Dieter Philippi, com reprodução no catálogo Kopfbedecum in Gaube, 2009, p. 350 (Kantor).

Uma boa exemplificação das diferenças morfológicas de base entre a sotaina e a batina romana: irmãos passionistas, fotografia da primeira metade do século XX. A figura central enverga a batina romana com carcela vertical dianteira, saio traseiro de três machos, mangas afuniladas e romeira amovível. No fundo é o mesmo modelo da chamarra branca do pontífice romano (que nos rigor dos rigores não é uma chamarra por ser veste de corpo único e não hábito talar de dois vestidos sobrepostos). Seja como for, a batina romana não é antiga, pois desenvolveu-se entre a segunda metade do século XVIII e a primeira metade do século XIX e só se impôs verdadeiramente como hábito representativo do espírito normalizador do Concílio Vaticano I. Ladeantes, dois passionistas com o meio mantéu de lã preta (feitio idêntico ao do mantéu quinhentista generalizado pelos jesuítas), e sotaina (em forma túnica, de vestir pela cabeça, com pequena carcela talhada ligeiramente na banda esquerda do peito, costas lisas, corte trapezoidal ou cónico).

domingo, 6 de janeiro de 2013

Caixa de arquivo (corrente) onde eram diariamente lançados os papéis (petições, requerimentos) que baixavam à secretaria e tramitavam para despacho do ministro e eventual apreciação da mesa grande. Arca em madeira com tampo amovível, fechadura, ranhura e cabeceira, ornamentada com brasão e letreiro, datada de 1766. Acervo museológico da Venerável Ordem Terceira da Penitência, Porto, Portugal.
Não deixa de ser interessante constatar que na passagem da sociedade de Antigo Regime para o Liberalismo constitucional a caixa de recolha de documentos correntes foi mantida na maior parte das leis orgânicas das secretarias de estado, repartições municipais, secretarias dos tribunais e estabelecimentos de ensino. Ainda hoje existem nas salas dos professores das escolas públicas portuguesas umas caixinhas afixadas na parede onde os professores lançam as justificações de faltas que são diariamente abertas por um funcionário dos serviços administrativos. Foi a primeira vez que tive a possibilidade de visualizar um exemplar do século XVIII e gostei do que vi.

Outra figuração do hábito curto ou abatina, aqui em seda vermelha, conforme autorizado aos cardeais romanos. Retrato do cardeal Jean-Baptiste de Belloy (1709-1808) por Laurent Dalbos, acervo do Musée de Versailles.

Em França, o hábito curto, em tecido seda, foi considerado um traje de elevado prestígio social. Usou-se como traje prático adequado a viagens e como traje de corte (despacho, audiências, serões culturais, sessões solenes em academias). Um exemplo: retrato de Jean-Sifrein Maury, pregador do rei Luís XVI em 1789.

Grupo de arcebispos e bispos anglicanos do Canadá, fotografia captada por volta de 1940.
Variante anglicana do hábito curto ou abatina, em seda preta, que se usava com cartola, sotaina curta assertoada, polainas e sobrecasaca ora fechada ora desabotoada. Presença de alguns sobretudos.

Assinatura da concordata entre a Santa Sé e o governo de França representado pelo 1.º Consul Napoleão Bonaparte, 1801. Gravura de Gérard, acervo do Musée de Versailles.
Figuração do hábito curto/hábito de abade, abatina, hábito privado, hábito de viagem, "redingote", capa e batina: calções, meias altas de seda, sapatos pretos de couro ornados de fivela, sobrecasaca fechada na frente (ainda sem colarinho), meia capa de seda com cabeção (ferraioletto) e tricórnio de feltro. Este mesmo traje, que foi usado no Colégio dos Nobres (Portugal) viria a vingar após 1834 entre os estudantes e docentes da Universidade de Coimbra (ali com a capa embainhada pelos calcanhares) e entre os estudantes da maior parte dos liceus portugueses.
É, com pequenas variantes, o mesmo traje que se pode avistar no vulto do bispo de Viseu, D. António Alves Martins (caricatura de Rafael Bordalo Pinheiro e estátua de bronze ereta em Viseu), estando ali o tricórnio substituído pelo capello romano ou saturno e a sobrecasa desabotoada como a traziam nesse tempo os eclesiásticos anglicanos.