segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

"A questão coimbrã", caricatura de Rocha Vieira publicada na Ilustração Portuguesa n.º 694, de 9.06.1919 (Suplemento) numa alusão à extinção da Faculdade de Letras na Universidade de Coimbra e à determinação governamental da sua transferência compulsiva para a Universidade do Porto, em conformidade com o Decreto n.º 5.770, de 10.05.1919, publicado pelo colérico ministro da Instrução Pública Leonardo Coimbra. O referido diploma constituiu uma reacção a quente de Leonardo Coimbra que considerou uma afronta a forma como o Senado, a Faculdade de Letras e os estudantes rejeitaram a sua proposta de reforma do curso de Filosofia. O essencial desse projecto tinha vindo a lume no Decreto de 2.05.1919, o qual determinava que os cursos de Filosofia passavam a integrar diversas disciplinas de Matemática e Ciências Naturais e avocava ao Ministério o direito de livre escolha e nomeação dos professores. Despeitado e enfurecido, Leonardo Coimbra escreveu (ou mandou escrever) um chorrilho de insanidades contra a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e mais exasperado ficou quando percebeu que o reitor da sua confiança, Coelho de Carvalho, entrara em choque frontal com a Academia. A caricatura de Rocha Vieira dá dos estudantes da Faculdade de Letras uma imagem pouco lisonjeira de alunos que vivem de especulações teóricas e seduzem sopeiras. Para o que aqui importa, o reitor odiado caíu, o governo caíu e Leonardo Coimbra conseguiu no imediato aquilo que queria: proferiu no Parlamento um bilioso discurso contra a Universidade de Coimbra que apenas contribuiu para enegrecer a imagem da instituição junto da opinião pública e tornou-se o primeiro director da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Vale a pena lembrar que o regime foi generoso com Leonardo Coimbra (1883.1936) que, sendo detentor do diploma do Curso Superior de Letras de Lisboa, nem sequer o grau de bacharel tinha. A sua nomeação política para director e professor da Faculdade de Letras da UP fez dele um "doutor de aviário", como se dizia na Coimbra desses crispados anos.

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