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quinta-feira, 5 de julho de 2012

Em grande no Campo Grande (I): cerimónia DHC do Comendador Rui Nabeiro na ULHT/Lisboa (28.6.2012)

ULHT (1): toga do ISCTE/IUL guarnecida com estola verde e branca (Gestão)

Fotografias captadas antes da formação do cortejo de doutoramento honoris causa conferido ao Comendador Rui Nabeiro pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, que teve lugar em Lisboa a 28.6.2012. Ao contrário das universidades francesas, espanholas e norteamericanas, que usam o mesmo tipo de veste corporativa e de insígnias, em Portugal cada instituição de ensino superior consagrou trajes e insígnias distintos.

ULHT (2): toga preta e capuz da estola do ISCTE/IUL, feitio das costas.

ULHT (3): traje docente da Universidade de Évora, toga preta avivada com roseta na cor da especialidade científica aplicada no ombro esquerdo. Acompanha com um gorra preta de veludo.

ULHT (4): no plano central, traje docente da Universidade da Beira Interior. Acompanha com barrete redondo, conhecido por barretina (ornado de borla, sem cristas).

ULHT (5): toga pós-doutoral da Universidade Católica Portuguesa, preta com vivos amarelos, e epitógio (dito "estolão") de veludo de estilo franco-belga amarelo e branco (especialidade Enfermagem, Faculdade de Ciências da Saúde). Sem cobertura de cabeça aprovada institucionalmente.

ULHT (6): concentração de professores na sala reservada aos membros do sexo masculino. Em primeiro plano costas da gona padronizada norteamericana e hood (capelo). Acompanha com uma gorra preta de veludo ornada de borla dourada pendente.

ULHT (7): barretes professorais
  • A) barrete redondo, adotado pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, cartonado e forrado de preto, com galão azul régio e copa ornada de quatro cristas e borla azul de tipo pompom. Modelo conforme a tradição implantada na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa (1856-1911), depois seguido na Universidade de Lisboa (1911 e ss.) e na Universidade Nova de Lisboa (1973-2000). A tradição académica ocidental admite as duas formas mais comuns, a redonda e a quadrangular. Estas foram indiferentemente usadas nas universidades ibéricas e nas da América Latina até meados do século XIX. Em Coimbra, a partir da reforma dos estudos implementada pelo marquês de Pombal em 1772 verificou-se um claro predomínio do barrete redondo. Em Espanha, o barrete académico de quatro cantos/picos só foi oficialmente substituído por legislação de 1850, que impôs [lentamente] às universidades públicas o barrete dos juizes e advogados com as suas típicas 8 faces (doutores) e 6 faces (bachareis e licenciados). Porém, os docentes graduados em Teologia em Cânones, sendo clérigos, podem continuar a optar pelo barrete de quatro cantos ornado de borla simples ou laureada. Nas universidades católicas, nomeadamente nas faculdades de Teologia e de Direito Canónico, a etiqueta dispõe que os barretes dos detentores do grau de doutor mais correctos são os forrados de preto, armados com quatro cristas ou cornos (e não três, como é típico do barrete eclesiástico simples), ficando no centro uma borla de seda na cor da especialidade científica. Há universidades católicas que avivam o barrete doutoral preto com uma orla de seda na cor da especialidade científica, o que também está certo. O que a clássica rubrica eclesiástica não admite é a imposição de insígnias, a arguição de teses académicas (seja de que grau for) e as orações em louvor das ciências sem o barrete posto na cabeça. Como se sabe, há mil e uma maneiras de fazer vista grossa a estas velhas disposições, sobretudo se elas não forem conhecidas.
  • B) gorra doutoral do ISCTE/Instituto Universitário de Lisboa. Armada sobre tambor cilíndrico revestido de galão verde (verde e branco, cor institucional de Gestão) com quatro gomos pretos formando calote simples sem botão nem borla.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Vestis libera, vestis concessa, livrée, libré

Se pretende aprofundar os seus conhecimentos numa matéria tão pouco estudada em Portugal, leia:

 LAFABRIE, Francois - L'habit de livrée dans la Maison civile du roi. Entre prestige et servitude. In Bulletin du Centre de Recherche du Chateau de Versailles, 2011, disponível em http://crcv.revues.org/11373.

O autor é úm reputado especialista, tendo defendido uma tese sobre Les livrées royales à travers les collections publiques françaises (1660-1792).

Curso Teológico-Jurídico de 1897-1898 (Coimbra)

Curso (1)

Curso (2)

Curso (3)

Curso (4)

Curso (5)

Curso (6)

Curso (7): reportagem sobre o Curso do 5.º ano Teológico-Jurídico de 1897-1897 da Universidade de Coimbra a que pertenceram vultos como os poetastros Augusto Vilela Passos, Augusto Gil, Fausto Guedes Teixeira e Manuel Dias Cerejeira, o orador Alexandre Braga e o aplaudido guitarrista Manuel Mansilha.
Fonte: Branco e Negro n.º 100, de 29.2.1898

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Chapéu pontifical de arcebispo

Chapéu pontifical de arcebispo, forrado de seda verde com mistura de fios de ouro e jogo de 20 borlas pendentes (Calabria, 2.º quartel do século XX).

O meu bom amigo e correspondente Dieter Philippi alertou-me em boa hora para a existência da fotografia deste magnífico exemplar no sítio do Museo Diocesano di Reggio Calabria Mons. Aurelio Sorrentino,

http://www.museodiocesanoreggiocalabria.it/en/catalogo-opere-qil-vescovo-sponsus-ecclesiaeq, peça entretanto comunicada pelo próprio colecionador Dieter Philippi no seu blog em 28.6.2012,
 
Não obstante seguir de perto a morfologia do chamado capello romano, quando em bom rigor deveria adotar o formato do galero cardinalício, estamos em presença de uma raridade. Trata-se do chapéu pontifical próprio para arcebispo. Diferentemente do chapéu dos bispos que apenas admitia seda verde, o chapéu pontifical dos arcebispos e dos patriarcas pedia sede verde e fios de ouro, tradição que também vemos praticada no antigo barrete doutoral da Universidade de Zaragoza. Anteriormente ao século XIX a rubrica romana de grande rigor exigia que a copa do chapéu fosse em seda preta e a aba e as borlas em seda verde, regra que no século XIX poucos prelados seguiriam, optando pelo verde integral.
Trata-se de um chapéu heráldico, que ainda hoje é figurado nos brasões de armas dos prelados (embora esteja caído em desuso como peça de enxoval), e de jurisdição. Em bom rigor, o chapéu pontifical deveria ser usado pelos prelados no interior das fronteiras da sua diocese:
 
a) quando o prelado entrava solenemente na sua diocese, dirigindo-se à catedral para ser recebido pelo cabido e tomar posse;
b) quando o prelado saía do paço e se dirigia à catedral em dias festivos e de grande gala;
c) quando o prelado visitava as paróquias da sua diocese.
 
Além dos casos refereridos, o galero pontifical era ainda exibido nas seguintes situações:
 
i) durante o velório do prelado, sendo colocado aos pés do esquife;
ii) atrás do féretro, durante o cortejo fúnebre do prelado;
iii) suspenso sobre o mausoléu do prelado falecido.
 
Como se pode constatar, as regras de uso cerimonial e jurisdicional do galero pontifical eram muito semelhantes às prescritas para o galero cardinalício. Enquanto vivo, um prelado deveria usar o seu chapéu pontifical sobre o capuz da capa magna (capuz deitado pela cabeça), com as borlas lançadas para a frente. O transporte do galero em cortejo festivo ou fúnebre competia preferencialmente a um oficial maior designado decano.
O galero dos arcebispos, patriarcas e bispos não era imposto, ao contrário do galero dos cardeais que tinha funções de coroa.
Com o mesmo feitio do galero dos cardeais, arcebispos, patriarcas e bispos, havia duas outras subtipologias menos conhecidas. Uma delas era o chapéu preto dos protonários apostólicos, com cordões e borlas em rosa forte. Outra era o chapéu semipontifical para protonários apostólicos das primeiras três classes, incluindo os mestres de cerimónias do palácio apostólico que era pretos e orlados de púrpura.

Padre católico húngaro, cliché realizado em Budapeste pelo ano de 1865
O que veste?

  • zimarra romana com sobremangas metidas [muito compridas] desabotoadas, romeira lançada em torno dos ombros, estola e barrete romano de quatro cantos (parece ser um tricórnio, só que a sê-lo, o canto que não tem crista deveria estar alinhado com a orelha esquerda, parecendo antes que está deitado sobre a fronte [rubrica romana oblige!]. A romeira é de formato ainda não padronizado, conquanto fendida sobre o externo.

domingo, 1 de julho de 2012

Relato da cerimónia de abertura solene da Universidade de Coimbra (16.10.1897)

Abertura solene (1)

Abertura solene (2): relato da cerimónia de abertura solene da Universidade de Coimbra em 16.10.1897, lamentavelmente sem registo fotográfico do programa.
A cerimónia de abertura das aulas era considerada grande gala ou ato grande. A sua estrutura era idêntica à praticada na maior parte das universidades dos países da Europa continental. Em Coimbra começava com a solene convocação do claustro geral dos lentes, funcionários e estudantes, fazendo-se correr de véspera o sino grande das congregações, a que os estudantes chamavam jocosamente "o cabrão". O cabrão é um sino de bronze, de várias toneladas, que integra o conjunto de sinos existentes na Torre da Universidade de Coimbra, cujo estatuto mítico é semelhante ao do "Big Ben". Este sino voltava a ser corrido na manhã do dia do ato, para confirmar a chamada à congregação (virado com uma corda e não repicado).
A propósito de sinos, lembro aqui uma historieta de juventude. No meu liceu, o Antero de Quental, havia no átrio do antigo edifício um nicho onde estava fechado à chave o sino do toque para as aulas. Na verdade, o sino nunca era tocado devido à instalação de uma campanhia elétrica que atroava os pavilhões, os corredores e os pátios. Um dia, no meu décimo ano, a campainha elétrica avariou e a estudantada começou a soltar "roqueiras" em brados festivos. Não é que o idoso contínuo do liceu desceu a escadaria, sacou de um molho de chaves, abriu o nicho, agarrou no sino pela maçaneta de madeira e badalou energica e cadenciadamente?! Adeus ponto!
Regressando ao nosso assunto, o programa começava com uma Missa do Divino Espírito Santo na capela da Universidade, durante a qual o corpo catedrático ia ajoelhar segundo as precedências aos pés do reitor e com a mão direita sobre os evangelhos prometia e jurava fidelidade aos dogmas tridentinos e à Imaculada Conceição. Missa terminada, a Universidade saía da capela em préstito de gala para a sala dos atos grandes. Na sala, a cerimónia apresentava uma estrutura ternária: a) distribuição dos prémios aos alunos que se tinham distinguido no ano letivo anterior; b) louvor à rainha D. Maria Pia de Saboia, cujo aniversário natalício coincidia com o dia da cerimónia de abertura; d) oração de sapiência em louvor das ciências, sendo esta rotativamente lida pelo lente decano de cada uma das faculdades.
Nas vésperas do 5 de outubro de 1910 esta cerimónia era acremente criticada, exigindo-se a completa separação entre atos académicos, atos religiosos católicos e celebrações monárquicas. A charamela, os trajes e insígnias, as orações proferidas, os prémios distribuídos, tudo isto era alvo de chocarreiras e desacredidantes críticas, prevalecendo o entendimento de que o progresso científico e civilizacional eram incompatíveis com religião e cerimónias.
Fonte: Branco e Negro n.º 81, de 19.10.1897

Reportagem sobre o curso do V ano jurídico de 1896-1897 (Coimbra)

Curso jurídico de 1896-1897 (1)

Curso jurídico de 1896-1897 (2): fotografia do curso no pórtico da Capela da Universidade de Coimbra. Para quem desconheça a tradição conimbricense da época, os estudantes vestem um traje de porte diário conhecido por "capa e batina" e ostentam pastas de luxo de quintanista com fitas de seda vermelha.

Curso jurídico de 1896-1897 (3)

Curso jurídico de 1896-1897 (4)
Foto-reportagem relativa ao Curso do V ano jurídico da Universidade de Coimbra que fez a cerimónia de colação do grau de bacharel em 1897.
Fonte: Branco e Negro n.º 75, de 5.9.1897

O poeta António Fogaça

Retrato do poeta António Fogaça (1863-1888), natural de Barcelos, que faleceu sendo estudante da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Fez versos para as Fogueiras do São João de Coimbra que rapidamente foram considerados populares. Por décadas se cantarolou uma sua célebre copla "Ao som da guitarra/Que trina dolente", oscilando as corruptelas aprendidas de outiva entre "batina de lente" e "Catrina doente". Faleceu em Coimbra no dia 28.11.1888 tendo deixado os seus condiscípulos desolados.
Fonte: Branco e Negro n.º 72, de 15.8.1897