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quarta-feira, 25 de abril de 2012

Reportagem sobre a Escola Nacional (1905)

Escola Nacional (1)

Escola Nacional (2): farda n.º 1 ou farda de gala dos alunos. Traje masculino inspirado nos uniformes da marinha. Nas aulas os estudantes vestiam um bibe de confecção singela.

Escola Nacional (3): corpo docente, aula

Escola Nacional (4)
Imagens da camarata, refeitório e aula de ginástica. Escola-internato fundada em 1870 por Barros Proença, seguia a estrutura organizativa preconizada pela maior parte dos colégios laicos: rigorosa segregação de género; segmentação funcional dos espaços públicos, comuns e reservados; disposição uniforme do mobiliário; porte de farda de inspiração militar; normalização da disposição dos objetos nos espaços; elevados padrões de exigência em termos de higiene diária/semanal, recolha de lixos e limpeza de chãos, refeitório, cozinha, sanitários, lavandaria; controlo rígido das posturas corporais, fala e trato entre alunos e professores.
O colégio interno da idade clássica do liberalismo burguês, regido por um minudente regulamento, era uma instituição de controlo disciplinar total que tinha transposto para o século os modelos de gestão testados nos conventos, seminários católicos, casas de correcção e detenção, hospitais psiquiátricos e quartéis militares e colégios militares.
Fonte: O Occidente n.º 959, de 20.8.1905

terça-feira, 24 de abril de 2012

Uma corrida automóvel na Palhavã

Velo (1): aspeto da tribuna real no Velódromo de Palhavã

Velo (2): notícia sobre as corridas automóveis realizadas em 9.7.1905 no Velódromo de Palhavã. Esta pista era considerada ao nível das melhores da Europa, com pavimento em cimento, 333,3m de perímetro e capacidade para aguentar velocidades de 80km por hora. O articulista informa que assistiram à corrida o rei D. Carlos, o príncipe D. Luís Filipe e o infante D. Manuel. O irmão de D. Carlos, infante D. Afonso de Bragança era proprietário de um automóvel e condutor mediático, sendo conhecido pela alcunha de "o arreda" (=sai da frente). Na opinião do jornalista, as corridas de autómíveis estariam a substituir as touradas.
Fonte: O Occidente n.º 957, de 30.7.1905

Feito das costas da toga de Genève ou toga dos pastores protestantes: cós muito subido, delimitado por 3 carreiras paralelas de franzidos, com amplo saio típico das togas e garnachas.

domingo, 22 de abril de 2012

Aspeto dos primeiros modelos de justaucorps confeccionados em França para uso de forças militares suecas (ca. 1890), acervo do Museu Militar de Estocolmo

Feitio das costas de um justaucorps, cujo talhe é replicado na abatina
Os dois machos das abas são triplamente cheios, criando um efeito visual em X (na indumentária feminina o efeito de armado era dado pelo cós abundamente pregueado e pelos saiotes). O mesmo esquema também passa a ser aplicado na batina romana, substituindo a racha central por um terceiro macho metido na linha da coluna vertical e suprimindo os dois bolsos dianteiros que passam a algibeiras falsas rasgadas nas costuras laterais. As mangas são estreitas e arqueadas, corte mantido até ao entardecer do século XIX.

Um cardeal romano com hábito privado ou hábito civil curto, gravura de Buonnani, 1720
A peça nuclear é a chamada túnica persa ou justaucorps, difundida nas cortes de Paris e de Londres na década de 1660. A partir da segunda década do século XVIII este traje foi usado na Universidade de Coimbra mas sem consagração estatutária e em situação de coexistência com os demais trajes autorizados e considerados de grande cerimónia. O seu derivado direto é a "capa e batina" masculina, dado que o "traje feminino" vem dos corpos de enfermeiras da Grande Guerra de 1914-1918.
A primeira instituição escolar portuguesa a adoptar este traje foi o Real Colégio dos Nobres, fundado por Carta de Lei de 7.3.1761 e solenemente instalado em 19.3.1766. No art.º 8.º, Título VI, "Dos colegiais" (estatutos de 1761), sobre o enxoval dos estudantes internos prescrevia-se:

"A mesma igualdade se observará nos vestidos. Em casa usarão todos do vestido talar, a que chamam vulgarmente garnacha. Quando sairem fora do colégio poderão os primogénitos usar casacas, e vestidos de pano, ou quaisquer outros estofos que não sejam de seda. Os que forem filhos segundos, ou terceiros, usarão de vestidos chamados de abatina, talares, ou de capa curta conforme as ocasiões. E todos usarão de hábito distinto, pendente, e uniforme, no qual haverá de uma parte a imagem de Nossa Senhora da Conceição, e da outra a inscrição do colégio".

Notas:
1) a garnacha é a beca judiciária portuguesa;
2) a abatina corresponde à veste civil desenhada por Buonnani, também conhecida por hábito privado hábito [civil] de abade e justaucorps (veste de um corpo, carcela integralmente fechada na frente, mangas afuniladas, sem colarinho, dois machos e racha metidos nas abas dorsais, bainha entre o joelho e a meia perna, conjunto complementado por meia capa ou ferraioletto);
3) por "casacas" entendo ser o habit de cour ou grande casaca civil aberta na frente;
4) por "hábito distinto, pendente", entendo poder ser a beca ou estola de ombros, usada nas universidades, colégios e seminários católicos;
5) entre os adeptos do(s) traje(s) académico(s) utiliza-se frequentemente o argumento da "igualdade" para rebater as teorias da hierarquização e diferenciação, supondo-se que este possa ter origem nos costumes académicos de Coimbra. Como se pode constatar, a palavra "igualdade" é empregue pela primeira vez em 1761 nos estatutos do Colégio dos Nobres. Deixo aos exegetas o dilucidar se se estaria a falar de igualdade entre os estudantes matriculados ou de uniformização da indumentária corporativa para tentar nivelar a nobreza num contexto marcado pelo despotismo iluminado.

Fonte: http://liturgia.mforos.com/; http://araldicavaticana.com/

Retrato do bispo dominicano Pio Alberto del Corona (1837-1912) com zimarra branca de tecido simples (linho?). A zimarra dos papas, cuja cor branca é oriunda da ordem de S. Domingos, é uma criação dos alfaiates do Vaticano ou é uma apropriação de uma veste primeiramente usada por alguns dominicanos? Nesta fotografia captada por meados da década de 1870 (Corona foi nomeado bispo auxiliar de Draso em 1874) a batina corresponde no padrão cromático e no talhe ao modelo da zimarra romana papal então conhecida por "hábito privado papal", respeitando inclusivé o corte afunilado das mangas. Até ao momento não se conseguiu descortinar raiz nem pertinência para a expressão italiana zimarra, pois esta veste configura uma transformação da antiga sotaina ordinária, não exibindo características próprias das chamarras e garnachas. Não será uma confusão idêntica à circulante entre capello romano e galero, coberturas de cabeça inteiramente distintas?
Fonte: "Biografia de Mons. Pio", http://www.suore.it/biografia.htm

Retrato do cardeal Giuseppe Valerga, patriarca latino de Jerusalém, década de 1860
O que veste?
Hábito talar romano de um corpo constutuído pelos seguintes elementos visíveis:

-batina talar de seda, avivada. O modelo é o da chamada zimarra romana ou hábito privado dos pontífices, destacando-se na morfologia da veste: a romeira de ombros, amovível, aberta sobre o peito, com pouca altura (não chega aos cotovelos e é cortada de viés); as mangas de corte acentuadamente afunilado (ao contrário das mangas correntes no século XX, em formato de travesseiro ou manga de sobretudo, isto é, mesma largura na bocamanga, no cotovelo e no rebordo do ombro), já com as celebradas sobremangas ou palas de ombros;
-faixa de seda;
-cordão;
-sapatos pretos de fivela;
-tricórnio em fase adiantada de rebatimento das abas