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sábado, 21 de abril de 2012

Retrato do cardeal Louis-Joseph Luçon, arcebispo de Reims (1842-1930), num registo de 1915
O que veste?
Hábito talar romano composto pelos seguintes elementos visíveis:
-batina romana de tipo zimarra;
-faixa de seda;
-cordão peitoral;
-volta branca;
-luvas;
-viatório, também conhecido por greca e duletta (casacão preto, da mesma altura da batina, com fechamento dianteiro assertoado, golinha de veludo e peitilhos abertos em V, remontante à família dos casacões e redingotes do exército napoleónico. O viatório era habitualmente talhado em lã preta, podendo levar vivos nas bainhas, pespontos e botões, sendo o branco integral reservado aos pontífices romanos. Alguns seriam confeccionados em seda, como demonstra uma fotografia do cardeal português Manuel Gonçalves Cerejeira);
-canoa preta com as abas reviradas, efeitada com cordão e borlas vermelhas, já sem as características presilhas dos séculos XVIII e XIX

Retrato do cardeal Richard, arcebispo de Paris, fotografado aos 84 anos, revista L'Illustration de 11.2.1905
O que veste?
Hábito talar romano composto pelos seguintes elementos principais e acessórios:
-batina talar romana de um corpo, em seda preta, sem vivos, segundo o modelo da zimarra, com romeira amovível e carcela simples;
-cinta de seda escarlate rematada por borlas douradas;
-ferraiolo de seda escarlate;
-sapatos pretos de couro ornados de fivela de prata (complementados por meias de seda e calções);
-cordão peitoral com cruz pendente;
-solideo;
-[sobre a mesa] capello romano de castorina, vermelho, adornada com gorgorão, fita bordada, cordões e glandes, com a copa ligada à aba por presilhas (versão anterior ao capello romano de aba curtinha, conhecido por Saturno)

Um estudo sobre cerimónias televisionadas

Vale a pena ler o estudo-ensaio de Mário Mesquita, «O tempo cerimonial na televisão ou a nostalgia programada». In Artigos Caleidoscópio, disponível em http://recil.grupolusofona.pt/bitstream/handle/10437/604/mesquita_cerimonialtelevisaonostalgia_%231de1.pdf [s/d]. Retoma de um artigo publicado em 1995 na UCLouvain, disponível em http://sites-test.uclouvain.be/rec/index/php/rec/article/view/571/551.
Concordo substancialmente com as teorias interpretativas formuladas pelo autor, que segue de perto obras como "Cérémonies televisés" (Daniel Dayan). Em minha opinião, na abordagem do objecto é crucial distinguir entre telecerimónias cuja transmissão é programada/participada/controlada pela Tv e cerimónias teledifundidas. Nas primeiras, a equipa televisiva detém um elevado grau de controlo sobre o evento no antes, no durante e no após. Nas segundas, o repórter pode cortar a emissão ou emitir comentários mas não controla o evento. É um recoletor de informação, em posição excêntrica que pode estar ou não suficientemente documentado. Ilustramos o primeiro caso com a gala da noite de passagem do ano. Associamos ao segundo caso a transmissão da cerimónia de eleição e entronizaçao de um novo papa.

Outorga das insígnias honoris causa em Teologia a J. Ratzinger na Univ. de Navarra (1998)

Cerimónia de investidura do cardeal Joseph Ratzinger no grau de doutor honoris causa pela Faculdade de Teologia da Universidade de Navarra, 21.1.1998

1-ato presidido pelo magno chanceler, que procede à entrega das insígnias do grau (barrete branco, laureado, anel e livro);
2 - o recipiendário enverga o hábito académico civil, toga, e a murça doutoral (na qualidade de eclesiástico poderia ter optado por vestir o hábito talar da sua dignidade que é para todos os efeitos equivalente ao hábito académico);
3 - o chanceler enverga hábito talar romano, trazendo a cabeça coberta por solideo. O barrete da dignidade de magno chanceler encontra-se na mesa da presidência, com borla preta e franja dourada (no seguimento da tradição iberoamericana das universidades de Zaragoza e Pontifícia e Real do México onde se usavam barretes doutorais com pega e franja em ouro, costume que se documenta nos retratos dos reitores e decanos da Universidad de Zaragoza em plena década de 1890).

domingo, 15 de abril de 2012

Os serviços de coordenação do cerimonial público português (1833-1910)

Já não é a primeira vez que nos deparamos com perguntas sobre qual seria o serviço (se é que existia algum) ao qual competia programar e executar os atos do cerimonial público português.
A resposta é simples e engloba um conjunto de sub-respostas.

I - o serviço estava alojado na estrutura central do Estado, mas a sua coordenação não tinha relação de dependência com o Ministério dos Negócios Estrangeiros;
II - o serviço não era conhecido por "protocolo", uma vez que na época considerada protocolo tinha um sentido técnico muito restrito ligado: a) às formalidades de validação dos documentos, b) à gestão da agenda de determinados serviços públicos, c) à comprovação de entrega ou receção de documentos escritos; d) à assinatura de acordos entre duas ou mais partes;
III - o organismo da administração central que garantia a conceção, adaptação e funcionamento do cerimonial público era a Mordomia-Mor que funcionava junto da casa real;
IV - as atribuições da Mordomia, no que respeita ao cerimonial público, estão definidas no Alvará de 25.4.1835;
V - o art. 1.º do diploma mencionado explicitava que a direção e coordenação de todos os atos públicos competia ao mordomo-mor, um fidalgo da casa real com a categoria administrativa de 1.º oficial;
VI - os principais atos do calendário público obedeciam a programas escritos pelo mordomo-mor, com a aprovação do rei;
VII - o cerimonial público português caracterizava-se pelo respeito que manifestava pelos sistemas cerimonialíscos coexistentes (militar, universitário, católico, municipal, irmandades, etc.), pela gestão da herança anterior a 1820 e pelos aportamentos constitucionais que se assemelhavam bastante à dramatização praticada em Espanha, Itália e Grã-Bretanha;
VIII - na constância das suas funções em sala e no exterior, o mordomo-mor usava sempre como insígnia da sua autoridade um bastão de prata, ou cana, adornado com as armas reais, com o qual desferia as bastonadas necessárias para dar as vozes de abertura, encerramento, retirada, marcha solene, e do mais que fosse necessário (na atualidade apenas conheço bem o do mestre de cerimónias da Univ. de Coimbra, sendo os das universidades espanholas mais altos, do tipo vara);
IX - o que é verdadeiramente curioso na acção do mordomo-mor é que este não governava sozinho os atos. Em sala, nas igrejas e praças delegava parte das tarefas nos porteiros da cana (abrir e fechar portas, conduzir dignitários a tribunas e bancos; no estribeiro-mor (cortejos de carruagens de aparato, cavalgadas); nos reis de armas (dar as vozes nas aclamações), nos arautos e passavantes (pregões) e nos introdutores (que iam buscar e conduziam os visitantes ao local da audiência).

Retrato de D. Francisco Silva

Retrato de corpo inteiro de D. Francisco Ferreira da Silva, bispo de Siene e novo prelado de Moçambique (1905)
Veste hábito talar coral em seda rósea, composto por batina talar de cauda roçagante (a cauda podia ser repuxada para o braço esquerdo, levada por um camareiro ou levantada e fixada na linha da cintura com um botãozinho forrado/bordado), roquete profusamente guarnecido de rendas na fralda e nas bocamangas (munido de mangas estreitas, vestia-se pela cabeça, tendo pequena carcela até meio do peito), mantelette (o mantelete, forrado de cetim e sem mangas, é aberto na frente, ao contrário do espanhol que tinha/tem uma carcela. Replicava o mesmo feitio da chamarra, mas a bainha era alinhada um pouco abaixo da cintura), murça. Nos acessórios vemos cinta de seda à romana com borlas de franja rica (florões de passamanaria), cordão peitoral, volta branca e o chapéu pontifical preto, de copa alta e abas ligeiramente reviradas, sendo o cordão de borlas em seda verde. Este chapéu, que nos séculos XVI-XVIII era integralmente verde em certas dioceses ibéricas e latino-americanas, configura uma espécie de meio termo entre os chapéus em moda no século XIX (o tricórnio de feltro e a canoa de abas reviradas com as famosas presilhas a ligar aba e copa), e o ulterior capello romano com a sua abinha curta a lembrar o anel de Saturno. O seu uso prolongou-se nos clérigos mais idosos até à década de 1970. Tem uns ares de chapéu de coco (dito melão) mas em bom rigor não é um coco.
Fonte: O Occidente n.º 955, de 10.7.1905

Visita oficial de Guimerme II a Portugal (1905)

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Foto-reportagem e programa da visita oficial do imperador Guilherme II a Portugal, 1905 (4)
Fonte: O Occidente n.º 946, de 10.4.1905

Visita a Portugal da rainha Alexandra da Grã-Bretanha e do imperador da Alemanha Guilherme II (1905)

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Alexandra de Inglaterra e Guilherme II da Alemanha em visita a Portugal (7)
Notícias de imprensa, programa oficial de receção, cobertura fotográfica.
Fonte: O Occidente n.º 945, de 30.3.1905