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sábado, 10 de março de 2012

O ex-Presidente do Brasil, Lula da Silva e a sua companheira são recebidos no pátio das Escolas da Universidade de Coimbra e caminham sobre as capas lançadas no chão pelos estudantes brasileiros que os aguardavam.
O lançamento de uma peça de indumentária no chão, para que sirva de tapete a quem a pisa é considerado na tradição europeia mediterrânea uma das mais nobres homenagens que se podem fazer a um dignitário. Quem o faz entende que o homenageado é detentor de altas virtudes e deve ser tratado com a mais alta deferência. Na visita de Lula da Silva a Coimbra, onde foi doutorado honoris causa pela Faculdade de Direito (30.3.2011), os seguranças da casa presidencial brasileira, por desconhecimento, tentaram afastar as capas. Este gesto não teve consequências protocolares, mas poderia ter originado um incidente. Pela tradição académica quem pisa as capas é unicamente o homenageado, não lhes podendo tocar pessoas estranhas. À luz dos costumes locais, pisar ou mexer sem autorização na capa configura uma espécie de sacrilégio. Quando os estudantes não aceitam que determinadas pessoas caminhem sobre as capas estendidas, ou levantam rapidamente a capa ou dão-lhe um sacão para que o caminhante se desiquilibre e caia. Corre nos relatos orais que em 17.4.1969 alguém terá feito este acinte ao então presidente Américo Tomás (gostaria de encontrar fonte segura que permitisse confirmar ou infirmar este relato).
Os estudantes da Universidade de Coimbra continuam a manter a antiga tradição do deitar a capa, que no fundo é um gesto de galanteria e de refinada etiqueta. Mas a tradição não é exclusiva de Coimbra, nem do mundo universitário. Os estudantes membros das tunas espanholas lançam com frequência as capas às mulheres que pretendem galantear. Estudantes de outros estabelecimentos de ensino superior portugueses, como os da Universidade do Porto, também praticam este costume, fazendo-o conforme a matriz conimbricense. Há ainda notícias de ter sido praticado pelos estudantes matriculados em seminários da Igreja Católica, caso do Seminário Diocesano de Coimbra.
Não é possível datar com segurança os inícios deste costume. Nos séculos XVII e XVIII era praticado por estudantes, eclesiásticos e fidalgos de capa e espada. A capa era lançada aos pés de imperadores, reis, altos dignitários e grandes divas da ópera. Consta que se praticava ao longo do século XIX durante as temporadas no teatro de S. João, no Porto. Os espectadores lançavam os capotes aos pés das divas nacionais e italianas, e quando não tinham capote tiravam e estendiam-lhes as casacas. Isto escreve Eça de Queirós, e penso que falará de coisas que observou e de outras que lhe possa ter confirmado Ramalho Ortigão.
Pelo que nos é dado saber, os estudantes de Coimbra deitavam capas nas visitas dos reis e às divas que no século XIX atuavam no teatro Académico (tapete de capas). O deitar capas pelo estilo conimbricense implica a formação de duas alas, facilmente se descortinando aqui uma raiz nobiliárquica praticada nas entradas régias por terra e por mar. No protocolo militar equivale à passagem num corredor fechado superiormente com espadas (em cerimónias em que os corpos municipais de bombeiros fazem guarda de honra, corredor com os machados levantados), tradição que também se pratica nas cerimónias académicas e bailes de gala das universidades escandinavas (ex: Finlândia).
Tenho precisamente ao alcance dos olhos o relato da visita do presidente brasileiro João Café Filho a Portugal em abril de 1955. No cortejo de doutoramento honoris causa pela Faculdade de Direito de Coimbra, durante o transito entre a biblioteca Joanina e a sala dos atos grandes (24.4.1955) é visível o tapete de capas. Noutra fotografia, quando Café Filho entra nos paços do concelho do Porto (então no edifício do paço espiscopal), os estudantes universitários também fazem o tapete de capas (25.4.1955).
Duas outras formas de homenagem a vistantes ilustres e dignitários também praticadas pelos estudantes de Coimbra eram o colocar a capa nos ombros (assim se fez ao Papa João Paulo II em maio de 1982) e proteger o homenageado deitando-lhe uma aba da capa sobre a cabeça.
Como devem os cerimonialistas lidar com estas tradições académicas ibéricas? O melhor é o anfitrião ter o cuidado de informar o visitante e a sua equipa de segurança da existência destas tradições e da forte possibilidade de elas serem praticadas. Na ótica dos estudantes, estamos em presença de tradições académicas, no caso de Coimbra genericamente conhecidas por "praxe" (normas que regulam a exercitação dos "trotes"). Para o cerimonialista ou profissional de protocolo, estas tradições também são costumes dotados de dimensão  protocolar. Quero dizer, se não fossem consideradas tradições académicas (frise-se que existem e são praticadas mas não foram consagradas nos articulados dos vários códigos de praxe/trotes), facilmente poderiam figurar num manual de civilidade. Com isto volto a uma ideia em que tenho pensado e repensado: não podem os códigos de praxe ser pensados como manuais de civilidade e protocolo, mesmo que considerados na fronteira oposta às representações mais convencionais do que sejam o protocolo e a etiqueta?

Retrato do grande rabino de Amesterdão, Tobias Tal (1847-1898)
As vestes cerimoniais dos líderes espirituais das comunidades judaicas foram traduzindo as influências dos costumes dos territórios onde estas de fixaram. Neste caso, de anotar as semelhanças com as togas usadas no mundo universitário e judiciário.
Fonte: acervo do Jewish Historical Museum, Amesterdão, http://jewish.blogspot.com/2010_04_01_archive.html

Retrato de Ernest Julius Cohen (1869-1944), Prof. de Física e Química na Univ. de Amesterdão (1901-1902) e na Univ. de Utrecht (1902-1939). Aspeto da toga talar com carcela decotada, gorra e plastron

Costumes e cerimónias académicas: Actus gallicus, gallus, gallina, vejamen, bejamen, vexamine, vexame, tourada, sermo iocosus, vejamen iocosum

Os antigos estatutos que regeram as universidades ibéricas entre a Idade Média e os inícios do século XIX consagravam a figura do actus gallicus como um importante momento do cerimonial académico. Um momento jocoso integrado na solenidade, cuja função e sentido se tornam difíceis de compreender nos tempos presentes.
Universo: há notícia da prática do actus gallicus em todas as universidades da Península Ibérica, incluindo o Studium General português, e as universidades da América Espanhola: México e San Marcos (Lima). Entre os séculos XVI-XVIII também foi praticado nas academias de belas letras de Espanha.
Origem: não se sabe ao certo qual seja a origem do actus gallicus. Sabe-se que surgiu nas universidades medievais, possivelmente na Faculdade de Teologia da Universidade de Paris. No século XV já se encontrava tradicionalizado nas universidades ibéricas.
Desaparecimento: os actus gallicus conheceram o seu grande pico de glória no período barroco, associados ao excesso retórico e à tolerância sócio-institucional da cultura burlesca. Os últimos de que há notícia realizaram-se em 1833 na Universidad de Alcalà de Henares (atual Complutense de Madrid).
Causas do desaparecimento: a cultura burguesa masculina marcada pelos valores do Iluminismo e do liberalismo era visceralmente inimiga dos excessos, desregramentos e troças comunitárias. Com as sucessivas revoluções liberais, os reformadores fazem publicar interdições oficiais que são policiadas por forças militares, tribunais e forças de segurança pública. Em Espanha, parte da cultura pícara seria expulsa dos claustros das universidades, tendo sido continuada pelas tunas escolares. Em Coimbra, os chamados estilos ou praxes autonomizaram-se do claustro universitário, tendo passado a ser geridos apenas pelos estudantes.
O processo de interdição foi acompanhado por campanhas de desacreditação, publicação de obras doutrinárias e manifestos à opinião pública. Passaram estão a coexistir dois tipos de instrumentos formativos:

a) nas escolas ditas sérias, os manuais de civilidade e boas maneiras, repletos de postulados disciplinares assentes numa moral de dever-ser que visava aperfeiçoar o ser humano;
b) em alguns redutos escolares os códigos de praxe (primeiro orais, depois postos por escrito), que apesar de terem assimilado parte dos ensinamentos dos manuais de civilidade mantiveram resíduos da cultura burlesca e pícara.

Quem eram os galos: na sua origem mais remota, na Universidade de Paris, e nas universidades ibéricas, eram chamados gallos os mestres de Teologia. Esta designação tinha a ver com as disputas teológicas. Ou melhor, com a dialética aristotélica. Tradicionalmente o animal símbolo da Dialética era e é a serpente, embora na iconografia medieval a “mordedura” possa ser figurada através de uma cabeça de mastim. A sua função era picar ou morder o adversário para que este reagisse com finura e inteligência ao desafio. Estamos a falar de uma pugna verbal e intelectual, como fazem os cantores de descantes ou desgarradas que se picam por palavras e ditos e vão improvisando e respondendo até que um dos contendores se canse. A pugna cantada, como se sabe, é ritualizada. Os cantores saúdam o auditório e identificam-se com versos cantados. Depois desenvolvem a luta cantada. Ao encerrar, pedem desculpas por alguma falta de engenho e despedem-se do auditório.
Os mestres de Teologia que arguiam as provas académicas eram gallos. Havia os gallos arguentes e havia os gallos de encómio. Os arguentes interpelavam rijamente o candidato a doutor. Esta tradição do exame em que arguentes e arguidos dizem coisas tremendas manteve-se na Universidade de Coimbra, muito particularmente na Faculdade de Direito. Quem assistiu na sala dos atos grandes à arguição de provas sabe que se davam (dão?) ali violentas bicadas e que a elas deve responder o candidato com engenho e desenvoltura. Lembro-me de uma vez, numas provas de Direito, ter ouvido ao então Reitor Rui de Alarcão que o candidato até tinha investigado muito bem, mas não sabia escrever, que fosse fazer melhor preparação para escrever bem. Assim, com todas as letras. A arguição era vista como uma luta de galos.
Além dos gallos arguentes, cujas bicadas feriam a crista do candidato, havia os gallos a quem competia troçar e louvar o candidato. Findas as longas horas de arguição e as angústias passadas ante o júri, vinha um momento de pausa e descontracção. No mesmo local do ato entravam em acção um ou mais gallos. Nalgumas universidades chegavam a ser quatro. Competia-lhes apresentar o elogio do candidato e o vejamen ou vexame. O vexame era um auto, ou melhor, uma peça escrita em latim macarrónico, que podia misturar italianismos, francesismos e até a imitação do sotaque dos escravos africanos. A peça era pregada como um sermão burlesco, metendo o que hoje designamos por apartes, dichotes, arremedos de vozes e pessoas, insinuações. Também podia ser cantada com solo e coros e acompanhamento de instrumentos, como que a imitar a missa cantada.

Aurora Egido, uma sumidade na matéria, ao estudar os vexames impressos relativos à Universidade de Granada nos séculos XVII e XVIII reconstitui o “bajamén” dado em 1675 no grau de Teologia do Padre Diego de Castelblanco. Após o costumado passeio doutoral com charamelas, iniciou-se o ato no teatro armado para esse fim. O gallo encarregue da paródia começou por imitar a bênção episcopal, aspergindo o claustro docente e os convidados com água. Em latim macarrónico recitou, entre outras coisas, as seguintes frases que transcrevo com liberdade:

“Minhas senhoras, ainda que me tenham debaixo de olho, não pensem que me hão-de por o pé em cima; porque se eu levanto a mão, nos investirei de baixo até cima, ou não vos conheça as mães que vos pariram”.

Outro tipo de gallo era o gallina, o seja, o gallo benéfico que findava a paródia proferindo um rasgado elogio às virtudes do candidato. Este elogio, que atinge o auge na época barroca, ainda hoje se faz na Universidade de Coimbra, sendo obrigatório o uso de vocabulário gongórico e encomiástico.

Os temas: os gallos versavam diretamente sobre os defeitos físicos do candidato, tiques de personalidade, suspeição de homossexualidade, plágio. As damas presentes não eram poupadas às graçolas licenciosas.
Função do ato: os gallos ou vexames tinham como principal função temperar a personalidade do candidato. Fazia-se sofrer o candidato para que este ao longo da vida se lembrasse dos valores da humildade e da moderação, tendo presente que as situações difíceis faziam parte da vida. Numa segunda acepção, os gallos sinalizam a morte simbólica do graduando e a sua integração numa nova condição institucional. Outro significado complementar prende-se com a dimensão do ato académico, simultaneamente séria e fruidora.
Tradição conimbricense: Teófilo Braga na sua “História da Universidade de Coimbra” (I: 1892, p. 302) foi um dos primeiros investigadores a chamar a atenção para o actus gallicus. Os Estatutos de 1431, do Studium Generale, na regulamentação do ato do magistério em Teologia referiam “Si magíster regens vult dicere alliqua jocosa in modum balini dicat”. Se “balini” significa banho ou pregão, então o mestre que presidia ao ato declamava uma espécie de sermão jocoso antes da universidade levar o novo mestre a jantar. Nos Estatutos de D. Manuel I, de ca. 1503, o gallus é referido como momento integrante do acto de doutoramento: “Dobrado e acabado isto, um homem honrado louvará, em latim, letras e costumes do graduando e, em linguajem, por palavras honestas dirá alguns defeitos graciosos para folgar que não sejam muito de sentir (…)”. Quer dizer, gozar sem ofender, arte certamente difícil de delicada. Nos estatutos posteriores, as orações laudatórias continuam a ser consagradas, mas o cariz jocoso não é referenciado.

Sobrevivências: caído em desuso nos actos de colação dos graus académicos, o gallus sobreviveu na Universidade de Coimbra até finais da década de 1960 em duas modalidades:
·         O discurso do novato: ao entrar pela primeira vez na Universidade, os alunos mais velhos colocam o calouro sobre um banco, tradicionalmente com a batina do avesso, e davam-lhe um mote burlesco. Com base no mote, o calouro tinha de improvisar em português e em latim macarrónico um discurso pomposo, de cariz burlesco, onde discorria livremente lançando mão dos mais disparatados e risíveis argumentos. Um discurso bem imaginado e povoado de humor podia valer ao caloiro a carta de alforria.
·         A tourada ao lente: consagrada no Código da Praxe de 1957, esta tradição ainda se praticava esporadicamente na década de 1980. Quando o lente dava a sua primeira aula, independentemente do grau académico, era toureado por uma comissão de estudantes que incluía veteranos, quintanistas fitados e caloiros. Os caloiros entravam no auditório com ramagens e folhas para alimentar “o animal”. A tourada era conduzida por um padrinho, que podia ser um quintanista ou um veterano, competindo-lhe dar ordens ao lente para que vestisse a roupa do avesso, zurrasse, relinchasse, desse pinotes e proferisse um discurso rocambolesco em louvor das ciências. Os discursos constituíam o momento mais esperado, tendo ficado célebres alguns professores com excelente veia improvisadora. No fim, um quintanista fitado colocada a sua pasta aberta sobre a cabeça do lente, declarando o “está protegido”. Se fosse veterano mas estivesse sem pasta, protegia o docente com a aba da capa. Seguiam-se as felicitações e cumprimentos (Costume expressamente regulado no Código da Praxe de 1957, art.º 213.º, bem como no de 1993 revisto em 2001, art.º 224.º).

Tradições populares próximas: na cultura popular europeia foram sinalizadas tradições convergentes com o gallus. Deitar pulhas, leitura de testamentos, falas dos advogados nos julgamentos do Judas, do bacalhau e da velha, sermões pregados pelos irmandades do São Martinho (louvores aos ébrios) e do São Marcos (louvores aos maridos enganados). Vide deitar pulhas, cencerro, cencerrada (Espanha).

Fontes
ANDRADE, Mário Saraiva de; BARROS, Victor Dias – Código da Praxe Académica [aprovado por Decretus de 1.3.1957). Coimbra: Coimbra Editora, s/d [ca. 1985].
BRAGA, Joaquim Teófilo – História da Universidade de Coimbra. Tomo I. Lisboa: Academia Real das Ciências, 1892.
DURÁN, Abraham Madroñal – De grado y gracias. Vejámenes universitários de los siglos de oro. Madrid: Ministerio de Educación y Ciencia/Consejo Superior de Investigaciones Científicas, 2005.
DURÁN, Abraham Madroñal – Sobre el vejamen de grado en el siglo de oro. La Universidad de Toledo, s/d., http://digital.csic.es/bitstream/10261/9336/1/SOBRE%20EL%20VEJAMEN%20DE%20GRADO.pdf.
EGIDO, Aurora – «De ludo vitando. Gallos aulicos en la Universidad de Salamanca». Madrid, El Crotalón I, 1984, pp. 609-648.
EGIDO, AURORA - «Floresta de vejámenes universitários granadinos (siglos XVII-XVIII)». In Bulletin Hispanique, Année 1990, volume 92, n.º 92-1, pp. 309-332. http://www.persee.fr/web/revues/home/prescript/article/hispa_0007-4640_1990_num_92_1_4702.
JESUS, João Luís; FERREIRA, Vítor – Código da Praxe da Universidade de Coimbra [de 1993, revisto em 2001]. Coimbra: MCVAC, 2001.
LE GOFF,Jacques; SCHMITT, Jean-Claude – Le charivari. Actes de la table ronde organizée à Paris (25-27 avril 1977). Paris: Mouton, 1981.
RANZ, Francisco Layna – «Ceremonias burlescas estudantiles (siglos XVI y XVII). 1. Gallos». In Criticón, n.º 52, 1991, pp. 141-162, http://cvc.cervantes.es/literatura/criticon/PDF/052/052_142.pdf.
RODRIGUES, Manuel Augusto (introdução) – Os primeiros estatutos da Universidade de Coimbra. Coimbra: Arquivo da Universidade de Coimbra, 1991.
SAUS, Antonio Luis Morán (e outros) – Cancionero de estudiantes de la tuna. Salamanca: Ediciones USAL, 2003.
Citar: AMNunes – Cerimónias e costumes académicos. Actus galicus…, 10.3.2012

Cerimónia académica na Technishe Universitat Darmstadt, Alemanha, na época nazi
Professores com togas, barretes e grandes colares de diferentes universidades "clássicas" e "técnicas" e um reitor sentados junto de oficiais nazis.
A Universidade Técnica de Darmstdat foi fundada em 1877. À semelhança das restantes universidades alemãs, durante o regime nazi colaborou e foi obrigada a colaborar com o regime hitleriano. Desde a década de 1990 que o Prof. Christof Dipper, do Instituto de História, coordenou um notável projeto de equipa com o objetivo de escrever a história da TU-Darmstadt, de que se editaram em 1998 seis volumes. Na atualidade a equipa de investigação congrega especialistas em ciências naturais, engenharia civil, engenharia mecânica, geociências, arquitetura e arqueologia. As jovens investigadoras Melanie Horn e Isabel Smith estudaram em profundidade o funcionamento da TU-Darmstadt durante o regime nazi. Para o efeito devassaram os arquivos da cidade e da universidade, recolheram testemunhos de antigos estudantes e professores, abordaram as posturas de alinhamento e colaboracionismo, os saneamentos do corpo docente, as perseguições e as execuções de opositores. Simultaneamente sondaram a produção científica e as linhas de publicação da universidade em livros e revistas da especialidade, tendo privilegiado as relações entre ideologia nazi e produção nas áreas das ciências naturais, indústria e tecnologias e equipamentos militares.
Relativamente a Portugal, destaque-se a obra individual de Luís Reis Torgal, «A universidade e o Estado Novo. O caso de Coimbra. 1926-1961». Coimbra: Minerva, 1999. Não existe ainda uma história das universidades portuguesas no Estado Novo, projeto cuja concretização implicaria uma equipa transdisciplinar composta por elementos de diversos centros de investigação.
Fonte: The Technish hochschule in the Third Reich, http://www.tu-darmastadt.de/vorbeischauen/aktual/ni_14401.en.jsp

sexta-feira, 9 de março de 2012

Cerimónia de doutoramento na Politécnica de Viena

TU-Wien: maceiro

TU-Wien: elogio

TU-Wien: exibição do diploma

TU-Wien: aspeto do paraninfo e do auditório

TU-Wien: saudações aos homenageados

TU-Wien: aspeto da toga, notando-se variantes com bainhas talares, bainha pela meia perna (tendência atual generalizada), ornatos e insígnias distintivas da equipa de governo e algum esforço de combinação de cores.

Ato de doutoramento na TU-Wien, 21.1.2012
Fonte: http://www.vcla.at/events/award-of-the-honorary-doctorate-to-edmund-m-clark/

Ato de graduação em Engenharia Civil na Universidade Técnica de Viena, 2008
Corpo docente sentado e coberto, fala do vice-presidente, diplomas preparados para entrega. Os graduandos comparecem à civil, recebendo o diploma, um anel e os cumprimentos do corpo docente. A Techischen Universitat Wien (TU-Wien) tem raizes em 1815 no Imperial e Real Instituto Politécnico. É das poucas universidades politécnicas germânicas com cerimónias académicas reportadas no ciberespaço. A cobertura de cabeça é uma gorra preta de tipo renascentista com calote de tecido e aba em saturno, conforme usança em algumas universidades britânicas. A toga, em tecido preto, apresenta vivos nas mangas e decote aberto, bem como debruns de pelaria (presidentes e vice-presidentes, exibindo estes grandes colares de grilhões metálicos). O maceiro usa uma toga preta, de confecção mais simples. A toga da TU-Wien combina sobriedade, elegância e funcionalidade. Parece confirmar uma certa tendência experimentada em Portugal entre as décadas de 1950 e 1990 em instituições que consagraram como veste institucional togas de feição funcional e decote aberto: antigo Instituto Superior de Estudos Ultramarinos/ISCSPU (1955), Universidade de Évora (1989), Universidade Lusófona (ca. 1999-2011). Para mais pormenores, com desenhos de apoio, veja-se o mapeamento assinado por Armando Luís de Carvalho Homem, O traje de lentes (2007).
Fonte: http://engineering.tuwien.ac.at/overview/photo_gallery/graduation_class_2007_2008/

quarta-feira, 7 de março de 2012

Cerimónia de graduação na Universidade de Viena
Traje professoral e insígnias: aspeto da toga, murça orlada de pelaria e barrete académico

Fotografias da matriz de Ponta Delgada

Matriz PD: fachada principal

Matriz PD: pórtico principal

Matriz PD: pórtico lateral manuelino com medalhões renascença

Matriz PD: o orago S. Sebastião

Matriz PD: capela-mor

Matriz PD: concha interna de cúpula

Matriz PD: Aspeto da abóbada de nervuras ou aranhiço (pedra basáltica ou pedra vulcânica porosa como a da fachada do colégio de Jesus?)

Matriz PD, altar

Matriz PD: retábulo barroco em alto relevo estofado e policromado com apliques de ouro (ascenção de Cristo?)
Fotografias enviadas pelo Prof. João Vasconcelos Costa com o seguinte comment:
«A matriz foi muito bem restaurada há talvez uns 20 anos, pondo à vista os tetos góticos originais, da capela mor e das do transepto, que estavam revestidas por uma horrorosa decoração rococó de estuque. É pena que não se tenha podido restaurar as colunas, de mármore branco, porque, no séc. XIX para lhes aplicarem o estuque colorido, rosado, picaram as colunas. Estraga-se mármore para parecer mármore!»

segunda-feira, 5 de março de 2012

Membros da igreja luterana seguem a princesa Victoria na abertura do sínodo dos bispos, Uppsala, 27 de setembro de 2011. Uma mulher bispo com variante feminina da abatina: saia preta pelo joelho, abatina de bainha encurtada (como se fora casaquinho de três quartos), colarinho branco guarnecido de plastron. Onde é que já vimos este traje com uma capa por cima?

domingo, 4 de março de 2012

Professores da Universidade de Coimbra? Não! Festas jubilares dos 450 anos da Universidade de Uppsala, 1927. Grupo de doutores em Sacra Teologia com abatina e chapéu doutoral nas escadarias do paço episcopal de Uppsala. Figura feminina sem traje académico, também aqui com a Universidade de Uppsala a confirmar a solução seguida em Coimbra: segregação das alunas e professoras no que respeita às vestes académicas. As semelhanças entre as duas universidades impressionam!
Fonte: http://commons.wikipedia.org/wiki/File:Teologie_doktorspromovation.jpg

Retrato do Rev.Lars Olof Jonathan [Soderblom] (1866-1931), doutor em Teologia, arcebispo e professor. Enverga abatina desabotoada, vendo-se o colete e o colarinho sem plastron, casacão de inverno e o chapéu doutoral forrado de seda preta da Universidade de Uppsala.
Fonte: http://sv.wikipedia.org/wiki/Nathan/S%C3B6derblom

Encontro anual de igrejas estabelecidas na Suécia. Sua Graça, Mar Odisho Oraham, da igreja Assíria, com o representante sueco, Uppsala, setembro de 2010. Três notas: o barrete eclesiástico assírio, aceite pela igreja Católica em plano de igualdade com as demais coberturas de cabeça; o viatório ou greca, casacão que exibe vistosos canhões de seda e carcela aberta; o dignitário sueco com uma sobrecasaca correspondente ao hábito curto/abatina que é com insignificantes diferenças de pormenor a veste ainda hoje usada pelos membros do corpo docente da Universidade de Coimbra.
Fonte: http://news.assyrian.church.org/2010/09/29/

Notícias do desporto escolar nos inícios do século XX

Escola Académica (1)

Escola Académica (2)

Escola Académica (3): exibição de esgrima no ginásio da Escola Académica, inaugurado em 29.5.1904
A Escola Académica era um estabelecimento de ensino privado localizado em Lisboa, fundado por António Florêncio dos Santos por 1865. Implementou desde a origem modalidades de ginástica sueca, germânica, esgrima e passeios ao ar livre. Faria parte do projeto educativo construção de uma piscina ou lago artificial para a prática de natação que em 1904 ainda não existia. O projeto do ginásio e o plano de exercícios foi orientado pelo Prof. de Medicina Jaime Mauperrin dos Santos.
No período em causa, e embora as escolas normais ministrassem educação física às futuras professoras do ensino primário, as escolas públicas de ensino primário e secundário não tinham campos de jogos, piscinas e ginásios. Quem tinha e podia oferecer excelentes instalações (camaratas, balneários, ginásios, sala de teatro) eram os colégios privados de associações laicas e das congregações religiosas, nomeadamente os da Companhia de Jesus. A diversidade da oferta educativa e a existência de instalações próprias para sala de estudo, ocupação dos tempos livres e práticas desportivas fazia parte da imagem de marca das escolas privadas e alimentava nas escolas públicas um espírito de hostilidade e despeito. Foi com base nos regulamentos internos deste tipo de escolas e colégios que a partir de 1902-1903 se fez a reforma das antigas casas de correção de menores e a passagem para um modelo mais evoluído de internato-escola assente num plano educativo e formativo consistente.
Fonte: O Occidente n.º 916, de 10.6.1904

Demonstração de ginástica escolar feminina para jornalistas e encarregados de educação, Colégio de Nossa Senhora das Dores, Lisboa, 1904. Em cima: as educandas com farda desportiva, dispostas em colunas ordenadas, executam exercícios simultaneos; em baixo: o professor de ginástica, Luís Monteiro coordena uma demonstração de exercícios. Neste estabelecimento de ensino particular instaldo no palácio Visconde dos Olivais, à rua de Buenos Aires, Lisboa, a ginástica fazia parte do currículo formativa das alunas. O objetivo era a formação integral da "mulher moderna", em obediência às doutrinas do asseio, higiene pessoal e social, domínio do corpo biológico. A ginástica estava intimamente ligada aos valores morais partilhados no ocidente pelos educadores religiosos, monárquicos, republicanos e laicistas. A educação integral desenvolveria a generosidade, a firmeza de caráter, o amor à liberdade, a capacidade para temperar os ímpetos e contribuiria para a higienização da "raça". Ou seja, o desporto consolidaria nos aprendizes as virtudes familiares e sociais. Os pedadgogos portugueses mostram-se bem informados sobre a ginástica sueca e germânica, a ginástica militar, as práticas desportivas consagradas nas universidades norteamericanas. Concomitantemente assiste-se a uma defesa da generalização da atividade desportiva nos estabelecimentos de ensino e nos estabelecimentos de reclusão de maiores e menores.
Fonte: O Occidente n.º 909, de 30.3.1904