Cortejo do doutoramento honoris causa do ex-Presidente do Brasil Lula da Silva (Coimbra: 30.3.2011)
João Vasconcelos Costa (JVC), [análise enviada em 2.5.2012. Inserem-se os respetivos comments]
Estive a ver o vídeo do doutoramento honoris causa de Lula, na
UC.
Mesmo Coimbra, hoje, tem falhas.
Não há dúvida de que só os anglo-saxónicos é que têm interiorizado por inteiro
o sentido do cerimonial. Repare nos momentos que indico a seguir.
AMN: o DHC do ex-Presidente do Brasil foi concedido pela Faculdade
de Direito da UC em 30.3.2011. Trata-se de uma tradição académica entroncável
nos chamados “doutoramentos políticos”. Estes começaram na Europa em 1918
quando o Presidente dos EUA Woodrow Wilson (1856-1924) se deslocou a Paris para
assinar o armistício, tendo este estadista sido distinguido pela Sorbonne.
Infelizmente ainda não consegui encontrar iconografia do DHC de Wilson.
Concordo com o que escreve.
Cerimonial de rigor só nas universidades britânicas e não propriamente em
todas. Na Suécia destaco Uppsala e Lund. Neste exercício também poderíamos
listar as piores entre as piores seguindo os critérios americanos de pior
filme, pior ator, figura mediática mais mal vestida do ano… ok, seria demasiado
mau.
0:05
JVC: A charamela apresenta-se de casaca, como me lembro de ser no
meu tempo de Coimbra, mas sem colete, o que dá um ar rasca ao uso do traje
nobre. Tocam o Canticorum Jubilo, de Händel, quando a tradição era do Hino
académico de Coimbra (nunca consegui uma partitura ou um ficheiro mp3).
Na ULHT, reservamos o Canticorum para as ocasiões de saudação ou de “parabéns”,
por exemplo depois da imposição de insígnias doutorais. Foi para isso que ele
foi composto. Convém, no cerimonial, saber um pouco de história da música, tão
importante nessas ocasiões.
AMN: revela tino e siso a sua apreciação quanto às liberalidades
avistadas no uso da casaca masculina civil, como é sabido uma veste associada no
Ocidente a uma etiqueta extremamente rígida. Vendo mais de perto as imagens, a
falta de rigor é extensível ao calçado que é vulgar.
A casaca preta civil é uma
formulação muito recente na charamela. Nas décadas de 1980-1990 a charamela envergava
uma libré em pano de lã azul ferrete, agaloada nas bocamangas e colarinhos,
indo os tocadores com a cabeça descoberta. Era uma libré militar, inspirada no
fardamento de formações musicais militares (nesses anos os charameleiros eram
membros da banda militar de Coimbra, bem como o charameleiro regente que
deveria levar como insígnia batuta armoriada e que afinal a não levava). Só o
regente é que vestia casaca preta com as típicas asas de grilo ou pinguim (como
se diz em Espanha), caminhando na frente dos charameleiros.
Não me conformo com nenhuma das
soluções acima indicadas, por entender que a Casa Reitoral deveria reconstituir
a antiga libré dos charameleiros à portuguesa, que é conforme com a que era
usada na procissão do Corpo de Deus, e de que subsistem abundantes registos
iconográficos. Devo ainda acrescentar três dados importantes sobre o assunto:
a) nas solenidades em que participava a charamela, os instrumentos eram
decorados com pendões e saios bordados com as insígnias institucionais,
tradição que poderia ser mantida, tanto mais que a charamela só atua em
contextos soleníssimos; b) não se conhece um único disco gravado pela
charamela, omissão que a Casa Reitoral deveria ser a primeira a tentar colmatar
mediante implementação de políticas culturais proactivas; c) finalmente temos
notícia de uma tese de doutoramento em curso sobre a charamela graças ao
interesse de um antigo regente.
O Hino Académico de Coimbra
(1853: Do trabalho, na lide afanosa)
está editado no Cancioneiro de Músicas
Populares de César das Neves (1893-1899), digitalizado disponível na BN, http://purl.pt/742/1/, e acaba de sair solfa
na obra de Alberto Ribeiro Soares, Pedro Marquês de Sousa e Manuel Ferreira da
Costa, Hinos patrióticos e militares portugueses. Lisboa: Edição do
Estado-Maior do Exército, 2010, pág. 85 [música do estudante açoriano José
Cristiano de Medeiros, que foi regente da Orquestra do Teatro Académico de
Coimbra e mais tarde professor no Liceu de Leiria; letra do futuro lente de
Direito José Sanches da Gama]. Há ainda uma gravação instrumental bem feita pela
Tuna Académica da Universidade de Coimbra (CD Orquestra da Tuna Académica da
Universidade de Coimbra. Coimbra: Public-art 19301, 2001, faixa n.º 1)),
pois é este Hino que deve ser tocado nas grandes solenidades da sala dos
capelos e é com ele que se devem abrir os saraus académicos. No meu tempo, o
Orfeon, o Coro Misto e o Coro da Capela da UC só interpretavam o Gaudeamus, que
era apresentado como “o hino académico”. Trata-se de uma desinformação
protocolar grave. Na Universidade de Coimbra o Gaudeamos não é hino oficial e
viola grosseiramente a praxe que seja tocado em vez do Hino Académico de
Coimbra. O Hino Académico de Coimbra é tocado habitualmente pela Tuna dos
Antigos Tunos da Universidade de Coimbra, formação de antigos estudantes que
durante anos foi a única a manter viva a tradição do Hino Académico de Coimbra.
Os cortejos académicos costumavam
ser abertos com marchas festivas e desde meados do século XIX com o Hino
Académico de Coimbra. A partir de 1980, os regentes da charamela
começaram a tocar o Canticorum, uma escolha claramente desinformada. Como diz,
e eu sufrago, o Canticorum está muito bem como peça celebrativa dos momentos de
investidura/ostentação e como peça de apresentação de cumprimentos a altos
dignitários que visitam a universidade.
Já que se fala do Gaudeamus, a
primeira universidade portuguesa a adotar esta composição como hino
institucional foi a Universidade de Lisboa, sendo reitor Marcello Caetano. Terá
sido por alturas da inauguração dos novos edifícios da cidade universitária no
ano lectivo de 1960-1961. Não possuo mais dados sobre este assunto, mas estarão
ainda vivos professores com memória dessa cerimónia que deve ter decorrido na
aula magna, com performance a cargo de grupo coral. Em Coimbra, na década de
1960, o Guadeamus era interpretado nas atuações do Coral das Letras, mas não
como hino académico institucional.
Para rematar, e já que se fala de
trajes pouco caprichados, diríamos que a veste institucional menos cuidada hoje
em dia na UC é o traje de bedel, onde pululam combinatórias de causar susto
cardíaco ao coração mais robusto.
0:29
JVC: Os archeiros, muito bem. É difícil em universidades modernas
convencer os membros do corpo de segurança a desfilarem assim.
AMN: em todo o caso, funcionários que integrem o cortejo podem usar
fato preto civil. É francamente de evitar fardas de empresas privadas de
vigilância. A cerimónia é da universidade que a organiza. As fardas das
empresas de segurança privadas são desenhadas por indústrias do tipo
pronto-a-vestir, equivalendo a modelos de trabalho em pano ordinário, como tal
manifestamente inadequados a cenários festivos.
0:41
JVC: Alguém se intromete no cortejo. Inadmissível.
AMN: o bom governo do cortejo é
tanto mais agravado quanto só exista um mestre-de-cerimónias que, no caso de
Coimbra, toma lugar obrigatoriamente em frente do reitor. Há maneiras eficazes de
resolver isto. Nas procissões católicas, as igrejas, irmandades e confrarias
costumavam colocar irmãos ajudantes do mestre-de-cerimónias a espaços ao longo
do cortejo. Cada um levava a sua vara, entrava e saia do cortejo, adiantava-se
uns passos e parava a marcha sempre que necessário. Vou pela tradição das
festas do Espírito Santo dos Açores cujos imperadores entregavam a um irmão de
sua confiança a vara do mestre-de-cerimónias (dita de enxota porcos), para
governar o cortejo. Na casa real portuguesa, os cortejos e cerimónias eram
governados pelo mordomo-mor que levava obrigatoriamente na mão a sua cana ou
bastão, sendo este auxiliado pelo porteiro da cana e pelo mestre-sala.
A etiqueta académica ou praxe é
simples, clara e rigorosa nas velhas universidades. Ninguém se intromete no
cortejo e nenhuma corporação ou dignitário externo podem tomar lugar diante do
reitor. Nas universidades mais recentes parece-me que esta norma já não é
atendida, vendo-se diante do reitor e a seu lado membros do Legislativo e do
Executivo e até de municípios e de empresas. O mesmo acontece em Espanha, onde
os reitores são ladeados por presidentes de regiões autónomas e presidentes de
câmaras municipais. Os espanhóis quebram a cabeça a discutir as presidências
singulares e as presidências mistas, as mesas mistas (dignitários académicos e
dignitários civis) e as presidências bicéfalas com duas mesas separadas (uma
académica, outra civil). Embora sabendo que as universidades espanholas
dependem economicamente dos orçamentos das regiões autónomas, manifesto total
discordância relativamente à precedência que as universidades concedem aos
presidentes das regiões autónomas. Não tenho a menor simpatia por duplas
presidências, entendendo que apenas se deve abrir excepção no caso das
universidades católicas (chanceler e reitor) e em momentos de visita oficial de
altos dignitários da casa real (ex: rei e reitor).
0:52
JVC: Aqui e em muitas outras ocasiões a seguir, uma coisa
inadmissível nos velhos tempos. Ao lado de doutores com insígnias (capelo e
“borla”) sobre o hábito talar, outros apenas com o simples hábito talar, que só
se usa em atos não solenes. Na ULHT, está estritamente proibido. Ao menos,
sobre trajes simples de outras universidades, obrigatoriamente o uso de medalha
solene da ULHT.
AMN: em Coimbra e na maior parte
das universidades clássicas espanholas, as insígnias doutorais são
obrigatoriamente três: capelo, barrete (dito borla ou barrete laureado de
borlas e não “chapéu”, penoso barbarismo que equivale e dizer “aquela coisada”
ou algo bem pior) e anel doutoral. Isto de ir no cortejo em hábito talar sem
insígnias não é tão simples quanto se possa pensar. Falando sempre do caso de
Coimbra, lembro que entre 1840-1880 os professores do Liceu de Coimbra
integravam todas as cerimónias académicas, cortejos incluídos, e os que não
eram detentores de grau de doutor envergavam apenas batina e capa com luvas sem
insígnias.
A regra cerimonialística diz que
os doutores do claustro devem desfilar e estar com hábito e insígnias e que
quem não tiver insígnias não se deve sentar nos doutorais da sala dos atos
grandes.
Quem autorizou exceção a esta
velha regra foi o reitor António de Arruda Ferrer Correia a propósito da
cerimónia de DHC do Presidente da RFA Karl Carstens. Quando este foi doutorado
honoris causa em Direito, a 17.1.1980, o cerimonial académico estava suspenso
desde 1973, quero dizer, não se faziam aberturas solenes do ano académico, não
se faziam DHC, não se arguiam provas académicas com hábito, os novos doutorados
tinham deixado de fazer imposição de insígnias.
A propósito do DHC de Karl Carstens
o reitor despachou no sentido dos lentes do claustro já doutorados, mas que
ainda não tinham feito imposição de insígnias, irem no cortejo e tomarem
assento nos doutorais. Esta decisão abriu uma autêntica “guerra dos lentes” que
se arrastou por toda a década de 1980 e teve um desfecho bem curioso num tempo
em que os adeptos do uso da capa e batina eram flagelados dentro da sua própria
universidade com mimos de fascista para baixo. Outro problema correlacionado tinha
a ver com os doutores indigitados pelas faculdades para proferir os elogios dos
DHC, tendo os reitores das décadas de 1980-1990 despachado no sentido de dizer
que podiam proferir os elogios por terem tomado já capelo (mentirinha piedosa,
pois alguns não tinham imposto insígnias coisa nenhuma!).
0:54 e 1:29
JVC: a UC adotou bicromatismo para Educação Física e para Economia,
contra toda a tradição portuguesa (exceto, por razões conhecidas, a Matemática).
Isto quando já havia o hábito estabelecido no INEF/ISEF/FMH do simples castanho
para a Educação física e já há muitos anos se usava (por exemplo no Porto,
ainda antes da criação da UP), como agora na ULHT, para Economia o carmim, como
derivado, segundo o hábito universal da regra de derivação, do vermelho de
Direito.
AMN: também não concordo com o bicromatismo que fatalmente se
traduz em insígnias bolo de noiva ou bolo de chantili. No caso do vermelho e
branco, a Faculdade de Economia de Coimbra (FEUC) seguiu a tradição adoptada na
Faculdade de Economia da UP, fundada em 1953. Antes de 1974 verificava-se na
FEUP a seguinte discrepância: a cor oficial era vermelho e branco; mas os
estudantes usavam fitas em vermelho e branco enquanto os professores doutorados
que usavam borla e capelo pelo modelo de Coimbra ostentavam não o tom vermelho
e branco mas o carmim e o branco.
Esta divergência cromática saltou
para Coimbra após 1974, cuja universidade se limitou a importar acriticamente
as práticas estabelecidas no Porto [a FEUC foi fundada em 1972 e começou a
funcionar em 1974, estando suspensa a prática das tradições académicas]. Em
1979-1980, com a retoma das tradições académicas, os estudantes da FEUC começam
a usar fitas de seda em vermelho e branco (este vermelho é no mesmo tom de
Direito) e também importaram do Porto o cifrão do Tio Patinhas (ali generalizado
na década de 1950) como pseudo símbolo de Economia e Gestão quando o símbolo clássico
é o caduceu de Hermes/Mercúrio (até as antigas escolas comerciais e industriais tinham este assunto muito bem resolvido, usando os seus estudantes emblemas e crachás metálicos com a roda dentada da Indústria e o capacete alado de Mercúrio).
Já os professores doutorados do
quadro da FEUC só começam a usar borla e capelo na reta final da década de 1980
e quando o fazem as cores adotadas nas insígnias não são o vermelho e branco
mas sim o carmim e branco. Veja-se a galeria fotográfica de DHC da FEUC que
começa em 15.12.1989, http://www.uc.pt/feuc/apresentacao/honoris_causa,
com Aristides Pereira. Neste mapeamento de informação não considero o DHC atribuído por todas
as faculdades existentes em 15.5.1982 ao Papa João Paulo II, que só teve carta
doutoral mas não teve insígnias, em minha opinião uma americanada com o
cerimonial conimbricense nos antípodas dos seus dias de glória.
Houve nesses anos muita discussão
no Senado entre Direito e Economia pois a aplicação do vermelho no selo de cada
uma das faculdades ficava indistinto. Em síntese, temos na FEUC 3 cores:
vermelho e branco, que é a cor oficialmente legítima, nos estudantes; carmim e
branco, nos doutores membros do corpo docente.
O bicromatismo cria problemas de
muito difícil resolução em Coimbra pois há nesta Universidade (tal como nas
espanholas e latino-americanas) a tradição de se misturar nas insígnias todas
as cores de obtenção dos graus e essas cores devem ser claramente distintas.
Vejamos os seguintes casos: quem já for doutor em Direito, usando o vermelho, e
vier a ser doutor em Economia, tendo direito a acrescentar o vermelho e branco,
pela praxe só deveria adicionar o branco. Mas como Economia segue o carmim e
não o vermelho, acrescentará ao vermelho-rubi de direito, o branco e o carmim.
No caso de o primeiro doutoramento ser Economia e o segundo Ciências do
Desporto, isto dará a bela mistura de carmim, branco, castanho e branco pérola.
Uma bela salganhada!
Quanto a Cências do Desporto,
consta que em Coimbra se pretendeu consagrar o verde, que já era a cor usada na
Universidade do Porto (verde claro) e nas universidades espanholas desde 1944
(também se usa para Veterinária). Como a reitoria tinha reserva do verde
esmeralda, e temendo-se confusão de cor, foi-se para o castanho e branco
pérola. Mas mal, diga-se de passagem, pois poderia ter ficado um verde num tom
distinto do verde esmeralda. Ou então haveria que ter atendido ao precedente
configurado pela FMH da UTL, que segue o castanho (onde terão ido buscar esta cor?). Evidentemente que a opção
pelo castanho teria de ser muito bem pensada num registo comparativo, pois não
deve esquecer-se que o castanho é a cor oficial dos cursos ministrados pelas
Escolas Técnicas de Arquitetura e Engenharia de Espanha, em conformidade com as
disposições da Ordem Ministerial de 30.11.1967. Haveria ainda que estabelecer
as devidas comparações com a cor oficial consagrada pela Faculdade
Técnica/Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto em 1921 que não é
um castanho puro, mas foge ligeiramente para o castanho. Na verdade, a “cor de
tijolo” da FEUP anda entre o castanho e o bordeaux do tijolo empregue nas obras
de construção civil.
Uma outra opção, a meu ver não
suficientemente fundamentada, passa pelo Laranja de Psicologia que vingou após
1974 nas clássicas de Coimbra, Lisboa e Porto. Diz-se que por influência das
escolas da Suiça e da Bélgica. Escusado será dizer que em Espanha se tinham
consagrado em diploma de 4.8.1944 o cor-de-laranja para Ciências Económicas e
Empresariais, enquanto que naquele país a cor de Psicologia é lilás.
Voltando a Economia: não está ainda
apurado onde é que o Conselho Científico da FEUP foi buscar o vermelho e branco
(ou melhor, o carmim e branco). Há quem diga e com boas razões que esta cor
mista já era usada pelos estudantes do Instituto Comercial do Porto que na
década de 1970 veio a dar o ISCAP e que foi do ICP que ela saltou para a FEUP.
Uma coisa é certa, não se respeitou o disposto no Decreto de 6.2.1902, segundo
o qual os lentes de Ciências Económicas e Sociais da Academia Politécnica do
Porto deveriam usar nos alamares da toga a cor carmim. Lembre-se ainda que
antes da criação da FEUP (1953) o vermelho orlado de branco já estava
estabelecido como cor oficial do Instituto de Economia e Gestão da UTL
(Portaria n.º 11.170, de 17.11.1945)
Perante tamanha salada russa
haveria que estabelecer regras quanto às cores académicas, por exemplo através
do CRUP, como fazem os espanhóis (Cf. Catálogo
de orientaciones sobre el uso del traje académico y sus colores. Salamanca,
2010, http://catalogo_de_orientaciones_sobre_el_traje_academico_y_sus_colores_mayo_2010.pdf).
Seguidamente dou exemplo de
algumas instituições que usaram ou ainda hoje usam duas cores distintivas
(aproveitem-se as recolhas de Armando Luís de carvalho Homem, O traje dos lentes, 2007):
-na UC a Faculdade de Matemática,
cor aprovada pelo marquês de Pombal na reforma de 1772 que instituí esta
faculdade como escola maior autónoma. Era a cor distintiva das vestes de
Urânia, daí a opção (o azul celeste do firmamento e o branco das nuvens).
Quando em 1911 esta faculdade foi extinta e integrada como secção/departamento
da Faculdade de Ciências Naturais, passaram a coexistir nesta escola as
seguintes cores: azul claro para todos os ramos das ciências naturais, opção
seguida em Lisboa, no Porto e no IST da UTL; azul claro e branco para
Matemática e derivados;
-na Escola Médico-Cirúrgica do
Porto, carmim e amarelo nas fitas pendentes das cartas de curso e nas fitas
usadas pelos estudantes. Esta situação foi mantida transitoriamente na
Faculdade de Medicina da UP, criada em 1911, pelo menos até ca. 1915-1916, tendo
passado então ao monocratismo amarelo conforme tradição conimbricense e
espanhola;
-na UC, caso da FEUC (carmim e
branco) e na FCDEF (castanho forte e branco pérola);
-no ISCTE/IUL, para Gestão (verde
e branco), além de outras ciências onde também se verifica o bicromatismo (ex:
azul e verde para Ciências Sociais);
-na UCP, Faculdade de Ciências da
Saúde, que no caso de Enfermagem junta ao amarelo de Medicina o branco;
vermelho e branco (Ciências Económicas e Empresariais); tijolo e verde (Escola
Superior de Biotecnologia); vermelho escuro e branco (IUDPS);
-na UP onde ocorrem vermelho e
branco (FEUP), amarelo e azul forte (Instituto de Ciências Biomédicas Abel
Salazar), amarelo e branco (Medicina Dentária), amarelo e verde
(Nutricionismo).
A discussão sobre as cores a
adoptar pelas novas escolas/departamentos/faculdades está longe de ser pacífica
em Espanha. Relativamente a Portugal, onde as cores oficiais não são nem podem
ser fruto de votação de estudantes avinhados num jantar de curso nem de um
qualquer capricho de docentes, eu aconselharia que se começasse por fazer as
seguintes perguntas que por si só estabelecem 3 critérios estruturantes:
a) Já
existe cor consagrada oficialmente nalguma universidade espanhola para ciência
idêntica?
b) Já
existe cor consagrada oficialmente nalguma universidade portuguesa para ciência
idêntica?
c) Quais
são as cores simbólicas associadas ao deus/musa tutelar desta área do saber na
cultura clássica?
Resposta: seja
qual for a decisão a tomar, deve-se evitar como primeira opção o bicromatismo
que segundo a tradição académica é na sua essência reservado a misturar cores
quando se é detentor de grau em mais do que uma ciência. Aliás, nos anéis
doutorais com gema esta mistura é rigorosamente interdita, devendo usar-se
somente a cor da primeira ciência em que se tomou grau.
1:48
JVC: Aquela senhora está a distribuir folhetos de propaganda no cortejo
académico?
AMN: parece que sim. Seria alguma
operação de marketing junto de potenciais empregadores, ou quiçá uma campanha
de depilação gratuita?
2:22
JVC: Falta de compostura. Também noutros momentos, doutores que
acham graça a trocar dichotes com a assistência.
AMN: nada como estudar os cortejos académicos nas universidades da
Grã-Bretanha e da Suécia… influência do formato tele-galas?
3:53
JCV: O barrete (“borla”) é para ser usado na cabeça! Exceto o Lula,
que só depois é que vai ser doutor.
AMN: é como diz e a praxe não admite exceção. Contudo, visualizando
imagens de arquivo, vemos no DHC de António de Almeida Santos (9.12.2007) o
director da Faculdade de Direito alegremente de barrete na mão, tanto na
investidura como nos abraços ao claustro. A regra é que o cobrimento de cabeça
segue sempre o reitor, isto é, os docentes cobrem-se e descobrem-se, sentam-se
e levantam-se imitando os gestos do reitor. Quando nem assim acusam o toque,
cabe ao mestre-de-cerimónias suspender o ato e informar o desinformado.
O que a praxe não autoriza é que
um lente do claustro conimbricense, se detentor de insígnias, desfile de cabeça
descoberta.
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