quarta-feira, 4 de abril de 2012

Doutoramento honoris causa em medicina veterinária pela Universidade de Szeged, Hungria, do Prof. John Beumer, dos EUA (11.11.2010).
Toga preta talar muito singela, apertando na frente com carcela vertical, mangas de tipo sobretudo e gola de orelhinhas de tipo gabardina. Vivo na cor da especialidade científica com base em duas bandas verticais de cetim. Barrete à americana. As togas dos reitores e decanos das faculdades são mais complexas, com guarnições de veludo nas bocas de mangas e na frentre, metendo alamares nos canhões e peito. Já a toga professoral apresenta um figurino bastante singelo no que respeita à escolha do tecido, à ornamentação e à técnica de confecção.
Embora a USzeged tenha sido fundada em 1872, o traje professoral parece ser uma criação contemporânea do desmembramento da URSS, confirmando soluções adoptadas em universidades da Hungria, Rússia e Roménia:

1) opção por tecidos não nobres como sejam sarjas e licras, tipo low cost. Até às crises académicas da década de 1960, as vestes académicas eram confeccionadas em seda, cetim e damasco. Os tecidos generalizados a partir da década de 1980 correspondem a padrões texteis tradicionalmente utilizados nas oficinas de fardamente militar na confecção dos uniformes n.º 3 e n.º 2. Entre o clero católico secular e regular (incluindo as monjas e as irmãs congregacionistas) também existiam os hábitos domésticos ou de trabalho, em texteis baratos. O que não havia na Igreja Católica, nas universidades e nas forças militares era confusão entre farda de gala e farda de trabalho. Em todo o caso a confecção de vestes ultra-simplificadas tornou-se uma tendência pós-Vaticano II, especialmente entre os adversários dos "punhinhos de renda" dos idos de Trento;
2) consagração de modelos incaracterísticos e ecléticos, que noutros contextos passariam facilmente por agasalhos civis de inverno (casacões, gabardinas), trajes domésticos de quarto (nightgown, dressing robe), indumentária desportiva (boxing gown, roupão de pugilista), trajes oficinais e laboratoriais (bata), trajes de fantasia (kimonos, togas de licra e fecho éclair);
3) réplicas simplificadas de modelos norte-americanos (cap and gown);
4) nova tendência para o regresso das coberturas de cabeça, sendo o barrete dos norte-americanos o modelo mais generalizado. Nas universidades da Roménia, o rudimentarismo da confecção chega a gerar algum desconforto visual;
5) acentuada rigidez dos tecidos e das costuras, com excessiva rectangularização das linhas predominantes, solução que confere às vestes o criticado aspeto de "saca de batatas" ou "gabardina", uma tendência estética que tem invocado a herança das fardas militares, dos sobretudos dos banqueiros e administradores de empresas e dos fardamentos das companhias de aviação civil (décadas de 1960-1970). O momento alfa desta tendência radicará no processo de estandardização das togas académicas norte-americanas na transição da década de 1890 para os inícios do século XX: subida progressiva da altura da bainha para a meia perna (no caso de Espanha, a bainha oscila entre a meia perna e o joelho. A moda da minisaia parece ter influenciado aquilo a que poderíamos chamar de minitogas); substituição do clássico cair trapezoidal pela linha "saca de batatas" (mesma largura nos ombros, na cintura e na bainha, inventona que deixaria o mais seráfico dos barbeiros com os cabelos em pé); rigidificação das costuras e dos galões das mangas;
6) alegre e descontraído porte de vestes académicas (tradicionalmente equivalentes ao traje de rigor e às fardas militares n.º 1) com roupas, sapatos e gravatas multicolores e multifunções, o que gera situações cromáticas no mínimo hilariantes. Universidades clássicas como Oxford, Cambridge, Coimbra, Salamanca e a maior parte das holandesas não aceitam esta espécie de salada russa. Já nas francesas, belgas (incluindo a Católica de Louvaina) e norte-americanas imperam o caos cromático e a mistura de peças formais e informalíssimas.
Cerimonialistas e académicos mais sisudos não deixarão de perguntar-se pela credibilidade e densidade patrimonial destas vestes inventadas como marcos identitários nos últimos 20 anos.
Fonte: http://www.stoma.u-szeged.hu/

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