Virtual Memories

sábado, 3 de dezembro de 2011

Retrato de Francis Fukford (1803-1868), bispo de Montreal. Cliché de 1865.
Fonte: http://www.mccord-museum.qc.ca/en/collection/artifacts/I-14285.1

Retrato do reverendo David Bruce, líder da New South Wales Presbyterian Church. Cliché de ca. 1897.
Fonte: acervo da National Library of Australia, http://nla.gov.au/nla.pic-an23243148

Um exemplo da densidade estética e artesanal das antigas vestes talares de dois corpos. Sotaina anglicana assertoada e fixada por faixa e toga de mangas de saco. A sobreveste deste conjunto é a solução corrente nas universidades e tribunais dos EUA. A cobertura de cabeça adequada a este tipo de vestes (abrangendo as togas dos juizes britânicos, escoceses, canadianos, e os portadores do hábito curto ou abbatina) era o tricórnio de feltro preto. Nos domínios britânicos também se usou com o hábito curto a cartola (top hat) com presilhas metidas entre a aba e a copa.
Retrato do reverendo Roseingrave Macklin (1792-1865), tirado em 1862. Foi reitor da Christ Church, em Derby.
Foto: http://photo-sleuth.blogspot.com/2011

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Outro registo fotográfico do bispo Samuel Wilberforce (década de 1860) com a abbatina.
Fonte: http://geral-massey.org.uk/massey/cbiog_part_02.htm (Gerald Massey: a biography, Chapter two).

O bispo Samuel Wilberforce sentado (meados da década de 1860). Expressivo registo da versão anglo-saxónica do hábito curto, hábito de abade ou abbatina: meias altas de seda, polainas e calções; sotaina de pano de seda, de fechamento assertoado, com bainha ligeiramente mais curta do que a da sobrecasaca; sobrecasaca preta, também em seda, forrada de cetim, com peitilhos de dobrar e duas carreiras verticais de botões forrados; cinto de pano; cartolão preto de castorina; volta branca. A variante católica era praticamente idêntica mas nãocomportava sotaina. Vale a pena salientar que a sotaina anglo-saxónica tem rigorosamente o mesmo feitio da sotaina da beca dos juizes portugueses.
Fonte: http://www.standford.edu/group/and/cgi-bin

Perfil de Samuel Wilberborce (1805-1873), bispo de Oxford com o hábito curto. Feito dos ombros e costas da sobrecasaca de seda preta.
Fonte: http://indonesiaindonesia.com/f/88492-famous

Costumes e formalidades ligadas ao casamento nas comunidades tradicionais

O pedido de namoro
Até aos inícios do século XX em todas as localidades portugueses namorava-se para casar e casava-se para consolidar património, ter filhos e amparar a família. A relação iniciava-se no dia do consentimento do pedido.
O casamento poderia ser antecedido por um período de namoro consentido e autorizado pelo pai da noiva.
Em algumas aldeias, o pedido de casamento obedecia a um formulário. O candidato deslocava-se à casa dos pais/padrinhos/tutores da noiva, chamava em voz alta pelos moradores ou batia na porta da cozinha com a mão as três sacramentais pancadas. O pedido podia ser feito à porta ou já com o noivo sentado na mesa da cozinha em frente ao futuro sogro.
Em Germil, Ponte da Barca, o candidato ficava à porta da casa dos pais da rapariga e dizia:

Noivo: Olê?
Pai da noiva: Qui é que quêr?
Noivo: Gente de paz e bô viver.

Pai da noiva: Venha par’dentro, que dessa gente é que há-de haver.

Seguia-se a formalização do pedido que podia ser deferido ou indeferido. Sentando-se em torno da mesa, o candidato expunha as suas intenções e formulava o pedido: “Senhor fulano, eu sou um homem honesto, trabalhador, poupado, gosto da sua filha e vinha pedir autorização para a gente se casar”. Consentindo, o futuro sogro, abria uma garrafa de licor caseiro, brindava e a partir desse momento podia decorrer o namoro de janela. Não consentindo, respondia “Eu não tenho filhas para casar”,devendo o candidato retirar-se, situação que implicava habitualmente corte de relações e namoro clandestino.
Na povoação de Alturas, Barroso, o formulário era o seguinte:

Pai da noiva: Quem stá lá?
Candidato: Gente de paz
Pai da noiva: que pertende de cá?
Candidato: Honra, mulher e dinheiro.
Pai da noiva: Tudo cá há para lhe dar.

Aberta a porta, e apresentada a noiva, o candidato recitava-lhe quadras alusivas à sua condição patrimonial. Noutras localidades, o pedido era formulado por uma medianeira que a incumbências do interessado se deslocava a casa dos pais da noiva e depois trazia a resposta.
O pedido urbano é mais formal e frequentemente completado com um segundo momento, o pedido de noivado, que implica a oferta à noiva de um anel de ouro com brilhante (anel de noivado, solitário). O anel de noivado masculino só começou a generalizar-se nos meios rurais pela década de 1970.

Pedido de casamento
Há notícia de realização de pedido por parte do nubente no dia do próprio casamento. Em Condeixa-a-Nova era costume o noivo juntar os seus convidados na casa paterna, convidando todos a iniciar o cortejo em direcção à casa dos pais da noiva: “Peço-lhe o favor de me acompanharem todos a casa minha futura esposa, para depois dali seguirmos para a igreja”.
O cortejo punha-se em marcha, sendo o noivo ladeado por dois padrinhos.
Chegados junto à habitação dos pais da noiva, deveria o noivo chamar em voz alta. Em certas casas, a família da noiva fechava as janelas e gelosias por pirraça, deixando o noivo envergonhado se este não soubesse recitar os versos de estilo.
Um dos padrinhos dirigia-se à porta principal, batia três pancadas com a mão ou com uma bengala e aguardava. De dentro perguntavam:

Mãe da noiva: Quem procura?
Padrinho do noivo: Honra, virgindade, uma garfada de boa enxertia e uma argola para um pau (a resposta devia ser em versos rimados).
Mãe da noiva: Entre que tudo isso aqui há.

Competia à mãe da noiva apresentar a noiva aos convidados do noivo.

Proclamas
O casamento católico passou a ser considerado sacramento no século XVI por determinação do Concílio de Trento. A função religiosa em templo era obrigatoriamente antecedida de banhos, pregões, proclamas ou denúncias.
Durante os três domingos que precediam o casamento, o padre lia em voz alta na missa um pregão do tipo “Com o favor de Deus e da Santa Madre Igreja querem contrair o santo sacramento do matrimónio X e Y (nome, idade, estado, ocupação, naturalidade, filiação, residência). Quem souber de algum impedimento que faça com que este casamento não possa realizar-se, debaixo de pena de excomunhão maior o declare e na mesma excomunhão incorre aquele que por malícia, o pretender impedir”.

Prendas ao padre
Nalgumas terras, como Tolosa (Niza) no primeiro domingo das proclamas os noivos ofereciam ao padre uma galinha e um quartro de borrego. Em Niza, o padre recebia dinheiro, trigo (meio alqueire), vinho (2l), carne (1 quarta) e uma galinha.

Serenata à noiva e aos noivos
Em Idanha-a-Nova, e mais particularmente em Medelim, era costume os rapazes solteiros, munidos de viola de arame, irem cantar em violada ou em rusga à porta da noiva, que conjuntamente com o noivo ouvia a serenata e retribuia com amêndoas caseiras e tremoços doces. A rusga fazia voltas à povoação, cantava durante o passa calle e voltava à porta da noiva segunda e terceira vez.

As bicas
Na povoação de Jarmelo (Guarda), no último domingo das proclamas, a noiva reunia as amigas de solteira e oferecia-lhes uma caldeira de papas de milho e leite, arroz doce e coscoréis. Por seu turno, o noivo trazia os amigos e oferecia pão, queijo e vinho. Corresponde à urbana festa de despedida de solteiro.

Convites
Tradicionalmente os convites de casamento eram orais, indicando-se o dia, hora e local e o percurso do cortejo (a pé, em carroças). Pelo mesmo modo se convidavam os padrinhos do noivo e da noiva.
Foi nos casamentos urbanos da aristocracia e da alta burguesia que se começou a utilizar o convite escrito, popularizado no primeiro terço do século XX. Na participação urbana escrita, o convite segue uma fórmula esteriotipada, sendo os pais a convidar: P e Y participam o casamento de sua filha X com o Exmo. Sr. T, filho da Exma. Sra. D. M e do Exmo. Sr. J. e oferecem a sua casa em (morada). Noutros indica-se o dia, hora, local. Nos mais recentes, inclui-se o trajecto entre o local da cerimónia e o restaurante.

Presentes da noiva
Por influência dos casamentos urbanos, quase todos os noivos organizam listas de prendas em lojas comerciais, outros pedem dinheiro ou electrodomésticos. Estas prendas costumam ser entregues antes do casamento.
No concelho de Óbidos, nos antigos casamentos rurais, as vizinhas e amigas visitavam a noiva no dia seguinte ao casamento, ofertando-lhe panos de linho, feijão seco, carne de porco, azeite, vinho. A noiva deveria agradecer a visita e as prendas, distribuindo licores e fatias de bolo dos noivos.

Guloseimas às crianças
Em terras de Óbidos, Cadaval e outras, os padrinhos levavam bolsinhas com guloseimas para distribuir às crianças que vinham espreitar o cortejo nupcial e se apinhavam no adro da igreja. Habitualmente confeitos e amêndoas. Os padrinhos sovinas eram alvo de cantorias mordazes, tal como acontecia aos que nada ofereciam no pão-por-deus.

Enxoval
Tradicionalmente os noivos pobres não tinham dote e optava por morar em casa dos pais. Dizia-se que a noiva não levava tijela nem penico. O noivo também não tinha património que não fosse de alfaias agrícolas.
Nas povoações do município de Mafra era costume os noivos irem de carro de bois à vila comprar o enxoval, regressando com o carro ornamentado.
Nos meses que antecediam o casamento, a noiva, a madrinha de baptismo e a mãe bordavam abundantemente lençóis, travesseiros, toalhas, e confeccionavam peças de vestuário que constituíam o enxoval da noiva.

Casamento civil
O casamento civil foi instituído em Portugal pelo Código de Registo Civil de 18.2.1911, devendo preceder o religioso. Era habitualmente celebrado pelo conservador na sala de actos do registo civil ou na casa dos pais de um dos noivos. Cumpridas as formalidades requeridas, o conservador lia os artigos da lei, sinalizava os deveres dos nubentes e declarava-os casados em nome da República Portuguesa. O conservador, os noivos e as testemunhavam assinavam no fim o respectivo auto.
Copiado de França, país onde o casamento civil é uma importante festa familiar, em Portugal o casamento civil ficou sempre uma cerimónia incaracterística que os noivos fazem o “frete” de fazer porque é obrigatória.

Cortejo nupcial
Na actualidade os cortejos nupciais são iguais em figurino seja qual for a crença religiosa dos noivos. A partir da década de 1970 tornaram-se visíveis incorporações de tradições trazidas pelos emigrantes portugueses em França, Suiça, EUA, Canadá, África do Sul.
Os noivos abastados faziam o trajecto de ida e volta em viaturas de tracção animal decoradas com flores, fitas e colchas. Os noivos de condição modesta faziam o trajecto a pé, no mesmo estilo das procissões.
Na maior parte das terras, a comitiva do noivo ia e voltava da igreja em separado da comitiva da noiva. No casamento urbano, as comitivas seguem separadas para o templo, mas desfilam em cortejo conjunto até ao local da boda.
Em Ponte da Barca, os noivos abastados eram no regresso da igreja esperados à porta da sua nova morada pela criadagem, abraçando as criadas a noiva. O costume é obviamente de origem fidalga.
Em Condeixa-a-Nova e no Sabugal, o noivo formava cortejo com os seus convidados, caminhava até à casa dos pais da noiva, batia três pancadas na porta, e perguntado quem era e o que queria, respondia em verso. Nuns casos respondia a mãe da candidata, ou então a madrinha, autorizando a abertura da porta e a entrada do noivo.
Em certas povoações do município de Paredes, e na Nazaré, as flores e confeitos eram lançados sobre os noivos ainda dentro do templo. Noutras ocorria quando os noivos assomavam à porta da igreja. O confeito miudinho de açúcar branco era um doce muito considerado, sendo nas universidades de Coimbra e de Salamanca parte da propina paga pelos bacharéis na colação do grau. Em certas povoações, lançavam-se molhadas de trigo sobre os noivos, símbolo de abundância, prosperidade e fartura, que a noiva recolhia e levava para casa.
Em Vermoil, Pombal, finda a cerimónia religiosa, o noivo seguia para casa dos pais. A noiva dirigia-se com as madrinhas para casa de seus pais. Esta separação obedecia a um formulário, dizendo o noivo às madrinhas da noiva: “Senhoras madrinhas, aqui lhes entrego a minha mulher livre e desembargada, espero que ma entregarão tal qual lha entrego”. Ao fim da tarde ou à noite, era a noiva levada pelas madrinhas para a nova habitação, cozinhava e em seguida era fechada à chave. Chegava o noivo com os pais, padrinhos e convidados, batia à porta e seguia-se um diálogo:

Madrinhas: Quem vem lá?
Noivo: Gente de paz!
Madrinhas: Que querem os senhores?
Noivo: Vimos ver se podem dar agasalho a um pobre maltez.
Madrinhas: Não pode ser!

Após várias tentativas, as madrinhas abriam a porta, entregavam a chave ao noivo e diziam: “Aqui tens a tua mulher livre e desembargada”.

Boda
Até à década de 1920 realizam-se separadamente duas bodas, a da família do noivo e a da família da noiva. Cada um tratava dos seus convidados, abate de gados, comida, bebida e despesas.
Nas terras dos arredores de Coimbra era costume distribuir fatias dos bolos pelas casas e cantar serenatas aos noivos. A distribuição de doces também se fazia nos Açores.
Modernamente está generalizada a boda conjunta, que reúne no mesmo local os convidados do noivo e da noiva, havendo quem reparta as despesas por igual (meio por meio) ou quem pague em função do número de convidados que leva.

Bolo dos noivos
O bolo dos noivos não era costume generalizado em Portugal. Era confeccionado, fatiado e distribuído em algumas terras. O “bolo da noiva”, recamado de branco é um costume urbano. Na Columbreira, o bolo tinha forma de ferradura, com o rebordo exterior recortado e simulação das cabeças dos cravos metálicos. A receita levava farinha de trigo, açúcar, um cálice de aguardente, canela, manteiga e limão. Quem partia o bolo e dava uma fatia a provar à noiva, repartindo o restante pelos convidados era a madrinha da noiva. No casamento urbano, os noivos empunham conjuntamente uma faca, fatiam o bolo, provam primeiro e depois distribuem. Em 1911, quando foi instituído o registo civil, passou a coser-se um segundo bolo dos noivos que era oferecido ao conservador do registo.
A ferradura coincide sensivelmente com a forma da cornucópia e do “croissant”, servindo para esconjurar o azar e propiciar a abundância na vida do casal. Na região de Coimbra fazia-se o “bolo da noiva”, de massa doce, pondo-se por cima um raminho de flores ou duas figurinhas de açúcar que simbolizavam o noivo e a noiva. Na actualidade ainda há pastelarias que usam colocar os noivos de plástico sobre o bolo.

Confirmação de papéis
Em aldeias do concelho de Cinfães, os amigos dos noivos armavam mesas no caminho onde transitava o cortejo nupcial, onde depositavam materiais de costura e de poda. Os nubentes deveriam sentar-se, um de cada lado, e demonstrar perante a comunidade a sua aptidão para as tarefas domésticas (enfiar a agulha e coser) e agrícolas (manejar o podão ou a enxada com perícia).
No fim brindavam com vinhos e doces.

Baile
Foi tradição em muitas terras realizar-se um baile em honra dos noivos na noite do dia do casamento: bailarico, bailho, balho, feito na casa de baile, isto é, na sala principal da moradia.

Obstáculos e charivaris
Na cultura tradicional europeia e portuguesa havia o costume de se atormentar os noivos jovens e velhos (segundas núpcias) com caçoadas e partidas.
Na actualidade besuntam-se carros e enchem-se as camas de armadilhas (lençóis de bicicleta, urtigas, açúcar, pacotes de leite).
Nos Açores os rapazes solteiros juntavam-se na madrugada da noite do casamento e iam com latas, búzios e chocalhos afligir os noivos. Se estes acendessem a luz, abrissem a porta e ofertassem petiscos e vinhos, tudo acabava em bem. Se não respondessem, eram castigados com uma novena de latadas.
Em Videmonte, Guarda, atiravam-se punhados de sal aos noivos durante o trajecto de regresso da igreja ou armavam-lhes trincheiras com paus e instrumentos agrícolas e barravam-lhes o caminho com fitas e cordeis. Noutras terras, durante a cerimónia religiosa tocavam-se dobres a finados em vez de repiques festivos para irritar os novos e familiares.

Lua de mel
A lua de mel é uma tradição urbana internacional implantada no último terço do século XX nos meios rurais.

Alianças
A bênção e troca de alianças no acto do casamento (algumas com nomes e datas gravadas no interior) é uma tradição aristocrática que só se popularizou no século XX. Na década de 1920 ainda era considerada novidade.

Entrega das chaves da casa
No Louriçal, concelho de Pombal, após o regresso da igreja, a chave da casa era posta nas mãos do noivo que, voltando-se para os convidados dizia:
“Toma lá esta chave, para fechar e desfechar a toda a hora que quiseres entrar, ou com amigos ou sem eles. Se tiveres alguma coisa a dizer, di-lo na presença, não o digas na ausência”.

A noiva recebia as chaves e respondia em voz alta:
“Meus padrinhos e madrinhas, todos que me acompanharam da minha casa até à igreja e da igreja até minha casa, façam favor de entrar e assentem-se por donde puderem e comam do que houver, que eu hoje aqui não governo nada, nem o meu marido. Se houver alguma falta, fazem o favor de me desculpar”.

Vestido da noiva
O vestido branco de noiva com véu é um costume aristocrático do século XIX lançado em 1840 pela rainha Vitória da Inglaterra. Nas primeiras duas décadas do século XX foi apropriado pela alta e média burguesia. As revistas ilustradas mundanas e os catálogos de moda dos grandes armazéns do pronto-a-vestir desempenharam um papel fundamental na popularização do vestido da noiva em Portugal.
Nos meios rurais a noiva vestia traje domingueiro ou de festa, sempre com saia pregueada comprida, como confirmam todas as recolhas de trajes de noivos efectuadas por grupos folclóricos. O traje de noivo era a indumentária domingueira e não o fraque com cartola.

Ramo da noiva
Na tradição portuguesa o ramo da noiva era de flores naturais de laranjeira.

Atirar o ramo da noiva
A brincadeira generalizada que consiste em a noiva reunir as solteiras presentes na boda e lançar para trás das costas o ramo não é um costume tradicional português.

Leilão da liga
A liga não integrava os costumes tradicionais portugueses.

Objectos ligados a superstições
O costume da noiva levar um objecto velho, um objecto novo, um objecto emprestado e um objecto azul é oriundo da Grã-Bretanha.

Carregar a noiva ao colo
Embora faça parte da imagem de marca de muitos filmes românticos, nas comunidades tradicionais portuguesas o noivo não entrava na nova morada com a noiva ao colo. Ou entravam os dois em simultâneo, após a boda, ou a noiva já lá estava acompanhada das madrinhas, sendo solenemente entregue ao marido pelas ditas madrinhas.

Fontes
VASCONCELOS, José Leite de (1988), Etnografia portuguesa. Volume X. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda.
Citar: AMNunes, Costumes e formalidades ligadas ao casamento nas comunidades tradicionais, http://virtualandmemories.blogspot.com/, 3.12.2011

Novos uniformes aprovados para o exército português. O figurino 2 (n.º 10 na prancha ilustrada) corresponde ao traje de capelão militar.
Fonte: O Occidente n.º 252, de 21.12.1885

Novos uniformes do exército português, figurinos
Fonte: O Occidente n.º 252, de 21.12.1885

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Manifestações protocolares nas homenagens a Ivens e Capelo (1885)

Sessão de homenagem a Capelo e Ivens no Ateneu Comercial do Porto, com uso de mesa de presidência
Fonte: O Occidente n.º 247, de 1.11.1885

Sessão solene de homenagem a Capelo e Ivens na Associação Comercial do Porto
Fonte: O Occidente n.º 247, de 1.11.1885

Sessão de homenagem aos exploradores Capelo e Ivens na Associação Comercial de Lisboa. Repare-se na mesa da presidência coberta com toalha, que ganhará enorme relevância em Portugal após 1910. A tradição protocolar da mesa da presidência é de raiz administrativa. Entronca nas antigas mesas de despacho das confrarias, sessões municipais, irmandades e tribunais superiores. As mesas eram espaços de trabalho, embora a sua constituição obedecesse a estilos consagrados nos regimentos e compromissos:

1-missa no oratório ou orações propiciatórias, feitas individualmente ou conduzidas por um capelão;
2-toque de sineta ou campanhia para reunir em proximidade da porta principal os convocados;
3-anúncio da chamada em voz alta pelo pregoeiro e/ou mestre de cerimónias (Intretis in congregatio, intretis);
4-entrada dos convocados na sala em fila, os mais novos na frente, os mais velhos na rectaguarda;
5-os mesários começam a dispor-se em torno da mesa, aguardando de pé que o presidente tome o lugar de honra;
6-os mesários só tomam assento após autorização do presidente;
7-os mesários sentam-se alternadamente à direita e à esquerda do presidente, por ordem de antiguidades (idade, data de nomeação).
8-os trabalhos são declarados abertos, interrompidos, adiados ou encerrados em voz alta pelo presidente da mesa;
10-caso as falas sejam proferidas por mestre de cerimónias ou oficial designado, este fala sempre "Em nome de... declaro...".

Há quem confunda a fala administrativa do presidente da mesa ou do seu porta-voz com a fala do pregoeiro. Recordemos, são papeis inconfundíveis. O pregoeiro cantava as frases num registo alto e dramático, como ainda hoje acontece nos leilões de algumas casas de antiguidades e nos sorteios de jogos da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Quem tenha memória dos antigos pregões populares portugueses que se ouviam nas cidades e aldeias quando passavam os vendedeores e vendedeiras, não terá dificuldade em pereceber a diferença basilar entre o registo do porta-voz e a fala do pregoeiro. Em alguns tribunais franceses (cada vez menos) ainda se ouve a bastonada seca no estrado e o declamatório "Le Tribunal".
Na actualidade em Portugal, a constuição de mesas de presidência segue as mesmas formalidades em todas as instituições, sejam elas judiciárias, legislativas, executivas, militares, académicas, empresariais, centrais, regionais, locais. Os membros da mesa ocupam os lugares previamente marcados pela organização, sem as antigas solenidades. Já no Brasil, a constituição da mesa obedece às antigas chamadas em voz alta, entrando cada elemento por sua vez no paraninfo/palco. Apesar de sugestiva, a solução brasileira origina muitas tensões nas universidades, pois de cada vez que entra um professor ou um político menos amado, a plateia começa a assobiar e a vaiar.
Fonte: O Occidente n.º 246, de 21.10.1885

Manifestações de apoio a Capelo e Ivens nas estações ferroviárias no percurso Lisboa-Porto
Fonte: O Occidente n.º 246, de 21.10.1885

Jantar de homenagem a Capelo e Ivens no palácio de Cristal do Porto
Fonte: O Occidente n.º 246, de 21.10.1885

Sessão solene e conferência promovida pela Sociedade de Geografia de Lisboa no teatro de S. Carlos em homenagem aos exploradores africanos Capelo e Ivens
Fonte: O Occidente n.º 245, de 11.10.1885

O processo mediático de heroicização de Capelo e Ivens, empolado pelos conflitos nacionalistas e colonialistas de finais do século XIX. A forma de representação adopta a gramática de consagração em voga nas orlas fotográficas (governos, casas reais, cursos superiores) e nas telas usadas pelo Vaticano nas cerimónias de canonização e beatificação. Os louros invocam a cultura greco-romana.
Fonte: O Occidente n.º 245, de 11.10.1885

Iluminação no terreiro do paço e ornamentação na Sociedade de Geografia de Lisboa nas homenagens a Capelo e Ivens

Chegada a Lisboa dos exploradores do continente africano Roberto Ivens e Brito Capelo. Foram recebidos como heróis em Lisboa e no Porto, protagonizando o primeiro grande fenómeno mediático português contemporâneo de culto de figuras mediáticas, muito antes de Gago Coutinho, Sacadura Cabral e dos jogadores de futebol de primeira liga.
Fonte: O Occidente n.º 243, de 21.9.1885

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Na imagem superior, retrato do padre Carlos João Rademaker, falecido em 6.6.1885, com ferraiolo de confecção simples e batina ordinária.
Fonte: O Occidente n.º 235, de 1.7.1885

A roupeta do padre Jan De Smet, Collection of the Western Jesuit Mission, Saint Louis University Art Museum, http://www.romeofthewest.com/2006/12/phtos

Belíssimo retrato do padre e missionário jesuíta Pieter Jan de Smet (1801-1873), de naturalidade belga, com a clássica roupeta e o barrete que tem no centro da copa um losango rígido e não o comum pompom. Desde o século XVI que o hábito talar dos membros da Companhia de Jesus era a roupeta de um corpo, uma espécie de túnica preta singela que tinha uma pequena carcela rasgada entre a base de colarinho e a linha do diafragma. As mangas eram lisas, cilindriformes. À semelhança dos demais hábitos dos clérigos seculares não tinha feitios nas costas (nem saio, nem machos, nem pregas, isso eram as batinas). Como facilmente se depreende, a a roupeta vestia-se e despia-se pela cabeça. Para cobrir a cabeça usava-se o barrete quadrangular, despojado de borla, e um chapéu de cartão forrado de tecido preto, com copa plana e aba de meio saturno. O abafo era desde o século XVI a capa preta talar (meio círculo), com clarinho raso, a que os espanhóis chamam indevidamente mantéu espanhol, quando tal atavio foi usado em Espanha, França, Itália, Portugal, sendo ao presente a capa dos lentes da Universidade de Coimbra.
Havia quem chamasse a roupeta de sotaina, designação de aceitar caso se pretenda que era veste de trazer por baixo de um abafo. Em todo o caso, há que ter muitas cautelas com a flutuação das designações dicionarizadas. Veste praticamente igual à sotaina dos jesuitas ainda se vê em Itália, nos padres da região de Milão, levando ali o designativo de batina ambrosiana. Bem, ou é batina ou é sotaina. As duas coisas é que não pode ser. A batina, ordinária ou de gala, é a romana. O que se chama de ambrosiana não é batina mas sim sotaina ou roupeta. Pelas fotografias que conheço, a ambrosiana não parece ter saio e a carcela é talhada sobre o peito, pelo que se deduz que seja de vestir pela cabeça. Vestes semelhantes à sotaina dos jesuitas e à chamada batina ambrosiana estão fartamente registadas pelo abade de Thiron (Album historique des costumes religieux, 1860): irmãos conversos do Monte-Cassino, irmãos hospitalários de Burgos (aqui com carcela rasgada nas costas), cónegos regulares de Santo António (gravura não inteiramente explícita), irmãos somascos, oratorianos italianos, barnabitas, doutrinários, clérigos regulares de assistência aos doentes (com cruz na capa e no peito), clérigos regulares das escolas pias, padres da doutrina cristã, congregação dos padres da missão.
Nas missões do Oriente, os jesuítas vestiam um hábito talar distinto do ocidental e cobriam a cabeça com uma barrete de feitio chinês.

Museu do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra enriquecido com os contributos do Prof. Júlio Henriques
Fonte: O Occidente n.º 237, de 21.7.1885

Exposição Agrícola de Lisboa, 31.5.1885
A imprensa ilustrada do século XIX regista enorme diversidade de eventos que já não cabem na categoria de cerimonial público, religioso ou militar: eventos desportivos, inauguração de obras, congressos culturais e científicos, feiras internacionais, certames de promoção de produtos agrícolas, industriais e tecnológicos. A média e alta burguesia emergentes em Portugal tomam como referente o código de conduta da aristocracia e fazem seus os preceitos contidos nos manuais de boas maneiras ensinados nos colégios particulares, nas escolas cristãs, orfanatos, asilos, liceus e escolas militares.
Fonte: O Occidente n.º 233, de 11.6.1885

Inauguração da Cervejaria Leão, Lisboa, 16.4.1885
Exemplo de inauguração de um espaço citadino de consumo, convívio intelectual e leitura de jornais. Nos dias de glória do naturalismo, a vida quotidiana e os assuntos etnográficos começam a interessar as revistas ilustradas.
Fonte: O Occidente n.º 229, de 1.5.1885

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Capote e capelo feminino de modelo comum às ilhas do Faial e do Pico no arquipélago dos Açores. Desenho de Manuel Macedo a partir de fotografia, viria a ser publicado no "Álbum de Costumes Portugueses" (1888). Muito se especulou sobre esta indumentária de aparato que tem a sua origem na moda urbana do século XVI e foi usada em Itália, Países Baixos e Península Ibérica.
Fonte: O Occidente n.º 223, de 1.3.1885

Congresso postal reunido em Lisboa, jantar de confraternização oferecido aos congressistas que teve lugar no edifício do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Na cultura mediterranea as actividades partidárias, diplomáticas, militares, religiosas, académicas, familiares e comunitárias estão tradicionalmente associadas aos comer e ao beber em grupo.
Fonte: O Occidente n.º 225, de 21.3.1885

Congresso postal (serviços dos correios) reunido em Lisboa no salão nobre do Supremo Tribunal de Justiça.
Fonte: O Occidente n.º 222, de 21.2.1885

A Conferência de Berlim, um acontecimento político e diplomático incontornável que marcou a segunda metade do século XIX e as relações internacionais nos inícios do século XX: mesa em ferradura, composta por delegados e representantes diplomáticos da Alemanha, Bélgica, Dinamarca, USA, França, Espanha, Portugal, Inglaterra, Itália, Países-Baixos, Rússia, Noruega e Suécia, Turquia e Áustria-Hungria.
Presidiu o país anfitrião, sob os auspícios do príncipe de Bismarck. A Conferência de Berlim representou um momento de grande tensão entre os países ocidentais, a que estiveram presentes potências representativas da Ásia e da América. O acordo sobre a liberdade de comércio na costa do Congo/Zaire não disfarçava as ambições colonialistas e as rivalidades imperialistas que num clima de crescente provocação conduziriam à Grande Guerra. A deputação portuguesa, representada pelo embaixador marquês de Penafiel, pelo enviado extraordinário António de Serpa e pelo secretário da Sociedade de Geografia de Lisboa Luciano Cordeiro, não se conseguiu fazer ouvir nem respeitar. O critério da prioridade histórica foi substituído pelo princípio da efectiva capacidade de ocupação militar, comercial e industrial.
O documento constitui exemplo de uma diplomacia de aristocratas e políticos conduzida com má fé, segundo critérios de conveniência e com base na lei do mais forte.
Fonte: O Occidente n.º 128, de 11.1.1885

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Retrato do bispo da Igreja Episcopal (EUA, Minnesota) Henry Benjamin Wipple (1822-1901), com hábito curto: calça comprida de abertura de alçapão; colete preto assertoado, subido ao colarinho; relógio de bolso; sobrecasaca de manga tubular lisa (cetim?), colarinho raso, carcela rasgada até ao baixo ventre; camisa branca de colarinho espichado e plastron branco.
Não deixa de ser curioso constatar que na mesma época a que se reporta esta fotografia os estudantes de Coimbra que andavam de sobrecasaca desabotoada eram censurados e punidos disciplinarmente, enquanto que os clérigos romanos e anglicanos passeavam o mesmo tipo de indumentária sem censura.
Fonte: http://yufind.library.yale.edu/

Hábito talar de pastor protestante, variante britânica.
Hábito talar de dois corpos, faixa de cintura e gravata de bacalhau. Sobreveste de tipo garnacha, com bandas dobradas na dianteira, cabeção e mangões de gomos costurados que apertam nos punhos (manga de saco). É deste modelo que derivam as togas doutorais norteamericanas, simplificadíssimas e estandardizadas. Soberbo retrato do cónego de Chester Hugh MacNeile, captado por alturas de 1860.
Fonte: http://artfinder.com/

José Pereira Reis, uma figura prestigiada da cultura médica e hospitalar do século XIX. Antigo estudante da Universidade de Coimbra, fez carreira na Escola Médico-Cirúrgica do Porto.
Fonte: O Occidente n.º 215, de 11.12.1884

Retrato do bispo de Coimbra e conde de Arganil D. Manuel Correia de Bastos Pina, revestido com hábito coral de verão. Nascido em Oliveira de Azeméis (1830), Bastos Pina era formado em Direito pela Universidade de Coimbra (curso 1848-1853). Deixou fama como prelado conservador, senhor de personalidade vigorosa que não rejeitou discutir com os lentes da Faculdade de Teologia a sua visão do que entendia ser a missão de uma escola superior de teologia (de dependência papal). Liderou os projectos de restauro da Sé Velha, norteados pelos discutíveis critérios de lipoaspiração que então animavam as discussões sobre os "monumentos".
Fonte: O Occidente n.º 213, de 21.11.1884

domingo, 27 de novembro de 2011

Programa da Abertura Solene do Ano lectivo 2010-2011 na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, que teve lugar em Lisboa no dia 23.11.2011.
O programa, cuidadosamente preparado pelo Gabinete de Protocolo liderado pelo Pró-Reitor, Prof. Doutor João Vasconcelos Costa, foi antecedido pela produção de instrumentos de gestão da imagem comunicacional e por acções internas de sensibilização:

-elaboração de um Manual de Cerimonial;
-preparação do Regulamento do Traje;
-criação de um novo modelo de traje talar e insígnias;
-recolha e tratamento crítico de informação cerimonialística comparada;
-estabelecimento de compromisso com o órgão de direcção;
-transmissão de informação aos novos doutores;
-selecção de reportório musical adequado ao evento; ensaio de reforma do paraninfo em anditório.

O programa evidenciou como pontos fortes:

1-abertura do cortejo académico com formação de gaiteiros, respondendo assim aos apelos da UNESCO e dos grupos do defesa e valorização do património imaterial;
2-desfile do cortejo académico nos pátios interiores da ULHT, marcado pela envolvência sonora e pela diversidade dos trajes profissionais e insígnias;
3-aposta na organização do paraninfo sem mesa convencional, arranjo que valorizou a cerimónia e neutralizou eventuais embaraços em termos de precedências de autoridades externas;
4-inclusão de representante do corpo discente, polarizada na intervenção do presidente da associação de estudantes;
5-cerimónia de imposição de insígnias aos novos doutores;
6-oração de sapiência;
7-interpretação solística do hino da ULHT;
8-sessão de cumprimentos aos novos doutores.

Uma palavra de felicitação ao Prof. João Vasconcelos Costa que soube compreender os novos desafios que se colocam ao cerimonial académico e ganhou a aposta com este primeiro ensaio. Os próximos eventos só poderão colocar a fasquia mais alta.