Virtual Memories

sábado, 29 de outubro de 2011

(I) Quid petis?, de J. Valério

(II) Quid petis?

(III) Quid Petis?, caricaturas de J. Valério sobre estudantes e lentes da Universidade de Coimbra (1910). O título da reportagem glosa o formulário latino multissecularmente usado nas universidades de Coimbra e de Salamanca nos actos de colação dos graus académicos. Havia quem achasse erradamente que se tratava da fórmula tridentina do baptismo (quid petis abs ecclesia dei?). A desacreditação da cerimónia de formatura fará com que a partir de 1910 este acto não mais se realize em Coimbra. Em Salamanca apenas será retomado em 2000. Nas universidades fundadas pela República no Porto e em Lisboa no ano de 1911 a formatura nunca chegaria a integrar o calendário académico. No Brasil, a formatura adquire enorme importância social e corporativa no século XIX, sendo obrigatória na actualidade.
Fonte: Ilustração Portuguesa, n.º 221, de 16.5.1910

O representante diplomático da Holanda com o chefe de protocolo da casa civil da presidência da República, Lisboa, Palácio de Belém, 1911. Paramentado com austera indumentária vitoriana, os únicos luxos do chefe de protocolo são o monóculo, a bengalinha de castão (servia para bater em adversários, caso fosse necessário) e a gola de veludo preto da sobresacasa).
Fonte: Ilustração Portuguesa, n.º 305, de 25.12.1911

O Ministro dos Negócios Estrangeiros da Suécia com o chefe de protocolo da presidência da República no Palácio de Belém, Dezembro de 1911. Um momento importante, o governo sueco reconhece o novo regime político português. Numa Europa maioritariamente dominada por monarquias e impérios, o cerimonial que rege as relações diplomáticas internacionais continua fortemente marcado pelas normas de etiqueta e códigos vestimentários monárquicos. O grande uniforme masculino napoleónico, ou à francesa, dita a moda nos meios diplomáticos, ministeriais e academias de letras e ciências. Constitui excepção a este cenário os USA.
Fonte: Ilustração Portuguesa, n.º 305, 25.12.1911

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Novas e velhas imagens do cerimonial de Estado
O ministro do negócios estrangeiros da Bélgica sai do Palácio de Belém, após apresentação de credenciais ao Presidente da República Manuel de Arriaga (13.12.1911).
Imagens e símbolos que permanecem:
- o diplomata enverga grande uniforme à francesa, composto por calça comprida agaloada, casaca bordada, bicórnio guarnecido de plumas brancas e espadim (este traje, azul escuro, podia ser completado com um capote). O grande uniforme de diplomata ou "fardão" (Brasil), de origem francesa, estava generalizado em todos os países ocidentais e americanos desde o II Império. Admitia como equivalente os trajes nacionais de países como a China ou o Império Otomano (vestes talares masculinas);
-de acordo com a informação registada pelo cronista, o diplomata foi acompanhado, introduzido e recebido em audiência pelo chefe de estado conforme o cerimonial público tradicional, sinal de que a República manteve sem alterações os usos e costumes diplomáticos.
Imagens e símbolos novos:
- a 1.ª República enquanto jovem regime político em processo de legitimação apostou na construção de uma imagem distinta dos sistemas cerimonialísticos praticados pela Monarquia e pela Igreja Católica. Novidade importante, o chefe de protocolo da casa civil da presidência da República garante a condução do acto em sobrecasaca e cartola, substituindo o antigo mestre de cerimónias da casa real (não se fala em cerimonial público mas em protocolo);
- os porteiros e guardas de serviço do palácio presidencial vestem uniformes de tipo militar, muito simples e de corte geometrizado (estilo racional), marcando ostensiva ruptura com as librés de gala dos funcionários da casa real;
- não se consegue ver na fotografia a preto e branco mas os galões azuis e brancos do tempo da monarquia foram erradicados e substituídos pelas novas cores oficiais (vermelho e verde).
Fonte: Ilustração Portuguesa, n.º 305, de 25.12.1911

Crianças fantasiadas no carnaval de Lisboa de fevereiro de 1912. Em duas situações documentadas pelo fotógrafo o traje escolhido foi o de tuno académico espanhol, sinal de que a população de Lisboa estava fortemente familiarizada com as tunas académicas espanholas desde finais do século XIX.
Fonte: Ilustração Portuguesa, n.º 314, de 26.2.1912

domingo, 23 de outubro de 2011

A Tuna Académica da Universidade de Coimbra aguarda no Terreiro do Paço a passagem do cortejo de homenagem a Alexandre Herculano.
Fonte: Ilustração Portuguesa, n.º 220, de 9.5.1910

A actriz Maria Adelaide Coelho da Cunha vestida de estudante com batina, capa e gorro na peça de teatro exibida em Lisboa "O estudante de Coimbra"
Fonte: Ilustração Portuguesa, n.º 218, de 26.4.1910

O novo bispo de Portalegre, D. António Moutinho que se formara na Faculdade de Teologia da Universidade de Coimbra. As fitas de quintanista exibem datas gravadas a pincel dourado, costume que na década de 1920 será alargado às assinaturas autógrafas e dedicatórias. No momento alfa desta tradição, apenas se pintavam as datas de início e conclusão do curso, grafando conforme procedimento usual nos laçarotes de ombros de primeira comunhão e comunhão solene, fitas funerárias e fitas ofertadas a tunas e agrupamentos musicais.
Fonte: Ilustração Portuguesa, n.º 217, de 18.4.1910

A tuna dos estudantes de Valladolid em Lisboa nos festejos de carnaval de fevereiro de 1910
Fonte: Ilustração Portuguesa, n.º 208, de 14.2.1910

Estudantes e lentes no largo da feira do Estudantes nas cerimónias fúnebres do Prof. Avelino Calixto que tiveram lugar na Sé Nova em Janeiro de 1910. Calixto, lente de Direito, ficou célebre pelas suas bizarrarias e ortodoxia praxística. Encarnou o paradigma de lente dogmático que os estudantes mais contestatavam. Numa academia marcada pelos rumores e relações vicinais de controlo, sobre Calixto circulavam todo o tipo de cuscovilhices e lendas sobre acontecimentos ligados a alunos que iam a exames [na década de 1980 alguns destes mitos ainda eram narrados com o ar mais sério deste mundo. Um deles queria fazer crer que uma aluna grávida tinha ido a um exame oral de Direito e, tendo sido de tal modo "espremida" com questões retorcidas, tinha abortado].O Prof. Calixto chegou a advogar em tribunais portugueses, usando em sala da capa e batina, conforme a antiga tradição conimbricense. Na fotografia superior vêmo-lo com a capa traçada no estilo da toga romana, remoto costume dos académicos de Coimbra que por desconhecimento se tem comparado ao xaile da tricana, mesmo sabido que os xailes apenas se divulgaram na indumentária popular muito tardiamente, quando já ia entrada a segunda metade do século XIX.
Fonte: Ilustração Portuguesa, n.º 206, de 31.1.1910.