Virtual Memories

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Um estudo de referência sobre protocolo parlamentar na América e na Europa

Elma Garcia é autora de um importante levantamento de fontes impressas sobre o cerimonial parlamentar na América e na Europa.
O corpus de normativos publicado em 2007 aborda sucessivamente as raízes do protocolo público, a distinção entre cerimonial e protocolo, o vocabulário técnico subjacente aos actos e o posicionamento do protocolo parlamentar enquanto ramo especializado e autónomo na arquitectura da moderna disciplina que é o protocolo.
Situadas as raízes do protocolo parlamentar mexicano na tradição cerimonialística espanhola, Elma Garcia percorre exaustivamente os regulamentos protocolares centrais e regionais publicados no México ao longo dos séculos XIX e XX. De permeio, aborda as condecorações oficiais do México.
Sinteticamente tem ainda tempo para falar do Chile, Espanha, Argentina, Venezuela, França, Alemanha, EUA e Reino Unido.
Por último, trata dos casos protocolares mais recentes, nomeadamente dos prefigurados pelo Parlamento Europeu e pelo Parlamento Latinoamericano.
Trata-se de uma obra de referência na matéria, pese embora o facto de o cerimonial parlamentar anglo-saxónico ter sido tratado epidermicamente e de a tradição dos países de língua portuguesa ter ficado completamente à margem do levantamento.
GARCÍA, Elma del Carmen Trejo - Estudio de derecho comparado de protocolo y ceremonial parlamentario: a nível internacional, federal y estatal. Mexico: Centro de Documentación, Información y Análisis/Subdireción de Politica Exterior, 2007. Em linha, WWW: http://www.diputados.gob.mex/cedia/sia/spe/SPE-ISS-04-07.pdf.

domingo, 16 de janeiro de 2011

O hábito talar de Venceslau de Lima no Museu de História Natural da UP

Tendo estudado e publicado um conjunto de artigos sobre o hábito talar e as insígnias doutorais de Bernardino Machado (1851-1944), que se preservam no Museu do mesmo nome em Vila Nova de Famalicão [Património vestimentário e insigniário conimbricense. O hábito talar e as insígnias doutorais de Bernardino Machado. Em linha, WWW: http://virtualandmemories.blogspot.com/2009/08/i-patrimonio-vestimentario-e.html, editado em 22.8.2009 e dias ss. no mesmo blogue], tive a sorte de os rascunhos terem sido lidos por João Caramalho Domingues, antigo estudante da Universidade do Porto que me incentivou a procurar nos acervos museológicos da Faculdade de Ciências/UP espécimes têxteis da mesma época dados como pertencentes ao lente Venceslau de Lima.

Estando em fase de pré-publicação esse meu estudo de campo, colocava-se a hipótese de noticiar o património têxtil de Venceslau de Lima em nota de fim de página, alargando assim o projecto de carta geográfica dos raros exemplares sinalizados.
Intentou-se uma primeira visita ao Museu de História Natural da UP em finais de Agosto de 2010, sem êxito. Portas fechadas, reservas inacessíveis em período de férias. Deixei correr, crente de que se trataria de mais do mesmo. João Caramalho Domingues insistiu, deu-me os contactos da Dra. Assunção Lima que está a fazer um belíssimo trabalho na gestão da memória visual dos antigos alumni e agendou-se para 28 de Dezembro de 2010 a visita.
Fui artilhado para o que desse e viesse. Bloco de apontamentos, fita de medir, máquina fotográfica. O João guiou-me a partir da galeria porticada da velha Academia Politécnica. Ali cursara a Faculdade de Ciências, conhecendo os cantos ao casarão. Fiquei a saber que parte importante do acervo musealizado estivera por muitos anos na galeria porticada, então vedada nos vãos da arcaria.
Simpatizei logo com a Dra. Assunção, uma penafidelense que me acolheu com discurso franco e aberto. Fui convenientemente inteirado do projecto em consolidação Universidade do Porto/Gabinete do Antigo Estudante U.Porto/ALUMNI/Álbum de Memória [missão, objectivos, textos, fotografias e documentos gráficos em linha, WWW: http://sigarra.up.pt/up/web_base.gera_pagina?p_pagina=1001831].
Rumámos ao bloco traseiro da Academia, onde dormem as promissoras reservas do Museu de História Natural, daqui para a frente guiados pela Dra. Maria José Cunha que nos veio abrir a porta após um toque combinado. E com ela chegaram umas quantas saborosas estórias da história do Museu de História Natural, da diversidade e riqueza das reservas, da memória de cientistas como António Mendes Correia.
Não deixei de comentar que a devolução deste acervo à comunidade precisaria da comicidade protagonizada por Ben Stiller num filme do tipo «Night at the museum» (2007), película que serviu de pretexto a Shaw Levy para converter um “museu morto” num local visitável e apetecível.
Ao fundo da sala, um manequim de tripé com a batina de lente, a capa, a borla e o capelo, sobreviventes às agruras do sol, à gula das traças e à prolongada desidratação. Pensei, mas não disse, isto é igual ao Bernardino Machado, à estátua do Avelar Brotero (Jardim Botânico de Coimbra) e às fotografias tiradas pelo David no Paço das Escolas em 1880.
Só que, boa sorte Minerva nos trouxe, a visualização começou a revelar surpresas. Desde logo o excelente nível de confecção observável, superior ao detectado nas peças de Bernardino Machado. Outra alfaiataria, outro requinte nos acabamentos manuais da gaspeadeira e no ponto miúdo e regularíssimo da máquina de costura.
E as surpresas não se ficaram por aqui.
Vamos ao que interessa.

Quem foi Venceslau de Lima?
Venceslau de Sousa Pereira de Lima nasceu no Porto em 15 de Novembro de 1858 e faleceu em Lisboa a 24 de Dezembro de 1919.
Foi professor de Geologia e investigador de Paleontologia na Academia Politécnica do Porto (APP).
Concluídos os estudos secundários no estrangeiro, matriculou-se na Faculdade de Filosofia Natural da Universidade de Coimbra. Doutorou-se em 26.11.1882 e no ano seguinte foi admitido lente da APP onde passou a reger Geologia.
Membro do Partido Regenerador, exerceu os cargos de governador civil de Vila Real, Coimbra e Porto e foi presidente da Câmara Municipal do Porto. Deputado em várias legislaturas e Par do Reino, assumiu a pasta dos Negócios Estrangeiros em 1903 e em 1905. Em 14.5.1909 formou governo. Com a Revolução de 5 de Outubro de 1911 exilou-se em Paris.
Vejamos as datas em que usou hábito talar e insígnias na Universidade de Coimbra:

-capa e batina, na qualidade de estudante, entre a primeira matrícula (2.10.1876), a conclusão administrativa do bacharelato (22.6.1880) e o acto de formatura (10.6.1881);
-hábito talar, com batina de lente em seda, capa, volta e calções, no acto do licenciatura feito na Real Capela de São Miguel (1.3.1882);
-hábito talar, com batina de lente em seda, capa, volta, calções, sapatos de fivela de prata no acto de conclusões magnas feito na Sala dos Actos Grandes (4.11.1882);
-hábito talar, com batina de lente em seda, capa, volta, calções, borla, capelo e anel, no acto de colação do grau de doutor, feita a parte religiosa na Real Capela de São Miguel (Missa do Divino Espírito Santo) e a parte académica na Sala dos Actos Grandes (26.11.1882).

Em nossa opinião, o conjunto indumentário preservado no Museu de História Natural da UP é anterior ao de Bernardino Machado que se encontra exposto no Museu Bernardino Machado em Vila Nova de Famalicão. Bernardino Machado defendeu conclusões magnas em 9.6.1876 e fez acto de colação do grau de doutor em 2.7.1876. As insígnias doutorais são desse mesmo ano. Mas já quanto à capa e à batina, todas as pistas recolhidas e analisadas sugerem que se trata de uma confecção levada a cabo na década de 1890.
Nas colecções de retratos da UP existem figurações de outros lentes doutorados em Coimbra que exerceram a sua profissão na Academia Politécnica do Porto, com eventual passagem para a UP.
É o caso de Adriano Augusto de Abreu Cardoso Machado (1829-1891), doutorado pela Faculdade de Direito da UC em 25.5.1851 e nela lente entre 1855-1857. Cardoso Machado exerceu longo múnus na Academia Politécnica como docente (1858-1869) e seu director (1869-1884). Foi deputado, Par do Reino, Ministro da Justiça, Procurador-Geral da Coroa e Reitor da UC.
O retrato de Cardoso Machado encontra-se no salão nobre da Reitoria da UP. Representa o docente segundo o cânone clássico conimbricense, em hábito talar, capelo de Direito deitado pelos ombros e borla sobre credencia. O retrato mostra um Cardoso Machado ainda novo, com cabelo e barbas pretas. A capa segue o figurino do mantéu ibérico e não do ferraiolo, dela pendendo cordão de borlas. A batina é comprida mas não se conseguem recolher elementos mínimos para a reconstituição do tipo de costuras, bainhas, carcela ou bolsos.
Outro retrato a óleo, exibido na galeria dos reitores da UP, é o do primeiro reitor, doutor Francisco Gomes Teixeira (1851-1933), assinado por Abel de Moura, que exerceu o cargo entre 1911 e 1917. Doutor em Matemática pela UC (18.7.1876), e nela lente (1876-1883), transitou para a Academia Politécnica em 1884, tendo sido seu director. Optou-se por não utilizar este quadro como fonte informativa de época, uma vez que o pintor não fixou pormenores que são passíveis de recuperação em fotografias deste lente (reprodução em SANTOS, Cândido – Universidade do Porto. Raízes e memória da instituição. Porto: Reitoria da UP, 1996, p. 178).
Na mesma sala nobre encontra-se o retrato do Doutor José Pereira da Costa Cardoso (1831-1886, de excepcional qualidade informativa. Natural do Porto, Costa Cardoso era bacharel em Matemática (14.6.1853), licenciado (15.7.1857) e doutorado pela UC (31.7.1857), cujo corpo docente integrou a partir de 1861. Entre 1864 e 1869 trabalhou em comissão de serviço na Academia Politécnica, tendo passado ao quadro em 14.4.1869. Pelo meio exerceu outros cargos como o de Reitor do Liceu do Porto e dedicou-se à beneficiência.
Costa Cardoso é retratado com borla, capelo e anel doutoral em azul claro e branco. Ostenta mantéu de generoso panejamento e uma longa batina talar de um corpo com extensa carcela de aparato.
Pode dizer-se que o tipo de batina legado por Venceslau de Lima (década de 1880) constitui um modelo intermédio entre o fixado no retrato de José Pereira da Costa Cardoso (décadas de 1850-1860) e o de Bernardino Machado (década de 1890).

Como foi este conjunto legado ao Museu de História Natural da FC/UP?
Conjunto legado ao Museu de História Natural da UP pelo Eng. Rui Leite de Castro, e identificado como tendo pertencido a Venceslau de Lima.

De quantas peças de compõe?
Uma batina de lente, uma capa talar ou mantéu ibérico, um barrete doutoral redondo (=borla) e um capelo doutoral da Faculdade de Filosofia Natural (Ciências Naturais) da Universidade de Coimbra.

Peças em falta?
O anel doutoral. As luvas brancas. Os calções usados no acto de colação do grau. Os sapatos pretos de couro ornados de fivelas de prata.

Materiais utilizados
Seda preta na batina; pano sedoso na capa; 26 botões planos metálicos forrados de tecido preto nas carcelas; colchete metálico preto no colarinho da batina; alamares de fio e cordão simples no colarinho da capa; mangas forradas de guarda-pó (tecido branco, com listas horizontais); corpo interior da batina integralmente forrado de alpaca preta; ilharga do barrete em cartão robusto; fundo falso do barrete em forma de rodela perfurada no centro; pega do barrete com parafuso e argolas de madeira perfuradas e revestidas a fio de seda; seda, veludo e contas de madeira na borla e no capelo; rosáceas de passamaria armadas sobre o peito da murça e da sobremurça do capelo.

Técnica de confecção
Técnica mista, artesanal tradicional, do tipo oficinal, apoiada no uso de máquina de costura manual ou de pedal.
Hábito feito por medida em alfaiataria conimbricense não identificada, década de 1880. Medidas tiradas manualmente por alfaiate e marcadas a giz branco sobre tecido com auxílio de moldes de cartão.
Acerto de medidas em pelo menos uma prova.
Acabamentos manuais por gaspeadeira auxiliar do alfaiate.
Cosimento mecânico das bainhas e costuras em máquina de costura com agulha regulada para execução de ponto miúdo.
Aplicação de vivos pretos nas orlas das bainhas e colarinho.

Insígnias doutorais
As insígnias doutorais visualizadas são a borla e capelo em azul régio, de tipo pombalino rocaille, na cor distintiva da Faculdade de Filosofia Natural da UC (1872 e 1911).
Não se procede à caracterização destas peças no presente texto, uma vez que são idênticas às de Bernardino Machado, que já foram alvo de aturada descrição. Ainda assim, se um dia tempo houver para voltar a este assunto, fica registado um pormenor do trabalho da artesã, que teve o engenho de assentar na copa um círculo de continhas revestidas.
A sobremurça do capelo encontra-se profundamente descolorada nas costas, fruto de longa exposição à luz solar.
Alguns elementos de passamanaria carecem de consolidação (rosáceas).

Não parece que Venceslau Lima tenha usado este traje e insígnias na nova FC/UP, uma vez que se exilou por motivos políticos após a Revolução de 1910. Mas conjunto semelhante terá sido usado pelo lente José Diogo Arroio (1854-1935), que se doutorara na Faculdade de Filosofia Natural da UC (20.6.1880), com ulterior percurso pela Academia Politécnica e pela FC/UP.
A fazer fé numa fita de seda com medalha pendente, usada por Mendes Correia, que se preserva numa vitrina do Museu de História Natural, a nova cor institucional da FC/UP foi o azul claro, mas numa gradação mais vibrante do que a oficializada na Universidade de Coimbra.

Capa
Capa talar constituída por 4 panos unidos por costura posterior vertical alinhada pelo correr da coluna vertebral. Fixação a colarinho entretelado e degolado (3,2cm altura), na tradição multissecular do mantéu ibérico que vinha dos jesuítas de quinhentos.
Colarinho com duas carreiras paralelas de pespontos, ao rebordo superior. Exibe, por fora, alamar de rosetas entrançadas e, preso por dentro, um cordão singelo que fecha na frente do pesçoco como bolinha revestida (cordão igual na capa de Bernardino Machado).
A estrutura da capa assente em 4 amplos panos que são costurados de través e ligados verticalmente pela linha da coluna. Formam amplo pregueado, indo embainhar pelos talões. O tecido estreita nos ombros, graças a duas pregas metidas horizontalmente entre a base do colarinho e o rebordo dos ombros, ficando toda unida à base do colarinho.
Feitio trapezoidal de grande beleza, com 1,50m de altura. Confecção tecnicamente muito esmerada.
Apresenta sinais de desbotamento, secura das fibras e perda de material têxtil na zona dos ombros.
Deve ser manejada com luvas de algodão, com extrema delicadeza.

Batina
Batina de lente correspondente aquilo que seria o modelo mais usado e confeccionado nas alfaiatarias de Coimbra para os lentes civis nas décadas de 1870-1880.
Os lentes eclesiásticos continuavam a usar, por força dos estatutos e privilégio da tradição, a batina talar romana.
Esta peça reservava informação inesperada. Quando levantávamos a capa de Venceslau Lima no Museu de História Natural da UP, sendo testemunhas do acto as pessoas citadas à cabeça deste escrito, demos de caras não com uma batina talhada no feitio do redingote oitocentista nem com uma batina eclesiástica romana.
Passe o exagero, devo ter ficado com uma cara mais ou menos parecida com a de Howard Carter quando avistou o túmulo de Tutankamon. Nem batina de padre, nem (sobre)casaca civil talhada no estilo dos capelães militares ocidentais.
Estavam ali corpos mortos de traças. E a envolver o manequim, uma batina diferente de tudo quanto tinha visto e conhecido até então.
A estrutura é talhada em 4 panos, 2 mangas tubulares e colarinho baixo.
Os panos são inteiriços, não apresentado costuras entre a secção superior (ombros, peito) e a secção inferior (saios). Os dois panos das costas são de corte evasé, unindo a meio da coluna e verticalmente pela linha dos sovacos. Nas costuras laterais foram metidos dois bolsos verticais de 18cm de altura, com fundo generoso. Este pormenor aproxima a batina de Venceslau de Lima da toga (vide o nosso «Trajes judiciários portugueses. Toga Forensis». In: Revista do Ministério Público, n.º 122, 2010), da beca judiciária (vide o nosso «Trajes judiciários portugueses. A Beca». In: Revista do Ministério Público, n.º 113, 2008), e da batina romana. Imediatamente por cima do rasgo dos bolsos foram cozidas duas presilhas de pano, entreteladas e pespontadas, que se repuxavam para trás e fixavam com uma fivela metálica preta. O dispositivo é exactamente igual ao dos coletes masculinos, representando um desvio aos cintos de pano que se usavam na antiga sotaina da loba académica e na beca dos juízes.
As costas seguem o figurino da antiga sotaina ou veste interna da loba, sem rachas, machos ou pregas de espécie alguma.
O colarinho, entretelado e pespontado em 2 carreiras paralelas na orla superior, é ornamentado com um vivo preto, apresentando 1,5cm de altura. Prende por dentro com colchete metálico preto.
As mangas são formadas com duas tiras de pano, apresentando duas costuras e diâmetro de tipo sobretudo. A boca ostenta um falso canhão, pespontado a 9,2cm de altura, e não exibe sinais de botões.
Os dois panos da frente são interiços. Do lado esquerdo, sobre o peito, vem metido um pequeno bolsinho exterior, de 10,2cm de comprimento, ligeiramente oblíquo.
À mesma altura deste bolso, pelo lado de dentro, foi metido um outro bolso, com rasgo vertical junto à carcela (8cm de altura).
Os dois panos dianteiros fecham com carcela interna de 12 botões planos forrados (1,3cm de diâmetro), pespontada a espaços. Sobre esta, foi desenhada uma carcela fingida, entre pespontos paralelos com 3,3cm de largura. Este dispositivo ornamental exibe 14 botões planos forrados de tecido (1,2cm de diâmetro) e 14 falsos caseados.
Integralmente forrada de alpaca (corpo e bolsos) e de guarda-pó (mangas), este exemplar tem 1,22m de altura, tirados da bainha inferior à base do colarinho.
Apresenta sinais de descoloração e secura das fibras, aconselhando cuidadoso manuseamento.
Excelentes acabamentos de costuras, bainhas e remates. Vivos pretos no colarinho e na carcela.
Trabalho de campo concluído, se a capa e as insígnias não revelaram surpresas, já a batina suscita demora reflexiva e aprofundamento investigativo. Exemplar único, patenteiam informação sobre um modelo entretanto esquecido que em nossa opinião é irredutível à batina romana e à batina-(sobre)casaca que veio a prevalecer na UC após a laicização e estandardização dos modelos trazida pelo 5 de Outubro de 1910.
Para inteligirmos a especificidade e originalidade deste modelo, haverá que recuar às duas variantes clássicas da loba dos doutores, concretamente a veste talar interna da “loba aberta” que era uma túnica trapezoidal, pese embora o feito afunilado das mangas que vinham a estreitar do cotovelo para o punho e ali tinham carcela de botõezinhos.
Recomendações
As insígnias doutorais e a capa carecem de cuidadosa operação de limpeza e restauro técnico de elementos soltos ou deteriorados.
De evitar, definitivamente qualquer exposição solar ou acondicionamento em espaço não controlado ambientalmente em termos de temperatura e humidade relativa.
As peças devem ser reacondicionadas em expositor apropriado.
O manuseamento deve ser efectuado com luvas de algodão.
São aconselháveis a feitura de réplicas fiéis para efeitos de futuros estudos, fotografias ou filmagens.

Agradecimentos
Dra. Assunção Lima, Dra. Maria José Cunha, Doutor João Caramalho Domingues


Retrato de Venceslau de Lima