sábado, 12 de novembro de 2011

Lavadeiras nas margens do rio Mondego
Embora os postais ilustrados e a literatura turística tenham mitificado as lavadeiras do Mondego e procurado associar a sua lide à iconografia académica masculina, é sabido que mesmo cantando e tagarelando durante o trabalho, a vida de lavadeira fluvial era muito dura. Ficava-se com as pernas e mãos na água gelada do inverno durante horas. Os panos eram esfregados directamente sobre lajes de calcário, fricção que provocava desgaste na pele e ferimentos. O antigo sabão macaco caseiro era pouco espumoso. O torcer a roupa, o por a corar sobre o areal e o fazer a barrela eram tarefas muito violentas. Integravam a panóplia de trabalhos da lavadeira o carrego de cestos e celhas, a recolha de trouxas de roupa suja pelas freguesas e a devolução das trouxas com a roupa lavada pelo rol. Nos arredores de Lisboa as lavadeiras vinham trazer a roupa lavada em carroças, mas na maior parte das localidades vinham de barco (as do Mondego andavam acima e abaixo nas barcas serranas) e cirandavam pelas ruas da cidade com as trouxas de pano à cabeça. Ainda vi resíduos deste viver em 1985 e não tenho nenhuma lamúria romântica a registar. Era demasiado violento para se poder romantizar. Na actualidade há grupos folclóricos que reconstituem este tipo de actividades com fins pedagógicos e de partilha de conhecimento com a comunidade escolar. A iniciativa é de elogiar. Vale a pena saber  como se fazia uma barrela de branqueamento da roupa antes da era da lixívia ou perceber como era fabricado o sabão caseiro.
Gravura reproduzia a partir de um quadro de Lupi vendido na Expo Paris de 1878.
Fonte: O Occidente n.º 41, de 1.9.1879

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