sábado, 22 de outubro de 2011

Preparação de uma cerimónia de homenagem ao rei D. Carlos I na Academia das Ciências de Lisboa. Na fotografia superior, preparativos de armação do dossel de veludo destinado a acolher o paraninfo. Na imagem inferior, aspecto da sala com as cadeiras do auditório, tribunas e paraninfo.  De acordo com a informação recolhida, o acto seria presidido pelo rei D. Manuel II, tomando lugares à direita e à esquerda do presidente a rainha mãe, o infante D. Afonso. Na ala direita tomavam assentos os membros do corpo diplomático. Na Academia das Ciências, o monarca reinante era por inerência o presidente, tradição que passaria para os presidentes da República Portuguesa.
Com a proclamação da República, os paraninfos estruturados na cadeira do presidente dos actos solenes foram substituídos por mesas de honra de formato rectangular e semicircular. A mesa da presidência comporta uma mensagem assente nos ideais da igualdade social e corporativa e no equilíbrio dos poderes. Na prática, as mesas das presidências vieram abrir as portas a problemas insolúveis ou de difícil resolução, com os representantes centrais e locais do poder executivo a reinvindicar posições de liderança ou destaque nos paraninfos. A visão centralista da gestão dos negócios públicos raramente se mostraria disposta a respeitar o património cerimonialístico de instituições multisseculares que nalguns casos precediam a própria fundação do estado contemporâneo. Em nome das precedências dos altos titulares dos cargos da administração central, quase sempre acompanhados de deputações numerosas, encheram-se mesas de presidência, esquecendo os anfitriões, o cerimonial próprio de determinadas instituições e a autonomia de outros poderes de Estado. Como sói dizer-se no Brasil, os membros do Executivo são especialistas em chegar ao local da cerimónia e açambarcar os paraninfos.
A arte de organizar mesas de honra tendo em conta as tradições que mandam honrar o anfitrião e o respeito democrático pelos poderes autónomos e pelos patrimónios cerimonialísticos distintos do protocolo de estado continua a fazer correr rios de tinta. No Brasil e em Espanha, tem-se discutido com afinco as questões da constituição das mesas de honra, as presidências monocéfalas e bicéfalas, o lugar dos presidentes/governadores dos estados e regiões autónomas, o espaço a atribuir aos representantes dos poderes legislativo, executivo e judicial, e fixado doutrina quanto aos actos universitários.
Na Europa continental poucas são as universidades que mantiveram os paraninfos segundo o paradigma clássico. Uma delas é a Universidade de Coimbra, solução que resolve a priori conflitos de precedência e melindres. Nos últimos anos regista-se nos manuais de cerimonial produzidos por algumas universidades o abandono da mesa da presidência. Foi o que aconteceu com o Gabinete de Protocolo da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, cujo manual consagra expressamente o paraninfo sem mesa corrida.
Fonte: Ilustração Portuguesa, n.º 175, de 28.6.1909

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial