Virtual Memories

sexta-feira, 15 de outubro de 2010


O Doutor Aníbal Pinto de Castro (1938-2010), ladeado pelo Doutor Fernando Rebelo, préstito da Abertura Solene da UC, Novembro de 1987
Tomei conhecimento da morte do Prof. Doutor Aníbal Pinto de Castro por uma pequena notícia publicada pelo Doutor Armando Luís de Carvalho Homem no Blogue Guitarra de Coimbra III, de 11 de Outubro de 2010.
Não tendo sido íntimo do falecido lente, com ele convivi em diversos momentos, pessoalmente, por telefone e em jornadas culturais.
Devo algumas atenções, e muito sentidas, à sua memória como investigador, dirigente e filantropo. Recordo, sem preocupações de exaustividade:
-em 1988-1989, na qualidade de Director da BGUC, o acesso ao seu gabinete e aos reservados da dita BGUC onde a Dra. Graça Pericão recebeu instruções para me apoiar na recolha de iconografia sobre indumentária académica e insígnias. Com efeito, consultei e reproduzi iluminuras, postais ilustrados, o famoso e raro álbum fotográfico David (1880), estatuetas. No final do seu mandato à frente da BGUC (2004), o Doutor APC fez aquilo que em 1988 me tinha dito que pensava ser justo fazer, canalizou para o Museu Académico diversos bens culturais que em bom rigor ali melhor ficam;
-em 1988, nas referidas surtidas à BGUC, garantiu a minha apresentação ao Prof. Doutor Luis de Albuquerque, com proveitosas recolhas de testemunhos;
-em 1991, em horas de grande vulnerabilidade financeira, prestou-me apoio incondicional a uma bolsa da Sociedade Filantrópica e ofertou-me pessoalmente 10.000$00 para as "necessidades mais urgentes enquanto não tiver a bolsa" (dados em mão, no bar da Faculdade de Letras);
-em 2005, participação num colóquio sobre Canção de Coimbra, onde discorreu sobre a evocação masculina da figura materna (pergunta: "O senhor já sabe isso tudo?", ao ver o meu manuscrito de 500 páginas);
-em 2007, autorização para livre acesso e reprodução dos retratos dos benfeitores da Santa Casa em tudo quanto se relacionasse com iconografia relativa a insígnias doutorais;
-em 2007-2008, diversos contactos sobre especificidades orais do cerimonial universitário conimbricense.
Morre seguramente um homem bom, um católico de fé que nunca faltou à procissão da Rainha Santa em hábito e insígnias , um académico de renome internacional e um filantropo que gostava de praticar o bem sem alarido. Ao primeiro embate, e nos juris de exame, parecia um "terror". Mas logo se abria em cultura, cavaqueira intelectual, usando de um extraordinário humor onde não faltavam entoações e adjectivos a preceito. Nisso era bem um lente no velho estilo.
Um dos últimos sabedores do cerimonial universitário, o reitorado de Rui de Alarcão deveu-lhe muito do que sob o bastão do mestre-de-cerimónias Dr. José Carlos Luzio Vaz se fez após 1974. Se notasse uma gafe que fosse no cerimonial, não se tolhia em telefonar à Reitoria e dizer o que tinha a dizer com pitadas de humor. A Dra. Ana Goulão, recipiendária desse legado que os locais execraram e a Unesco agora exalta internacionalmente, bem lhe ouviu algumas tiradas.
Nas nossas últimas conversas, o Doutor APC estava muito confinado à casa de Cernache em virtude de terríveis padecimentos ósseos que o fizeram envelhecer e lhe tiraram qualidade de vida. Falou-se e muito das insígnias doutorais e do hábito talar. Concordou-se que o preço é incomportável, o modelo barroco como está tem de ser simplificado, e que única casa de confecção que ainda o faz vai comendo nas borlas do barrete e tem feito umas misturas horrendas em Economia e em Desporto. Remate espirituoso do Doutor APC ao telefone, a voz marcada pelo sofrimento: "Ó Nunes, é um cangalheiro, não é? Passe em Cernache e falamos melhor destas coisas".
A vida não me permitiu passar. Meu caro Doutor Aníbal, a bolsa da Filantrópica e os seus dez contos fizeram-me agarrar a vida e o futuro, mesmo contra aqueles que gostariam que tudo ali tivesse acabado na mais vil das tristezas. E isso, meu bom Amigo, ainda tive a alegria de lho dizer pessoalmente.
Que Minerva acolha os seus filhos.

domingo, 10 de outubro de 2010


Estudantes de enfermagem, com capotes, batas e toucas. Liverpool, 1968


Variante do capote de enfermeira, sistema de abotoadura com dois alamares de tecido e botões metálicos dourados


Capote de enfermeira militar, Segunda Guerra Mundial, com uso conhecido pelo menos até à década de 1960
Lã azul ferrete forrada de vermelho, aberturas dianteiras oblíquas para a saída dos braços, bandas fixadas com fileiras de quatro botões.


Mantéu aristocrático masculino, último terço do século XVI, em veludo ou cetim pretos com lavoures e galão.
Gravura do século XIX sobre iconografia quinhentista
(acervo da Biblioteca de Nova York)


O regresso do capote de enfermeira e do mantéu
Desfile Outono/Inverno 2009 da casa Givenchy com modelos masculinos criados pelo estilista Ricardo Tisci.
Tisci surpreendeu com dois abafos pretos de lã. Aparentemente iguais e "futuristas", do que se trata é de uma reinvenção pura e simples de duas peças de indumentária ocidental que a industrialização e a generalização da cultura burguesa urbana tinham feito desaparecer.
Num dos casos observados, um dos manequins exibe uma recriação do capote militar das enfermeiras usado entre a Primeira Guerra Mundial e a década de 1960. No outro caso, e apesar da bainha curta, à moda do século XVI, o que se vê é uma retoma do mantéu nobiliárquico com os imprescindíveis cabeção e bandas dianteiras.