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terça-feira, 13 de abril de 2010

Ordem de precedências no Coimbra Group (recomendações)



Desde finais do século XX que se tem vindo a registar nas universidades ocidentais europeias estratégias de afirmação pública das identidades corporativas. A Queda do Muro de Berlim (1989), a contratualização do Processo de Bolonha (1999 e ss), o descrédito dos paradigmas burgueses unilineares e abolicionistas, a globalização da economia e dos capitais, a erosão dos modelos clássicos de organização e gestão das universidades, os desafios de defesa e valorização dos patrimónios materiais e imateriais propostos pela Unesco e a sedução pelos eventos mediáticos fizeram com que as universidades se voltassem a mostrar extramuros.
A comunicação da identidade através de trajes, cortejos, símbolos, falas rituais, palavras de ordem, sons, é uma estratégia de marketing como outra qualquer, nem reaccionária, nem progressista em si mesmo. Trata-se de uma forma de comunicar cuja eficácia tem sido amplamente testada por academias de cinema, universidades, igreja católica (procissões, entradas solenes de bispos), forças militares (paradas, juramentos, homenagens), confrarias gastronómicas, sindicatos (bandeiras, cartazes, música, palavras de ordem), partidos políticos (cortejos, bandeiras, merchandising) e clubes de futebol (entradas em campo, hinos, vestuário, autógrafos, cortejos triunfais, entrega de troféus). Esta forma de comunicar, que atingiu o seu auge imagético, sonoro e emocional durante o Barroco setecentista, nunca desapareceu da cultura popular portuguesa. O mesmo não aconteceu nas cidades, espaços onde a comunicabilidade ostentatória seria ferozmente condenada ou mesmo declarada abolida pelo sistema cultural burguês.
Nas universidades históricas, a vontade de se mostrar como corpo dotado de autonomia e identidade não chegou a desaparecer completamente entre 1789 e 1968, como atestam as vivências culturais e os patrimónios sobreviventes em Oxford, Cambridge, Coimbra, Salamanca, Uppsala e Karlova, ou mesmo nas universidades dos Países Baixos.
A necessidade de conquistar um lugar na sociedade globalizada e de competir com as melhores instituições de ensino superior e centros de investigação e produção do conhecimento tem vindo a colocar enormes desafios às universidades. Assiste-se a uma revitalização/revalorização dos patrimónios simbólicos medievais e renascentistas, sem que as vestes, ritos e símbolos atinjam a mesma dimensão que temos vindo a observar no âmbito da construção e afirmação da identidade das confrarias gastronómicas, vinícolas e de neo-cavalaria ou nos clubes de futebol.
Dentre as universidades do Coimbra Group que mantiveram no activo sistemas simbólicos integrados, isto é, suportados pela programação e gestão de calendários anuais muito completos, destacam-se as anglo-saxónicas radicadas na Grã-Bretanha. Ao nível da Península Ibérica, Coimbra e Salamanca continuam a realizar periodicamente cerimónias ancoradas na tradição medieval, mas o sentido de sistema integrado encontra-se desgastado pela incapacidade de integração de funcionários, estudantes, novos cargos e por uma visão errónea do cerimonial académico que conduziu à concentração dos actos nos professores doutores (vestes e cerimónias).
A esta atitude de perda patrimonial e de inércia, contrapõe-se o sistema cerimonial integrado das universidades britânicas e as estratégias neo-cerimonializantes das universidades francesas, italianas, alemães, belgas e romenas que por força da globalização estão a adoptar trajes e cerimónias replicadas a partir das universidades norte-americanas e de grandes eventos mediáticos como os Óscars de Hollywood, a Palme d’Or de Cannes ou a Bota de Ouro dos futebolistas.

Desde a Idade Média que se praticam nas universidades europeias actos públicos com a participação de deputações de universidades convidadas. Com o regresso das universidades às ruas dos centros históricos, esta tradição tem vindo a conquistar crescente visibilidade em cerimónias como a abertura solene dos estudos, investidura de novos reitores, laureas honoris causa e celebração do dia da fundação (Dies Academicus). Uma análise dos registos visuais disponíveis no ciberespaço confirma a realização destes eventos em várias cidades europeias, o que revela da parte das universidades uma interiorização das propostas Unesco que visam apostar na reanimação cultural dos centros históricos e também a capacidade de superação dos complexos vividos por membros dos corpos docentes que associavam os hábitos talares e as cerimónias a momentos de desperdício e a actos reaccionários.

De acordo com as normas que regem o cerimonial conimbricense, as deputações membros do Coimbra Group não integram aleatoriamente préstitos e espaços.
A disposição das deputações de cada universidade faz-se em conformidade com as precedências, sendo estas reguladas pelo critério da antiguidade, aferido este pela data da respectiva fundação, conforme a lista anexa.

I – Principais actos institucionais
1.1 Presidência: em todos os actos solenes e não solenes realizados na Alma Mater Conimbrigensis cabe ao Rector Magnificus a respectiva presidência e precedência;
1.2 Cumprimentos institucionais: os cumprimentos oficiais que os reitores das universidades do Coimbra Group tenham de apresentar ao Rector Magnificus de Coimbra, a entrada em sala, as apresentações, a troca de prenda institucional e a ordem dos assentos são regulados pela lista anexa;
1.3 Precedência protocolar: o representante da Alma Mater Studiorum (Bolonha) é considerado o decano das universidades do Coimbra Group, competindo-lhe proferir as orações e discursos oficiais em representação do grupo. Não obstante, delegados de outras universidades poderão ser escolhidos para o efeito;
1.4 Participação em préstitos: nos préstitos organizados pela Alma Mater Conimbrigensis, na via pública e no Pátio das Escolas, os representantes das universidades do Coimbra Group tomam lugar atrás do Rector Magnificus de Coimbra. São dispostos dois a dois, em duas alas paralelas, ficando as mais antigas na frente e as mais novas na rectaguarda. Se algum reitor vier acompanhado de bedel, de mestre-de-cerimónias ou de porta-estandarte, estes tomam lugar na sua frente;
1.5 Assentos na sala dos actos: os representantes das universidades do Coimbra Group tomarão assento sob orientação do mestre-de-cerimónias, preferencialmente nas bancadas à direita e à esquerda da cátedra reitoral. Caso haja lugares, poderão sentar-se nos doutorais. As universidades mais antigas devem ser instaladas do lado direito do reitor;
1.6 Indumentária e insígnias: nas solenidades promovidas pela Alma Mater Conimbrigensis, os convites endereçados às reitorias dos membros do Coimbra Group devem especificar o local, a data, a hora e o porte de hábito talar ou do uniforme corporativo e das insígnias que lhe estão associadas;
1.7 Registo das cerimónias: as solenidades promovidas pela Reitoria da Universidade de Coimbra, que envolvam a presença de deputações do Coimbra Group, devem ser fotografadas/filmadas na Via Latina e divulgadas no sítio Web, no canalUC, youtube ou por outros processos multimédia;
1.8 Promoção cultural: durante os encontros realizados em Coimbra, a Universidade de Coimbra deve promover amostras da sua cultura institucional junto dos visitantes, nomeadamente performances de corais, tunas e paisagem sonora da Canção de Coimbra;
1.9 Promoção de produtos locais e regionais: os encontros devem ser articulados com representantes de actividades económicas, com vista à promoção da indústria vinícola, gastronómica e turística da Região Centro;
1.10 Promoção da logo-marca: devem ser distribuídos aos visitantes produtos de prestígio que retratem a produção científica da Universidade de Coimbra, o seu património imóvel, cultural e imaterial.

II-Lista de precedências
Bolonha, Itália, 1088
Oxford, Grã-Bretanha, ca. 1096
Cambridge, Grã-Bretanha, 1209
Salamanca, Espanha, 1218
Padova, Itália, 1222
Siena, Itália, 1240
Montpellier 1, França, 1289
Coimbra, Portugal, 1290
Karlova, República Checa, 1347
Pavia, Itália, 1361
Krakow, Polónia, 1364
Graz, Áustria, 1365
Heidelberg, Alemanha, 1386
Wurzburg, Alemanha, 1402
Katholieke Lueven, Bélgica, 1425
Poitiers, França, 1431
Barcelona, Espanha, 1450
Uppsala, Suécia, 1477
Granada, Espanha, 1531
Jena, Alemanha, 1558
Genève, Suíça, 1559
Leiden, Holanda, 1575
Edinburgh, Grã-Bretanha, 1582
Trinity College, Irlanda, 1592
Groningen, Holanda, 1614
Tartu, Estónia, 1632
Eotvos, Hungria, 1635
Gottingen, Alemanha, 1737
Catholique Louvain, Bélgica, 1834
Galway, Irlanda, 1845
Iasi, Roménia, 1860
Lyon I, França, 1896
Bristol, Grã-Bretanha, 1909
Abo, Finlândia, 1918
Turku, Finlândia, 1920
Tessalónica, Grécia, 1925
Aarhus, Dinarmarca, 1928
Bergen, Noruega, 1946