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sábado, 20 de março de 2010

Vida em Cambridge


Regatta académica. A equipa de Cambrigde em 1875


Gown dos estudantes, união das mangas, costas e saio


Gown dos estudantes, modo de coser o pregueado das costas


Gown dos estudantes, esquema de corte dos dois panos das costas


Gown dos estudantes, frente com os forros inacabados


Gown dos estudantes, feitio das costas


Toga de Música
Técnica de confecção das bainhas dos ombros e do cós posterior que une as costas ao longo saio pregueado


Toga doutoral de Música
Aspecto da ornamentação das mangas e guarnições dianteiras


Toga de gala dos doutores em Música
Seda pérola adamascada e mangas de cetim carmesim


Toga e capelo escarlates, próprios para grandes galas


Graduandos em dia de formatura

Cerimónia jubilar dos 800 anos de Cambridge, 2009
A Rainha Isabel II no King College

Visita dos monarcas britânicos a Cambridge no âmbito dos festejos dos 800 anos (18.11.2009)
Precedida por um dos bedeis, a Rainha Isabel II toma a direita do Chancellor, P. Philip. Em Cambridge, Oxford e Saint Andrews o chancellor (cancelário) tem direito a caudatário, tradição comum a Salamanca e a Coimbra. Em Coimbra, o pajem do reitor é erradamente conhecido por "pajem da borla", isto é, o moço de câmara que nas cerimónias de imposição de insígnias transporta os barretes doutorais em salva de prata. Na verdade, o pajem é do reitor, que tem direito a dois, um por ser rector magnificus e outro por ser magno cancellarius. Como os reitores de Coimbra se limitam a usar uma capa de talhe e tecido vulgares e não o mantéu ou ferraiolo de seda, compreende-se que o pajem apenas seja chamado a carregar bandejas.


Oração solene durante uma cerimónia na Senate House


Discurso do chancellor no doutoramento honoris causa do P. Aga Khan, em 16 de Junho de 2009

quinta-feira, 18 de março de 2010


Um dos momentos do rito de colação do grau de bacharel: o juramento de mãos nas mãos


Membros do corpo docente em préstito


O Doutor Gordon Johnson junto à Senate House (19.07.2008)


A vice-chancellor, precedida pelo bedel, em direcção à Senate House
Em universidades históricas como Coimbra, Oxford e Cambridge, nas solenidades a presença do reitor é sempre assinada pelos bedeis com as maças de prata alçadas.
A sua ausência significa que algo de muito grave perturba a vida da instituição, por exemplo que esta foi privada da sua soberania simbólica. Como tal não se consideram legítimas as cerimónias nem se podem proferir discursos/orações.
No caso de Coimbra, mesmo que não possam estar presentes todos os bedeis, pelo menos o de Artes Liberais tem de marcar presença por respeito ao princípio segundo o qual a Philosophia é a mãe de todo o conhecimento. Embora os códigos de praxe o não digam, os reitores e mestres-de-cerimónias que desrespeitem estes princípios podem ser alvo de sanções no momento.


A chamada cappa clausa usado pelo vice-chancellor (reitor), em carmesim com guarnição frontal de pelo e murça
Em bom rigor não se trata de uma cappa clausa, pois é totalmente aberta na frente, enquanto a clausa tinha um orifício sobre o peito ou nos ombros para a saída dos braços.


Reconstituição do capelo de bacharel por um modelo da década de 1940


Préstito dos formandos
Nota-se alguma proximidade com a tradição coimbrã perdida: traje talar, capelo deitado pelos ombros mas desabotoado (só se abotoavam os alamares após a colação do grau) e cabeça descoberta.


Novos bacharéis a caminho da Senate House para o acto de formatura (Junho de 2008)
Visíveis a gown preta com guarnições de veludo nas mangas, gravata branca de duas línguas e papillon branco e capelo preto guarnecido de pele branca.
O rito de colação do grau não é tão solene como o praticado em Oxford, mas continua a ser tomado de joelhos ante o vice-chancellor e colocando as mãos do formando por dentro das do vice-chancellor


Alunos em "undergraduate", e munidos de capacete militar e máscara antigás dirigem-se para a cerimónia de formatura na Senate House, 3.12.1940

Precedido pelos bedeis, o cancelário Eral Stanley Baldwin apresenta-se à Univ. de Cambridge em 30 de Novembro de 1945


Anel feminino de formatura
Em Portugal, os chamados aneis de curso que proliferaram desde a década de 1980 em quase todos os estabelecimentos de ensino entroncam na replicação da tradição conimbricense que por seu turno não é anterior à década de 1950.
Esses aneis, como é sabido, não estão em conformidade com as disposições estatutárias nem com a heraldística académica. Em primeiro lugar porque, segundo os estatutos e as tradições mais ascentrais, quem pode usar anel de ouro com gema na cor da especialidade científica são os detentores do grau de doutor e não os licenciados nem os bachareis. Em segundo lugar porque a maior parte dos distintivos figurados são puras invenções kitsch sem suporte algum na cultura greco-latina que estriba as alegorias das escolas maiores e respectivos atributos.
O anel conimbricense de pedra (hoje em dia fabricado pelos ourives de Gondomar) é muito tardio. Na verdade, generaliza-se na sequência da moda dos aneis de curso que desde ca. 1920 se tinham popularizado nas universidades da Austrália, Canadá e EUA.
Atendendo a que foi criada a marca Universidade de Coimbra, seria pertinente elaborar um manual actualizado das alegorias de cada faculdade, selos oficiais e distintivos de cursos, de modo a que a UC pudesse tirar proveito económico do património que tem o seu nome e que outros exploram livremente. O que fazer a mais de meio século de aneis de curso de manufactura e uso espontâneo? Adequá-los às normas heráldicas e integrá-los na revitalização dos actos de formatura, dando sinal institucional de apreço pelo património simbólico.

Anel masculino de formatura


Botões de punho em prata

Pulseira em prata


Cambridge, pin em prata com figuração do sigillum
Membro do Coimbra Group, a Universidade de Cambrigde festejou em 2009 oitocentos anos de existência.
Trata-se de uma prestigiada instituição de ensino superior britânica detentora de invejável património artístico e simbólico. Possui um sistema simbólico integrado, anualmente actualizado, que comtempla a investidura de cancelários e reitores, doutoramentos honoris causa, colação de graus académicos, cortejos na via pública, uso de vestes talares, participação na regata com a equipa de Oxford e enriquecimento da economia local através da produção e comercialização de objectos associados à universidade (vestes, jóias).

domingo, 14 de março de 2010


Congregation Procession, University of British Columbia, Vancouver, 1927


Cortejo de formatura na Universidade de Toronto, em transito para o Convocation Hall, 18 de Maio de 1917. A UT concedeu a primeira formatura a Clara Benson, em 1899, na especialidade de Química.

Vida em Uppsala


Antigos estudantes com o studentmossa


Animação fluvial durante a valborg

Festival e piquenique comunitário, valborg


Estudantes e antigos estudantes durante a valborg

Valborg: o reitor, membros do corpo docente e estudantes numa varanda da universidade durante os festejos estudantis anuais.
Em Uppsala, como noutras universidade, a gestão cultural integrada e as estratégias de promoção da imagem institucional implicam uma estreita articulação da programação cultural com as organizações estudantis.
Em Coimbra, só verdadeiramente no reitorado de Fernando Seabra Santos é que a casa reitoral começou a esboçar uma programação cultural integrada. Embora se notassem algumas tímidas presenças da casa reitoral na época de Ferrer Correia, Rui Alarcão, a verdade é que as iniciativas estudantis eram programadas e realizadas como se os encontros de tunas, os encontros internacionais de coros, a queima das fitas ou mesmo a festa das latas e imposição de insígnias pertencessem a organizações que nada tinham que ver com a universidade.
O sentido de autonomia corporativa cultivado pelos estudantes (muitas vezes como contra-cultura) não ajudava muito e as equipas reitorais não estavam dispostas a arriscar um possível enxovalho.
Bem lá no fundo ainda persistia muito vivo aquele entendimento que vinha dos tempos dos reitores João Duarte de Oliveira e Maximino Correia que via as repúblicas, as serenatas e a queima das fitas como "coisas de estudantes", como uma espécie de parque jurássico extravagante tolerado pelas elites.

Os príncipes Carl e Gustaf ouvem uma lição proferida pelo Prof. Johan Lindblad, gravura de 1846. A par das cartolas dos docentes, um boné estudantil de pala preta rígida é bem visível.

Visita de um Nobel a Uppsala. O representante da reitoria exibe grande colar dourado sobre indumentária civil


Cerimónia de investidura de novos doutores e de atribuição do diploma de doutor honoris causa a Kofi Annan que se apresenta com toga norte-americana (27.05.2007). O reitor enverga casaca civil.


Uma cerimónia investidura de novos doutores (promotion) em 29.05.2009: laurel, diploma e anel. Os homens em grande casaca, as mulheres com vestido de cerimónia. Como já se frisou em entradas anteriores, a Univ. de Coimbra protagonizou práticas convergentes com as escandinavas entre finais do século XIX e inícios do século XX


Anel doutoral

Banquete em honra do laureado Gérard Bricogne (28.01.2001)
O banquete em honra de altos dignitários faz partes de diversos sistemas culturais, que não apenas da cultura católica mediterrânea. No conspecto protocolar das relações diplomáticas bilaterais e multilaterais, monarquias e repúblicas continuam a manter o banquete de homenagem como momento alto da arte de bem receber. No tempo presente, os partidos políticos, mesmo os de tendência mais radical, não arriscam fazer um comício sem refeição colectiva, tradição herdada em linha recta das estratégias políticas dos imperadores romanos.
Nas comunidades agro-pastoriais ibéricas as festividades cíclicas eram frequentemente marcadas por ingestão de comida, bebida e libações. Os banquetes colectivos podiam ser feitos em terreiros e alpendres, disponibilizando livre distribuição de alimentos e bebidas (bodos). Nas universidades históricas o banquete é designado "prandium" e ainda ocorre. Em Coimbra, os actos grandes preceituavam que o novo doutor convidasse o órgão de gestão da universidade, os seus familiares e padrinho e todos os doutores, a começar pelos da sua Faculdade. Da ementa faziam parte vinhos finos e a oferta de ovos doces a determinados dignitários. O rito relativo a outros graus obrigava à distruição de confeitos de acúçar, curiosamente o mesmo doce que era distribuído ou atirado sobre os noivos nas cerimónias de casamento. EM Salamanca retomou-se nos últimos anos o refresco de vinho fino e doce maçapão.


Entrega do laurel a Gérard Bricorgne (2005)


Uppsala: honoris causa concedido a Gérard Bricorgne em 28.01.2005. A universidade e os laureandos apresentam-se em grande casaca preta civil (casaca de abas de grilo), correspondendo as coberturas de cabeça doutorais a cartolas forradas de seda preta, modelo muito consagrado nos países escandinavos a partir da indumentária da Academia Sueca.
Para as docentes não se conhece indumentária protocolar específica. Os reitores e vice-reitores usam uma libré de veludo carmesim agaloada a ouro e um chapéu de abas, tradição replicada noutras instituições como Lund.
As insígnias doutorais propriamente ditas são constituídas por um anel de ouro ornado de festão de louros e uma coroa de louros ou laurel. Uppsala, fundada em 1477 e membro do Coimbra Group comunga com Coimbra um conjunto de manifestações identitárias muito fortes que foram testadas na época das grandes reformas iluministas (laboratórios, jardim botânico, museus científicos, etc.).
Anualmente são realizadas cerimónias de bertura do ano escolar, investidura de novos doutores, colação do grau de doutor honoris causa, entrega de diplomas a licenciados e mestres. As tradições académicas apresentam identidade multissecular vincada. Não existindo um traje estudantil, desde a década de 1840 que os académicos adoptaram o boné de pala (studentmossa). O costume de organizar os estudantes por casas provinciais ou nações persiste. Anualmente, entre trinta de Abril e inícios de Maio, os estudantes realizam uma grande festividade designada Valborg (Walpurgis), com paradas, animação fluvial, canto coral, que transitou para outras universidades escandinavas.
Desde 1992 que se registam tentativas para aclimatar a regata Oxford/Cambridge a Uppsala/Lund.
A tradição coral afirmada no século XIX continua a cometer às duas principais formações corais o estatuto de embaixadores culturais:
-o Orphei Drangar, fundado em 1853, que continua a manter os quatro naipes masculinos e uma mística imbatível. É dirigido desde 2008 pela maestrina Cecília Alin. Em 1867 e 1878 fez digressões históricas a Paris, cujo eco alavancou a criação do Orpheon da Univ. de Coimbra em 1880: http://www.singers.com/choral/orpheidrangarr.html; http://www.youtube.com/watch?v=YKrqcgTzL_4.