sábado, 27 de março de 2010

Cerimónia de matrícula, 1842
A cerimónia de matrícula era um acto universitário de pequena solenidade, comum à maior parte das antigas universidades ocidentais.
Por força do processo de laicização do ensino superior e dos sucessivos movimentos abolicionistas, a cerimónia da matrícula desapareceu sem deixar rasto das universidades francesas, italianas e espanholas. Em Coimbra sobreviveria até 1910, muito desgastada e contestada. À semelhança de Oxford, Cambridge e Durham, os alunos deveriam comparecer ao acto em hábito talar. No caso de Coimbra, e nos anos do fim, proferia-se o juramento de respeito à Universidade e à religião católica perante o secretário-geral. Face à perda de importância, é difícil não reconhecer alguma razoabilidade nos protestos do tempo.
Nas décadas de 1980-1990, a matrícula era um ritual administrativo e burocrático de humilhação e sofrimento debaixo dos inclementes calores de Outubro. Nos anos da massificação do ensino superior, a documentação a apresentar era integralmente em suporte papel, apenas se podia comprar na Sociedade Filantrópico-Académica ou na Procuradoria Universitária e só se podia entregar nos guichés da Secretaria-Geral. A compra dos impressos e estampilhas fiscais e a sua entrega implicavam longas horas de paciência na Filantrópica e na Secretaria-Geral. Havia o boletim de matrícula, o requerimento, o boletim estatístico, as estampilhas, com infindáveis campos para preencher manualmente e perguntas pouco inteligíveis. Quem fosse bolseiro ou pretendesse candidatar-se a bolsa de estudos, era sujeito a um autêntico calvário burocrático: boletim de candidatura, declaração do presidente da junta de freguesia, declaração de despesas farmacêuticas, declarações de peritos médicos em caso de doenças familiares inabilitantes, entre outros. Defendendo a inclusão, os processos dos bolseiros funcionavam como instrumentos de exclusão. Mesmo que o estudante continuasse a ser bolseiro nos quatro ou cinco anos seguintes, todos os anos tinha de entregar nos Serviços Sociais os mesmos documentos que já preenchera no ano anterior. Apenas mudava a data. Os serviços funcionavam, mas os conceitos de eficiência, qualidade, satisfação do cidadão e interoperabilidade de bases de dados estavam para chegar.
A matriculation oxoniana é realizada anualmente em Outubro, no teatro Sheldonian, com os alunos dos vários colégios presentes, o reitor (vice-chancellor), os bedeis, os directores dos colégios e outros funcionários.
Esta cerimónia ainda ocorre na Univ. de Cambridge, na Univ. de Bristol, na Univ. de Durham, nalguns colégios e universidades dos EUA. Na Univ. de Copenhaga a matrícula é antecedida de cortejo público com os alunos, reitor e deões das faculdades. Há confirmação das inscrições, discurso reitoral e saída do cortejo. Na Univ. de Praga, membro do Coimbra Group, substiste a matriculação na aula magna, com discurso reitoral, leitura dos direitos estatutários dos estudantes e toque na maça da respectiva faculdade (exibidas pelos directores). No Canadá, a matriculação tem lugar na University of King's College, sendo bem vincadas as semelhanças com o rito oxoniano.
Em Oxford, a cerimónia inicia-se com um desfile dos estudantes na via pública. Em hábito, estes dirigem-se para o teatro Sheldonian. Tem vindo a perder-se, mas até 1960, a matrícula estava associada à realização de um acto de examinação dos candidatos (responsions), baseado em questões simples formuladas em latim sobre temas latinos, gregos, teológicos ou matemáticos. Esta examinação era conhecida na gíria académica por "little go".
Sentados os novos alunos, entrava o reitor com loba vestida e antecedido pelos bedeis com as maças levantadas. A entrada do reitor e dos oficiais maiores poderia ser acompanhada pelo órgão de tubos que se encontra na testeira do teatro. Segundo o costume dos "statuta antiqua", o director do colégio dirigia-se ao reitor, desbarretava-se e fazia-lhe uma reverência, após o que lhe apresentava o novo aluno. Este cortejava o reitor, inscrevia-se no livro de registos de matrícula e pagava a propina. O reitor entregava ao aluno uma cópia do livro dos estatutos, dizendo:
«Scito te (ou scitot vos) in matriculam universitatis hodie relatum (ou relatos) esse, et ad observandum omnia satuta hoc libro comprehensa, quantum ad te (ou ad vos) spectent, teneri».
Finda a cerimónia, os colégios costumavam distribuir vinhos finos e organizavam banquetes de gala.

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