Virtual Memories
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
O trabalho de ornamentação da copa, baseado na aplicação de ampla borla de fios de seda, a copa circular falsa e o florão de aparato levam-nos a questionar até que ponto o barrete doutoral da Universidade de Coimbra não foi influenciado pelo conhecimento da chapelaria oriental dos aristocratas e altos dignitários de estado.
Barrete de mandarim
A estrutura preta do chapéu nada tem de extraordinário, com a sua copa calótica e a aba revirada, a lembrar os barretes dos bispos da Etiópia e Roménia, e até os chapelinhos oitocentistas de feltro que as mulheres portuguesas da faixa atlântica usavam enfeitados com pompons e plumas. Porém, o florão e a ampla borla de seda carmesim permitem estabelecer comparações com o trabalho artesanal desenvolvido pelas bordadeiras de Coimbra na confecção das insígnias doutorais.
Mandarim
Traje de gala de Inverno usado por um mandarim em 1700. O adorno de ombros e o chapéu com florão e borla de seda a toda a volta da copa remetem inevitavelmente para uma situação de semelhança no mundo ocidental: o conjunto artesanal surgido espontaneamente nas oficinas de passamanaria de Coimbra pela segunda metade do século XVIII, conhecido por borla e capelo.
Principe da Moldávia
Hábito talar de cerimónia e chapéu de aparato usado pelo Princípe da Moldávia numa deslocação à corte otomana (Biblioteca de Nova Iorque, gravura de ca. 1808-1826). Comparados com a bizarraria e aparato exibitório das coberturas de cabeça do Império Otomano, as borlas dos doutores conimbricenses e os galeros dos cardeais romanos parecem algo humildes.
Retrato de Abaroska
Representação de vulto de Kristof Abaroska, realizado em 1622. Nesta imagem, obtida a partir de uma recolha alusiva a trajes militares da Polónia e Lituânia para os anos de 1633-1683, salientam-se dois traços curiosos: vestes talares masculinas de corpos duplos, confeccionadas em tecidos de luxo, que no essencial reproduzem o estilo cortesão praticado no Império Otomano; vestes talares de corpos duplos ou sobrepostos que apresentam profundas semelhanças com vestes usadas em Itália, Portugal, Espanha e Grã-Bretanha por dignitários religiosos, judiciais e académicos.
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009
João Meira
Retrato a óleo do médico João de Monteiro Meira, da autoria de Abel Cardoso. Meira formou-se na Escola Médico-Cirúrgica do Porto em 1907, ostentando a toga preta talar com os alamares de estilo portuense e o barrete oitavado. Este chapéu, distinto da solução adoptada pelas Médico-Cirúrgicas de Lisboa e de São Salvador da Bahia (modelos troncónicos próximos da chapelaria ortodoxa russa), segue a tipologia consagrada pelos juristas e professores espanhóis e advogados portugueses.
Fonte: Sociedade Martins Sarmento/Guimarães, http://sarmento.weblog.com/pt/arquivo/2006/01/index.html
Fresco da autoria de Juan Ibánez no santuário de Santa Eulália de Mérida, datado da primeira metade do século XVII.
Desde a Idade Média era habitual os artistas europeus representarem estes dois santos orientais como doutores de Medicina. O presente exercício pictórico confirma a tradição, com Cosme e Damião figurados com lobas talares duplas, barretes quadrangulares e num dos casos uma murça.