terça-feira, 25 de agosto de 2009

III - Património...
Académicos de toga e académicos de espada (cont.)
Caminho distinto trilharia a Faculdade de Medicina da Bahia, onde se usou uma toga talar preta de dois corpos, meia romeira de ombros e barrete preto agaloado, traje de inspiração francesa anterior a 1789, também utilizado pelos alunos daquela instituição nos actos de formatura[1]. O mesmo aconteceria na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, instituída em 1832 a partir da Escola Anatómica, Cirúrgica e Médica do Rio de Janeiro (1808)[2].
Na Inglaterra dos colégios de ensino básico e secundário, onde a batina de lã azul do Christie’s Hospital, remontante a 1552 (Blue Coat Uniform)[3] fizera história e sobrevivia sem beliscadura, afirmava-se, num registo mais laico, o fato de colegial, genericamente conhecido por High School Uniform, à base de pullover, gravata, calção curto de flanela cinza, blazer e boné. Dentre todos, tornou-se conhecido e cobiçado nos anos do Rei Eduardo VII (1901-1910) o Eton Suit[4], assente no conjunto calça cinza listada, jaqueta preta, colete, cartola e gola à século XVII. Usado por alunos do sexo masculino até aos 16 anos, este uniforme abandonou a cartola no final da Segunda Guerra Mundial, cobertura hodiernamente substituída pelo chapéu de palhinha (straw-boater). A antiga jaqueta tem vindo a ser paulatinamente substituída pela labita preta com as típicas abas de grilo.
A um nível de ensino mais elementar, os alunos das “grammar schools” privadas também estão obrigados ao porte regulamentar de uniforme cinzento, composto por boné, gravata, blazer, calções, pullover e sobretudo de chuva. Desde finais do século XIX que o “traditional english schoolboy” se transformou numa referência para os colégios privados à escala mundial. Incontáveis variantes em corte e cor foram instituídos em Inglaterra, Canadá, EUA, Brasil, Portugal Japão ou Coreia[5].
REFERÊNCIAS
[1] A Escola de Cirurgia da Bahia, fundada em 1808 por D. João VI, passou a Faculdade de Medicina em 1832. Numa fotografia de curso de 1939 confirma-se a utilização da toga e do barrete pelos alunos nos actos de formatura. Mais dados e imagens em Margarida Sousa Neves, Lugares de memória da Medicina no Brasil. Faculdade de Medicina da Bahia, http://www.historiaecultura.pro.br/cienciaepreconceito/lugaresdememoria/faculdadedemedicinadabahia.htm (consultado em Março de 2007).
[2] Mais informação no sítio Museu Virtual. Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, http://www.museuvirtual.medicina.ufrj.br/.
[3] Iconografia e textos de apoio disponíveis em “Bluecoat Schools”, http://www.archivist.f2com/ (consultado em 2007). Traje de alunos de nível secundário, já foi alvo de feminilização, sendo dos mais representados em peças escultóricas. A “bluecoat” é um traje de grande interesse para a história dos uniformes escolares e religiosos ocidentais, na medida em que ilustra o que era a batina de um corpo antes da afirmação da batina romana no século XVIII. Tenha-se presente uma veste talar escura (não necessariamente preta), confeccionada em lã, com mangas tubulares simples, colarinho sem golas, saio franzido a partir de um cós recortado pela linha da cintura e ancas, e abotoadura com carcela entre o pescoço e o ventre. Modelo idêntico sobreviveu em Itália, na região de Milão, até finais do século XX, com carcela de 5 botões, designado por batina ambrosiana.
[4] Instituição fundada pelo rei Henrique VI em 1440. O traje tradicional deste colégio era uma batina talar preta, cujo modelo seria bastante próximo da “bluecoat school”.
[5] Dados adicionais na rubrica Uniforme Scolaire, http://fr.wikipedia.org.wiki/Uniforme_scolaire (consultado em Setembro de 2008).

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