sábado, 24 de janeiro de 2009


Bioco
Mulheres de Olhão, Algarve, com o antigo manto e bioco. Neste caso, a veste que cobre o corpo e ombros é uma espécie de capote com generosa romeira. Os biocos, cocas e rebuços foram alvo de desconfiança por parte das autoridades, em Portugal e no Brasil. Se os mantos, mantéus, capotes e mantilhas podiam acobertar pistolões, porros e mocas, a ocultação do rosto remetia para a delinquência clandestina. Daí que em 1810 D. João VI tenha proibido, sem sucesso, as damas de S. Paulo de usarem rebuço e mantilha. Daí que o governador civil de Faro, em 1892, tenha decretado a interdição do bioco e manto das algarvias, pelos vistos sem grande sucesso.
No caso dos estudantes de Coimbra, diversos alvarás e editais procuraram combater, sempre com escassos resultados, as máscaras e os rebuços. Com efeito, até bem entradote o século XIX, os escolares conimbricenses mantiveram o apego ao uso de máscaras fora da quadra carnavalesca. Entre os utentes pacíficos, havia sempre algum que incomodava as autoridades, pois que a coberto de máscara ou mascarilha proferia insultos e zurzia costados de populares. Mais temidos e detestados pelas autoridades eram uma tipologia de antigos mantéus estudantis, que em vez de estolas e cordão comportavam uma romeira em torno dos ombros. Em noites de frio, chuva e morrinha, o mantéu de romeira era o preferido dos escolares aventureiros que lançavam a dita peça pela cabeça, ficando inteiramente embuçados. E a coberto do rebuço, a violência não raro recrudescia. Em épocas mais recuadas, pelo século XVI, inícios do XVII, escolares houve que usaram mantéu com romeira e capuz, de remate semelhante ao gabão da Beira Litoral. Em bom rigor tratava-se de uma veste própria para luto, mas havia quem a envergasse no quotidiano e dela tirasse proveito para distribuir cacetada e pilhar capoeiras. Reminiscências deste passado brumoso e turbulento, na década de 1980 ainda se avistavam pela Alta de Coimbra em dias de "chuva futrica" estudantes com a capa deitada pela cabeça. O efeito visual era bizarro, lembrando justamente o bioco das olhanenses.
-http://www.olhao.web.pt/usos.htm;
-http://trajesdeportugal.blogspot.com/.

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