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quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Costumes de Cambridge

Proctor

Pensionista
Aluno pensionista do Trinity College.

Estudante pensioner
O traje do pensionista é marcado pela modéstia de tecidos e de aparato, lembrando situações próximas vividas em Coimbra, Salamanca e Valladolid, onde os estudantes humildes eram conhecidos por gorristas ou capigorristas, dado usarem um gorro parecido com os dos pescadores e agricultores.

Aluno nobre
Nobleman of fellow of King's College.

Nobre
Aluno nobre com gown agaloada a ouro, numa imitação dos trajes de gala dos detentores de altos cargos.

Fellow
Fellow Commoner do Trinity College com toga debruada (gown) sobre traje civil e barrete preto (square).

Fellow Commoner
Membro do Em. College, com traje civil, toga agaloada a ouro e cartola de feltro preto.


Bedel de Cambrigde
Nesta gravura de 1803, o "esquire beadle" enverga traje civil, toga preta (chimera) de mangas fendidas e cartola (top hat), que desde a década de 1770 era o chapéu de gala consagrado na Academia e nas universidades suecas.
Desenhos de Richard Harraden, "Costume of the various orders in the University of Cambridge", 1803.

Académicos belgas

Liège: comité de baptismo 2003
Na maior parte dos estabelecimentos de ensino superior da Bélgica realizam-se anualmente rituais cíclicos de passagem e festividades estudantis que permitem aproximar a realidade belga das práticas tradicionais de Coimbra e de outros estabelecimentos de ensino portugueses.
A Universidade Livre de Liège ocupa posição de destaque na dinamização anual de festividades académicas. Entre o início do ano escolar e o Natal, as comissões académicas de baptismo, cujos membros vestem toga e boné, afadigam-se na preparação dos baptismos dos caloiros (baptême des bleus), conjunto de eventos que congrega iniciação aos cantos goliardos tradicionais, ingestão imoderada de bebidas alcoólicas, realização de uma série de provas tipo os trabalhos de Hércules e eleição do Rei dos Caloiros (Roi des Bleus). Vale a pena salientar as semelhanças com as antigas caçoadas iniciáticas de caloiros de Coimbra, e com as eleições dos reis dos caloiros, seguidas de procissões e baptismos, que se faziam nos lyceus de Ponta Delgada e Guarda.
Segue-se, na primeira semana de Dezembro, a "Saint-Nicolas", o São Nicolau dos Estudantes, ou Nicolinas, festejos praticados em várias universidades belgas, que se realizam regularmente em Liège desde 1904. São Nicolau, patrono dos estudantes, também era celebrado em Coimbra, com programa mais religioso do que profano, mas è no Lyceu de Guimarães que esta festa atinge grande expressividade e marca de originalidade. Os números mais antigos das Nicolinas vimaraneses como a entrada do pinheiro, as posses e o pregão comunitário, parecem remontar ao século XVII, tendo passado para a tutela dos liceais a partir de 1892. Tal facto faz das Nicolinas a segunda festividade académica mais original e ancestral de Portugal, logo a seguir à Queima das Fitas da Universidade de Coimbra.
Mais para o final do ano escolar, os estudantes de Liège realizam a "Saint-Toré", uma gandaia burlesca com simulação de pega de touro e cortejo alegórico remontante a 17 de Fevereiro de 1949. Esta realização entronca nas festas carnavalescas populares e na "mi-carême" que os estudantes franceses, belgas e portugueses das politécnicas de Lisboa e Porto promoviam desde a década de 1890. O culto do touro, que em Liège simboliza os estudantes, e em Coimbra os caloiros, remonta à pré-história. Muito diluído, o culto mantém-se em Coimbra nas latadas iniciáticas, e em ritos de passagem como a emancipação de caloiros e garraida da Queima das Fitas.

Festividade nas ruas de Liège



La Calotte

A generalidade dos estudantes universitários católicos belgas não usa o képi prussiano (la penne) mas sim uma barretina de pele de cordeiro que parece constituir uma réplica da "pillbox" usada pelos cadetes britânicos desde 1858, por estutudantes esgrimistas alemães, suiços e austríacos, e por militares portugueses e alunos do Colégio Militar.

De acordo com o relato oficial, e sem que se rejeite a origem militar, as associações estudantis belgas entroncam esta cobertura de cabeça no "colbach" usado pelas tropas zuavas húngaras ao serviço do papa. Os estudantes católicos belgas que combateram ao lado das hostes papais e participaram na tomada de Roma em 20.09.1870 terão trazido para Louvaina o "colbach", numa altura em que a cobertura de cabeça mais usada entre os estudantes era o boné prussiano.

Em 1877 realizou-se na Bélgica uma reunião geral de delegados do ensino superior, com vista à criação de símbolos e distintivos. Na referida sessão chegou a aventar-se a hipótese de adopção barrete dos estudantes de Oxford. Mas o boné ou képi preto prussiano continuou em uso, sendo então designado por "crapuleuse". No ano lectivo de 1894-1895 o estudante Edmond Carton de Wiart, da Société Générale Bruxelloise des Étudiants Catholiques, dinamizou o lançamento da Ordre de la Calotte, na cidade de Louvaina, que teve um papel decisivo na tradicionalização da barretina. Em 1898, "la calotte" estava popularizada nas comunidades estudantis de Gand e de Liège. Passou a ser o símbolo dos estudantes católicos e tradicionalistas valões, ligado aos baptismos iniciáticos de caloiros (les bleus), às festividades do São Nicolau dos Estudantes e a diversos momentos da vida académica.

(La Calotte, http://www.cerclesaintlouis.com/folklore_calotte.html)


Barrete zuavo
Os estudantes universitários católicos belgas consideram que este barrete islâmico-militar constitui a origem do barrete adoptado em Louvaina ("la calotte") na segunda metade do século XIX.


Barrete tradicional dos zuavos


La Penne
O boné "la penne" constitui uma variante do "penne consulaire", cuja peculiaridade consiste no uso de uma pala disforme cosida na fronte. Esta variante encontra-se tradicionalizada entre os estudantes da Universidade Livre de Bruxelas.


La Penne Consulaire
O boné prussiano de pala pequena é usado pelos estudantes não católicos do ensino superior belga desde a década de 1850. Esta variante, mais próxima do képi consagrado pelos académicos da tradição germânica e escandinava, é usada pelos alunos da Universidade Católica de Mons.

Estudante belga
Fotografia da segunda metade do século XIX (anos de 1870...). O escolar enverga indumentária civil e a barretina redonda militar, semelhante ao modelo consagrado pelos estudantes da Alemanha, Suiça e Áustria.
(Fotografia do acervo do Museo Internacional del Estudiante)

terça-feira, 23 de dezembro de 2008


Aula em Louvaina

Costumes escolares escandinavos


Aluno de Uppsala
Estudante da Universidade de Uppsala em 1915 com o tradicional boné de tecido branco.


O boné comum (teekari) e o boné de tecnologia (tecknologmosse)
O boné prussiano começou a ser usado nos países escandinavos pelos alunos da Universidade de Uppsala em 1845, numa altura em que este estabelecimento de ensino se afanava em projectos culturais como a fundação da associação de estudantes e o grupo coral masculino a quatro vozes.
O "studentmossa" foi popularizado ao longo das décadas seguintes nos restantes países escandinavos. Na Finlândia, onde entrou por volta de 1870, ficaria conhecido por "teekari". A variante dos alunos de tecnologias, com cordão e borla, foi baptizada de "teekarilakki".
Os estudantes dimanarqueses preferiaram chamar-lhe "studenterhue" (1856 e ss.), e os da Islândia "studentahúfa". Os alunos noruegueses que usam o boné desde 1856, identificam-no pela designação de "duskelue".

Boné de tecnologia (Finlândia)
Os estudantes de ensino superior tecnológico da Suécia, Noruega e Finlândia acrescentam ao boné comum um longo cordão rematado em borla.
Este costume começou a ser praticado pelos estudantes da Noruega em 1856. Em 1876 foi imitado pelos alunos da Universidade Tecnológica de Chalmers, em Gotenburgo, que se apropriaram do "duskelue". Da Suécia, o boné com borla transitou para a Finlândia.


Estudantes de Helsínquia
Influenciados pela tradição germânica, os estudantes do ensino superior dos países escandinavos usam desde o século XIX o boné prussiano de copa de tecido e pala escura rígida.
A fotografia documenta a "wappu", festa tradicional dos estudantes de Helsínquia/Finlândia, realizada no 1º de Maio. Os estudantes envergam o boné (teekari) e fatos de macaco profusamente ornamentados com emblemas e pins. O programa festivo integra cortejo alegórico, piquenique colectivo e festival musical.
De acordo com as informações disponíveis, o "teekari" foi trazido da Suécia para a Universidade de Helsínquia em 1870. Rapidamente tradicionalizado, passou a ter uso no ensino superior e no ensino secundário.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Imagens de estudantes austríacos

Baile escolar em Linz
Fotografia de um baile de gala de estudantes austríacos em Linz, figurando os pares masculinos com o boné convencional. Os bailes universitários austríacos, de origem aristocrática, remontam aos finais do século XIX, tal como os não menos famosos eventos dançantes dos estudantes franceses. Na mesma época a Casa Reitoral da Universidade de Coimbra promovia um baile anual em homenagem aos estudantes laureados. Realizado a 8 de Dezembro, era um exemplo positivo de produção cultural integrada nas relações difíceis entre Reitoria e Academia. Alvo das sátiras dos estudantes comuns, que apodavam os seus colegas premiados de "marrões" e de "ursos", o Baile dos Ursos realizou-se pela última vez em 8 de Dezembro de 1909, sem que o seu pioneirismo e função cultural alguma vez tenham sido postas em destque pelos pedagogos.


Selo postal de 1983
Encontro de estudantes de algumas agremiações austríacas com o uniforme de gala. O selo postal figura a faixa tradicional e o boné.


Estudantes austríacos
(Fotografia da colecção do Museo Internacional del Estudiante)



Estudante com o "kneipe"
O "mutze" ou "kneipe" prussiano de pala preta rígida é considerado símbolo dos universitários austríacos que, inspirados nos seus colegas germânicos, o adoptaram na primeira metade do século XIX. À semelhança do costume consagrado nas universidades suiças e alemães, os membros das agremiações ou nações de esgrima usam o "pillbox", uma barretina redonda com a copa ornamentada, idêntica à que ainda hoje se pode observar nos recém-matriculados no Colégio Militar.
(fotografia do acervo do Mueso Internacional del Estudiante)

domingo, 21 de dezembro de 2008

Costumes escolares italianos


Chapéus estudantis
Vitrine no Museo Europeo degli Studenti, Universidade de Bolonha.

Feluca romana com borla


Ornamentação no chapéu académico italiano


La Feluca
O "berreto universitario" é um chapeu de feltro neomedieval, adopato pelos universitários italianos em 1888. A cor varia conforme os cursos. Os estudantes costumam ornamentar o chapéu com crachás, pins e borlas.

Goliardia de Perugia
Agremiação de estudantes goliardos na cerimónia de abertura do ano académico e 699º aniversário da fundação da Università degli Studi di Perugia, realizada em 16.11.2007.
Os estudantes envergam mantos e um chapéu de feltro neomedieval adoptado em 1888 durante o 8º Centenário da fundação da Universidade de Bolonha.
(http://www.unipg.it/comunica/inaug0607.htm)


Traje do Colégio Germano-Húngaro
Quatro variantes do mais célebre traje dos estudantes católicos romanos, conhecido por "gambari cotti". De acordo com o protocolo religioso, incluía versões para uso doméstico, saídas e aulas, culto e prática coral.


Estudantes de alguns colégios romanos
Desenho reconstitutivo de trajes talares usados em alguns dos colégios católicos romanos nos finais do século XVIII, segundo Albert Racinet, "Histoire du Costume", 1888 (existe tradução pouco fiável desta obra, com o título "Enciclopédia histórica do traje", Lisboa, Editora Replicação, s/d.).
1: aluno do Colégio dos Gregos, com sotaina azul, chamarra azul (=chimera, soprana), cinto, e gorro oriental;
2: aluno do Colégio dos Nazarenos, com batina romana e chamarra desprovida de mangas, conforme a variaante mais consagrada em Coimbra;
3: aluno do Colégio da Salvação, com as vestes talares bancas;
4: aluno do Pontifical Scots College, com sotaina roxa e chamarra azul;
5: aluno do Colégio de Mateus. Por debaixo da chamarra talar exibe a casaca preta civil, que a partir da década de 1860 será consagrada em Coimbra.


Escolar de colégio romano
Desenho do traje talar clássico usado pela esmagadora maioria dos estudantes dos colégios católicos romanos até à década de 1960. Nesta variante, a sobreveste, conhecida na gíria romana por "soprana", apresenta mangas estreitas iguais à do mantellone, afastando-se da variante usada em Coimbra, Orxford e nas catedrais anglicanas. Como cobertura de cabeça, o escolar exibe um vulgar chapéu de feltro, conhecido por venerabilino.


Colégio dos Gregos (Roma)
Nesta interessante fotografia, os alunos do Pontificio Collegio Greco, fundado em 1577, ainda apresentam a veste talar dupla, da mesma família da loba que se usou na maior parte das universidades históricas. Os alunos envergam sapato de couro preto, meias altas, calções, a barretina religiosa ortodoxa em feltro preto (kamalikava), e o famoso traje talar azul: a sotaina interna, possivelmente sem mangas, bastante larga, cintada com uma fixa de seda vermelha, e a soprana exterior, ou sobreveste, com manga larga, no estilo grego.


Colegio Lombardo (Roma)
Os alunos do Colégio Lombardo usaram até à década de 1960 um traje talar composto por batina preta e sobreveste da mesma cor (soprana), sendo a veste interna apertada na cintura com uma faixa de seda violeta. Nesta fotografia, os colegiais estão misturados com visitantes, entre os quais se conta Luigi Montini.


Estudante de Pádua
Desenho reconstitutivo baseado num documento de 1583, realizado por Braun & Schneider, em "The History of Costume", 1861-1880. A figura central exibe um chapéu espanhol, ou "à Filipe II", e uma garnacha com entretalhos nas mangas e forro de pelo.
(acervo do Museo Internacional del Estudiante)


Estudantes italianos
Reconstituição de Braun & Schneider, 1861-1880, a partir de documento do medieval. A melhor iconografia para o estudo da "toilette" dos estudantes italianos nos séculos XIV e XV continua a ser a arte tumular.
(Acervo do Museo Internacional del Estudiante)

Imagens de estudantes franceses


Caçada ao Bitard
À semelhança das demais instituições de ensino superior francês, também os alunos da Universidade de Poitiers usam o barrete preto de veludo trazido de Bolonha por alturas de 25 de Junho de 1888.
Na primavera, a Ordem do Bitard, constituída por universitários de Poitiers, dinamiza um conjunto de festividades, a Bitardbourg ou Semaine Estudiantine, assente na simulação de uma caçada a uma serpe mitológica (Dahu), música, parada e jantar comunitário. Nesta fotografia, da década de 1960, fixa-se um momento da caçada ao Dahu, no Bosque de Chantelon, nos arredores de Poitiers.
Bastante conhecida em França, a Bitardbourg de Poitiers, embora inspirada na mitologia rabelaisiana, nunca conquistou o grau de popularização das festas levadas a cabo anualmente pelos estudantes de Coimbra (Queima das Fitas), alunos do ensino secundário de Guimarães (Nicolinas ou Festas do São Nicolau dos Estudantes), da Wappu dos estudantes de Helsinquia, dos festejos dos universitários de Fribourgo ou da semana primaveril de Liège.