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sábado, 5 de julho de 2008

Oficiais da Casa Papal
Cortejo com transporte da mitra e tiara pelos antigos oficiais da Casa Papal, anteriormente às reformas do cerimonial implementadas por Paulo VI em 1969.
Nesta fotografia (décadas de 1950? 1960?), os "bussolanti" continuam a envergar a antiga loba talar de seda vermelha. Na sua fase final, verifica-se que a cor foi uniformizada (a sotaina era azulada) e a meia manga da crócia tornou-se ligeiramente mais comprida, porém mantendo o canhão e o pregueado na costura de ombros. A principal mudança parece registar-se na substituição do fanone humeral por murça de peito inteiriço e capuz dorsal pronunciado.


Pagem caudatário
Oficial da Casa Papal em gravura datável das décadas de 1820-1830: sapato preto napoleónico com fivela de prata, sotaina talar interna abotoada na frente e apertada com faixa de pontas, crócia de meias mangas acanhoadas, fanon de ombros em seda e barrete quadrangular.

Camareiro papal (I)
"Bussolante che porta la tiara", registo anterior a 1844, divulgado por Nicolas Dally.
Nos cortejos solenes pedestres e nas cavalgadas de aparato, as coberturas de cabeça eram publicamente exibidas com grande ênfase, na continuidade do triunfo romano.
O costume, comum às instituições monárquicas, militares e judiciárias, manteve-se até pelo menos 1969.
O camareiro transporta a tiara num suporte oval de madeira e não em almofada agaloada ou salva de prata.
Os oficiais "bussolanti" não envergavam "mantelletta" (opa curta, sem mangas), nem mantellone (sobreveste munida de mangas, tipo sobretudo ou gabardine, mas distinta do viatório), mas a antiga loba, composta por sotaina azulada e soprana ou chamarra vermelha com as típicas meias mangas. Contudo, na gíria da Casa Papal, a chamarra ou garnacha dos camaristas tinha a peculiar designação de "crocia", curioso termo que em Portugal serviu para designar as capas de palha dos camponeses. A referida veste era completa por cinto de pontas e murça de avantajado capuz dorsal.

Camareiro papal (II)
"Cameriere particolare del papa", ou porta-flabelo, funcionário da Casa Papal encarregue de refrescar o pontífice com leques de plumas de avestruz, antiquíssimo costume pré-cristão que se pode detectar em relevos egípcio-faraónicos.
Em actividade até ao pontificado de Paulo VI, os porta-flabelos figuravam habitualmente atrás do trono papal, em cortejos solenes (nas imediações da sedia) e demais cerimónias.
Neste registo, anterior a 1844, o camareiro enverga murça de arminhos e loba talar composta por sotaina azulada e chamarra ou sobreveste munida de mangas acanhoadas pela linha do cotovelo.
O privilégio do uso cerimonial do flabelo foi concedido no século XVIII pelo pontífice romano ao patriarca de Lisboa, razão pela qual se podem visualizar dois flabelos oriundos de Roma no Museu de Arte Sacra da Sé de Lisboa. Fotografias de época, mostram que estiveram em uso até finais do governo do Cardeal Cerejeira.
As gravuras I e II integram a recolha de Nicolas Dally, "Usi e costumi sociali, politici e religiosi di tuti i popoli del mondo...", Torino, 1844-1847.

Trajes Portugueses na obra da Nicolas Dally

Mulher da cidade do Porto
Gravura baseada em relato de viagem anterior a 1844: trajo citadino de arruar, predominando o preto da saia e do amplo manto de merino que recobre a cabeça e descai quase até à meia perna. Este manto parece constituir uma variante do modelo que então se usava na Ilha Terceira, Beira Baixa (Monsanto), alguns povoados do Alentejo e no sul de Espanha. A versão portuense não comporta entrela na zona da cabeça e não aperta na linha da cintura.


Vendedor de passarinhos de Pardilhó
Gravura baseada em recolha da primeira metade do século XIX, anterior a 1844: camponês da Beira Litoral, descalço, a apregoar passarinhos. Enverga amplo camiseiro de linho ou estopa, desabotoado no peito e apertado com faixa de pano, e um colete azul. A cobertura de cabeça parece ser não um gorro mas im um lenço de baeta cujas pontas foram atadas atrás da nuca.


Peixeira de Pardilhó
Indumentária feminina da primeira metade do século XIX, mas herdada de setecentos, comum a muitos povoados litorâneos de entre Mondego e Douro. Estatura entre o meão e o baixo, pés descalços, pele fortemente bronzeada, mãos calosas; andaina rústica constituída por saia cobalto de pregueados ampos, repuxada na anca com corda, colete de atacas dianteiras, blusa de linho grosseiro, protegida com gola derreada de tipo romeira, amplo lenço, chapeirão de feltro com pompoms, rodilha e cesta de peixe.
Estas gravuras foram obtidas a partir de desenhos contidos em relatos de viagens e publicadas pela primeira vez por Nicolas DALLY, "Usi e costumi sociali, politici e religiosi di tutti i popoli del mondo da documenti autentici e dai viaggi migliore e piu recenti: traduzione reviduta dal cavalieri Luigi Cibrairio", Torino, Stabilimento Tipografico Fontana, 1844-1847. Um exemplar desta obra pertence ao acervo da Manhatan Library, que procedeu à sua digitalização e divulgação on line: NYLPDigitalGallery, http://digitalgallery.nylp.org/nylpdigital/dgbout.cfm.