Virtual Memories

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

O galero cardinalício
Retrato do Cardeal ucraniano Josyf Slippyj (1892-1984), criado cardeal em 22 de Fevereiro de 1965. Aposto sobre o capuz de seda, este galero de feltro mantém o formato medieval, com copa relativamente baixa e tendencialmente plana, avantajada aba, duas borlas no sopé da copa e longo cordão a afunilar para baixo do queixo. Slippyj traz, deitada pelos ombros e a cair pelo peito, uma segunda peça do galero, designada em italiano por "fioccaura", isto é, duas linhas de borlas ou glandes, bordadas em lã e seda, em número correspondente à heráldica cardinalícia. A "fioccaura" não era usada em todas as cerimónias de corte, sendo mais frequente vê-la em cortejos solenes, entradas equestres de aparato e cerimónias fúnebres.
Em desuso desde 1969, o galero de feltro, ou forrado de tecido de seda, ainda é confeccionado por manufacturas italianas da especialidade, não sendo o seu preço inferior a 1.500 Euros. O ritual de investidura dos cardeais, simplificado desde o pontificado de Paulo VI, não agrada a todos os clérigos, havendo que não se reveja na simples outorga do anel e do barrete quadrangular, não sendo raro ouvir-se o desabafo "o papa tem de entregar alguma coisa". Até 1969 este "alguma coisa" era o aparatoso galero de borlas, imposto solenemente com base num cerimonial bem próximo da criação dos doutores que por séculos se praticou em Salamanca, Alcalà de Henares e Coimbra.
(imagem extraída de "Foro Santa Sofía", http://www.forosantasofia.com/ar/2007_10_14.archive.html)