quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Académicos belgas

Liège: comité de baptismo 2003
Na maior parte dos estabelecimentos de ensino superior da Bélgica realizam-se anualmente rituais cíclicos de passagem e festividades estudantis que permitem aproximar a realidade belga das práticas tradicionais de Coimbra e de outros estabelecimentos de ensino portugueses.
A Universidade Livre de Liège ocupa posição de destaque na dinamização anual de festividades académicas. Entre o início do ano escolar e o Natal, as comissões académicas de baptismo, cujos membros vestem toga e boné, afadigam-se na preparação dos baptismos dos caloiros (baptême des bleus), conjunto de eventos que congrega iniciação aos cantos goliardos tradicionais, ingestão imoderada de bebidas alcoólicas, realização de uma série de provas tipo os trabalhos de Hércules e eleição do Rei dos Caloiros (Roi des Bleus). Vale a pena salientar as semelhanças com as antigas caçoadas iniciáticas de caloiros de Coimbra, e com as eleições dos reis dos caloiros, seguidas de procissões e baptismos, que se faziam nos lyceus de Ponta Delgada e Guarda.
Segue-se, na primeira semana de Dezembro, a "Saint-Nicolas", o São Nicolau dos Estudantes, ou Nicolinas, festejos praticados em várias universidades belgas, que se realizam regularmente em Liège desde 1904. São Nicolau, patrono dos estudantes, também era celebrado em Coimbra, com programa mais religioso do que profano, mas è no Lyceu de Guimarães que esta festa atinge grande expressividade e marca de originalidade. Os números mais antigos das Nicolinas vimaraneses como a entrada do pinheiro, as posses e o pregão comunitário, parecem remontar ao século XVII, tendo passado para a tutela dos liceais a partir de 1892. Tal facto faz das Nicolinas a segunda festividade académica mais original e ancestral de Portugal, logo a seguir à Queima das Fitas da Universidade de Coimbra.
Mais para o final do ano escolar, os estudantes de Liège realizam a "Saint-Toré", uma gandaia burlesca com simulação de pega de touro e cortejo alegórico remontante a 17 de Fevereiro de 1949. Esta realização entronca nas festas carnavalescas populares e na "mi-carême" que os estudantes franceses, belgas e portugueses das politécnicas de Lisboa e Porto promoviam desde a década de 1890. O culto do touro, que em Liège simboliza os estudantes, e em Coimbra os caloiros, remonta à pré-história. Muito diluído, o culto mantém-se em Coimbra nas latadas iniciáticas, e em ritos de passagem como a emancipação de caloiros e garraida da Queima das Fitas.

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