domingo, 2 de dezembro de 2007

A Laboral de Gijón
Contextualizando genericamente o modo como o regime franquista concebeu as instalações universitárias, podemos referir: 1) manutenção das infra-estruturas herdadas de épocas anteriores; 2) construção de cidades universitárias segundo o ideário do classicismo monumental totalitário então grassante em Itália e Portugal (caso de Coimbra), com radicações conhecidas no Brasil de Getúlio Vargas (projecto Campus de São Paulo). O exemplo melhor conhecido é o da Cidade Universitária de Madrid, pensada para realojar a Complutense, na altura imposta como uma mega instituição central que detinha o monopólio da concessão dos graus de doutoramento e das cerimónias honoris causa; 3) projectos destinados a "universidades laborais".
Nesta terceira via, posicionada entre a tentação pelo edifício "industrial" e o pavilhão revivalista, o primeiro grande exemplo que se conhece é o da Universidade Laboral de Gijón, edificada na costa das Astúrias entre meados da década de 1940 e os alvores do decénio seguinte. O arquitecto de serviço foi Luis Moya Blanco (1904-1990), um madrileno que também terá assinado projectos idênticos para Zamora (inaugurada em 1953). As "laborales" conheceram alguma expansão até à década de 1960, com implantações em Sevilla, Córdoba, Tarragona, Valencia, Las Palmas, Tenerife e Albacete.
Sendo monumental, as linhas de força do fazer arquitectura postas ao serviço das "laborais" não são propriamente neoclássicas. O que parecia estar em causa era a vontade de afirmação de um "vernáculo" de feição espanhola, prenhe de historicidade e de enraizamento etnológico, pelo que a opção de Franco/Moya Blanco recaiu na reciclagem do modelo Escurial do período filipino.
A Laboral de Gijón, com os seus pátios, igreja, torre sineira, teatro, ginásio, piscina, dormitórios, pavilhões de aulas e de pesquisa, oficinas, aponta para a urdidura de um microcosmo auto-suficiente, fechado sobre si próprio, virando costas às intempéries do mundo contemporâneo, num misto de catedral e de mosteiro da "contra-reforma".
As "laborales" não eram exactamente instituições superiores politécnicas. Escolas falangistas por excelência, destinadas a estudantes pobres e a filhos de trabalhadores, a gestão das "laborales" esteve próxima da esfera da Igreja Católica. O tipo de cursos ministrados - especializações de índole prática, mecânica e artesanal -, aproxima as "laborales" das portuguesas Escolas Comerciais e Industriais e das valências técnicas prestadas por instituições do tipo Casa Pia.
Este tipo de universidades tem merecido aprofundados estudos, destacando-se os assinados pelo especialista Ricardo Zafrilla Tobarra.

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