sábado, 18 de agosto de 2007


A Philosophia, Mátria do Conhecimento
Gravura renascentista alusiva às Sete Artes Liberais. A Philosophia, entronizada, distinguida com manto, tiara, livro e ceptro, alimenta e coordena todos os saberes que servem de esteio ao Trivium e ao Quadrivium.
Quem demorar os olhos na estatuária da fachada principal da Faculdade de Artes Liberais/Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (1951) depressa achará vestígios da tradição iconográfica medieval.
Não se sabe quem facultou ao escultor Barata Feyo as informações que conduziram à escolha das quatro estátuas: História (Tucídides), Filosofia (Aristóteles), Poesia (Safo), e Eloquência (Demóstenes). É possível que tenha sido Manuel Lopes de Almeida, mas não dispomos de dados confirmativos da intervenção daquele historiador e estadista.
A escolha e alinhamento das quatro figuras não constitui exemplo feliz, nem revela conhecimento bem fundamentado daquilo que fora a tradição iconográfica na Alma Mater Sudiorum Conimbrigensis. António de Vasconcelos, estudioso e profundo conhecedor destas matérias, teria seguramente enveredado por outro programa decorativo.
A Philosophia, pelo lugar central que ocupou desde a fundação da instituição, teria de figurar em lugar central e não lateral, como acontece naquele pátio. A escolha de Aristóteles afigura-se correcta.
A convocação de Tucídides para celebrar a História não é aceitável, uma vez que a alegoria correcta é a Musa Clio, tendo por atributos a coroa de louros, o clarim, a clépsidra, o rolo de papiro e a esfinge egípcia. Quando muito, o nome de Tucídides poderia ser epigraficamente inscrito na superfície do rolo de pergaminho de Clio!
A opção Safo, apesar das incursões de Rafaeal Sanzio na Stanza della Segnatura do Vaticano ("O Parnaso"), nã tinha eco na tradição coimbrã. A concretização de uma figura votada aos campos da poesia, literatura e talvez teatro, oferecia mais demorada e cuidadosa reflexão. Havia a tradição medieval da Gramática, a qual poderia ter sido modernizada, e as musas greco-romanas Érato e Calíope deveriam ser tido ponderadas. Um equivalente medieval deste micro-cosmo era Donato.
Por seu turno, a figuração plástica da Geografia ficou no esquecimento e a Música - esta com formulação artística desde o período medieval -, não foi sequer abordada.
Quanto à Eloquência, embora a opção Demóstenes seja convidativa, é bem de ver que se passou sem reflexão sobre as tradições multisseculares da Dialéctica e da Retórica. A figura histórica masculina mais solicitada no Ocidente nesta matéria era Marcus Tullius Cicero (384-322 A.C.) e não o grego Demóstenes

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